sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quando o telefone toca

A controvérsia do dia tem a ver com um novo anúncio da campanha de Hillary Clinton, que deixa no ar a pergunta: quando às três da manhã, tocar o telefone por causa de uma crise mundial, quem é que os americanos acham que deve estar na Sala Oval para atender? As imagens não são nem da Casa Branca nem de bombas a rebentar num qualquer cenário longínquo; mostram isso sim várias crianças a dormir, com a tranquilidade e inocência própria das crianças, e no final uma fotografia de Hillary ao telefone, iluminada por um candeeiro num escritório escuro. A ideia é reforçar a percepção de Hillary como a presidente incansável, que tem a experiência do mundo mas não deixa de estudar os dossiers. O objectivo: arrasar o adversário, com a sugestão de que este nunca foi testado sob pressão e não sabe o suficiente sobre política externa para poder estar do outro lado da linha -- especialmente quando o que toca é o telefone vermelho.
O Wall Street Journal classificou o anúncio como "a maior provocação desta campanha eleitoral", e comparou-o mesmo ao apocalíptico "Daisy", que o democrata Lyndon Johnson usou contra Barry Goldwater nas presidenciais de 1964, e que sugeria que o mundo iria explodir num gigantesco cogumelo nuclear se o republicano ganhasse as eleições. Foi, até agora, o ataque mais duro contra Obama, e (ao contrário do que tem acontecido) não ficou sem resposta. O candidato lamentou que a sua opositora quisesse recorrer às tácticas do medo, e contra-atacou dizendo que Hillary já teve o seu "momento de telefone vermelho", quando apoiou a decisão de George W. Bush de invadir o Iraque (e também o republicano John McCain). "A questão não é atender o telefone, a questão é o discernimento de quem atende o telefone", frisou.
Obama pode não ter gostado do anúncio, mas como avisou o The New York Times, o beliscão de Hillary não foi nada comparado com o que vem a seguir...

p.s. pela conversa da campanha Clinton, dá ideia que não vai ser muito bonito.

A presidência de John McCain pode ser inconstitucional


Esta é uma história provavelmente irrelevante - mas, num país obcecado por minudências processuais e onde se corre para os tribunais por tudo e por nada, pode ainda dar que falar.

A biografia de John McCain é longa, tumultuosa e cheia de pormenores fascinantes. A começar logo pelo seu local de nascimento; McCain nasceu numa base militar americana no Canal do Panamá, onde o pai (militar) estava estacionado, em 1936.

Ora, a Constituição americana estipula o seguinte, entre os critérios de eligibilidade para a presidência:


No person except a natural born citizen, or a citizen of the United States, at the time of the adoption of this Constitution, shall be eligible to the office of President


Este artigo significa, em princípio, que políticos americanos como Arnold Schwarzenegger (governador da Califórnia), Madeleine Albright (ex-secretária de Estado) ou Jennifer Granholm (governadora do Michigan) não podem ser eleitos para a presidência - todos nasceram em outros países (Schwarzenegger na Áustria, Albright na República Checa, Granholm no Canadá), e só se tornaram cidadãos americanos mais tarde.

Evidentemente, esse não é o caso de McCain. Embora tenha nascido fora dos Estados Unidos, sempre teve cidadania americana.

Ou será que?.... Este longo artigo do New York Times analisa a letra e o espírito da lei, cita precedentes e opiniões de juristas.

A conclusão: em princípio, é perfeitamene legal McCain ser Presidente. No entanto, nota uma jurista citado ao fim do artigo: "Esta não é uma questão frívola."

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Buckley e as eleições

William Buckley, um dos ideólogos mais importantes da direita americana no último meio século, morreu ontem. O (longo) obituário do New York Times explica bem a sua influência nos meios intelectuais e políticos dos EUA.

Buckley será sempre associado à revista que criou, a National Review - fórum de discussão central entre os intelectuais de direita dos EUA, que teve um papel crucial na emergência dos "neoconservadores".

O último artigo publicado por Buckley na National Review, a 2 de Fevereiro, era sobre a corrida presidencial - uma análise semiótica de um debate televisivo entre Hillary Clinton e Barack Obama.

É oficial:

Michael Bloomberg não é candidato à presidência dos Estados Unidos.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O homem dos super-slogans e das micro-tendências

Barack Obama pode estar "fired up!", mas Hillary Clinton está "ready on day one". Esse é o slogan mais reconhecível da sua campanha, destinado a resumir a sua mensagem de experiência, competência. O seu autor, Mark Penn, é um dos membros mais antigos e leais da selecta entourage Clinton — uma espécie de imagem do espelho daquilo que Karl Rove é para os Bush — e o principal consultor, conselheiro e estratega da candidatura presidencial de Hillary.
O inventor da "micro-campanha" de Clinton explica, nesta entrevista ao The New York Observer, como o que esteve errado na candidatura da senadora de Nova Iorque não foi a mensagem — "Ready for change and ready to lead" — mas antes a organização (que, coincidência ou talvez não, cai fora da esfera estrita das suas responsabilidades). "Desde o princípio ela foi capaz de construir uma larga coligação [de eleitores], que a carregaram até à Super Tuesday. Só que de então para cá houve um período em que a campanha não teve recursos para jogar decisivamente nos estados em que estava a competir", desculpou-se.
Ao mesmo tempo que garante que assumirá as responsabilidades se a campanha de Clinton fracassar, Penn (cuja empresa já cobrou mais de dez milhões de dólares de custos de sondagens e assessoria para a candidatura) não deixa de sacudir alguma água do capote, por exemplo por a senadora não ter seguido o seu conselho e anulado Barack Obama quando ele estava mais frágil, logo no início da corrida. Em vez da "hardball campaign" preconizada por Penn, Hillary jogou à defensiva, mostrou um ar mais vulnerável (alguns dizem humano) e agora a agressividade com que ataca Obama já não resulta bem perante o tom quase majestoso do seu opositor.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Bloco de notas

- Depois do turbante, o Hussein: o candidato republicano John McCain pediu desculpa e repudiou veementemente um apoiante da sua campanha, que durante um comício no Ohio repetidamente se referiu a Barack Obama usando o seu nome do meio Hussein e classificou o senador do Illinois como um rufia "ao estilo de Chicago".

- Apoio islâmico: o timing não podia ser pior, mas os acasos fazem parte das campanhas eleitorais. O líder da Nação do Islão, Louis Farrakhan, discursando numa convenção em Chicago, disse que Obama representa a "esperança do mundo inteiro de que a América mude para melhor". Obama denunciou várias vezes as posições anti-semitas da organização de Farrakhan, e distanciou-se das suas declarações, e garantiu nunca ter solicitado o seu apoio.

Na primária do dinheiro, os democratas estão muito à frente

No sistema político americano, a capacidade de angariação de financiamentos tem um papel crucial na viabilidade de um movimento político. Não ganha sempre quem tem mais dinheiro, mas é importante estar bem financiado.

No sistema político americano, as regras de doações são muito claras (embora possam ser contornadas), e as informações sobre quem dá dinheiro a quem são públicas.

É possível saber as doações de indivíduos, regiões, empresas, etc., através de sites como o Fundrace; e sites como o inestimável OpenSecrets publicam regularmente dados agregados.

Os dados que se seguem são todos do Open Secrets (que, por sua vez, os obtém da Comissão Federal de Eleições).

Primeiro dado: os democratas estão a angariar mais dinheiro. No dinheiro doado aos comités dos partidos (isto é, não a um candidato específico), os democratas receberam 257 milhões de dólares contra 244 milhões para os republicanos.

Nas doações a candidatos, a vantagem democrata é maior: 375 milhões de dólares para candidatos democratas, um pouco acima de 300 milhões para os republicanos.

Os números revelam ainda que os candidatos mais bem financiados são dois democratas: Barack Obama é o "campeão", angariou até agora (os dados são relativos a reportes feitos a 20 de Fevereiro) 138 milhões de dólares; Hillary Clinton vem logo atrás, com 134 milhões.

Do lado republicano, Mitt Romney é de longe o mais "endinheirado" - a sua campanha tinha 105 milhões de dólares (mesmo assim bastante longe de Clinton e Obama); é preciso notar que Romney investiu grande parte deste momento do seu próprio bolso.

John McCain fica-se por 53 milhões de dólares; entre os principais candidatos, Mike Huckabee é o mais "pobrezinho" - 12 milhões de dólares.

As diferenças entre democratas e republicanos podem não parecer muito substanciais (é possível que sejam maiores - os números do OpenSecrets não incluem as 527, organizações "independentes" que financiam propaganda de forma autónoma e que, em 2004, apoiaram mais o lado democrata). Mas é uma inversão total da lógica da angariação de fundos; tradicionalmente, os republicanos "esmagavam" a oposição em termos de dinheiro.

Os republicanos costumam angariar mais fundos porque são o partido com laços mais próximos aos meios empresariais; os democratas recebem mais dinheiro de profissões liberais (especialmente advogados) e de sindicatos. Como os primeiros têm mais dinheiro que os segundos, normalmente eram os republicanos quem apresentava contas mais robustas.

Porque é que não está a ser assim este ano? Por um lado, os republicanos não podem contar com a "máquina Bush" - uma eficaz rede de contactos a nível nacional construída pelo actual Presidente, que nos últimos quatro ciclos eleitorais (2000, 2002, 2004 e 2006) bateu recordes no financiamento das campanhas do próprio Bush e de outros republicanos.

Por outro lado, é razoável especular que os eleitores democratas estarão mais motivados que os republicanos pela perspectiva do fim da era Bush.

A actual situação tem uma implicação adicional interessante. Normalmente eram os candidatos democratas que mais exigiam alterações ao sistema de financiamento político, queixando-se do excesso de dinheiro nas campanhas americanas; será que este ano, em que o seu candidato à presidência estará mais bem financiado, também o irão fazer?

Ainda para mais, o favorito à nomeação republicana é John McCain; uma das bandeiras políticas do senador do Arizona é precisamente a reforma do financiamento das campanhas eleitorais. McCain foi o co-autor (com o democrata Russ Feingold) das leis McCain/Feingold.

O turbante de Obama

Já escrevemos sobre a fotografia de Obama durante uma visita ao Quénia, em que ele aparece em trajes tradicionais quenianos.

Este link para um artigo no Drudge Report mostra a fotografia. Na foto, Obama tem uma espécie de avental e um turbante; a sua divulgação pode ser vista como uma manobra para tentar propagar o mito de que Obama é na verdade um "muçulmano disfarçado" (na verdade, é um cristão unitário).

Ora, Matt Drudge faz saber que a foto foi "posta a circular por funcionários stressados da campanha Clinton". A imagem foi interpretada como um golpe de campanha suja, uma tentativa de uma cada vez mais desesperada campanha Clinton de travar o "furacão Obama".

A própria Hillary Clinton disse não saber nada do assunto, e acusou Obama de inventar pretextos para não falar dos assuntos importantes.

Os adeptos de Clinton colocam assim uma hipótese bastante maquiavélica: que a foto foi divulgada por adversários de Hillary (ou pela própria campanha de Obama) para, assim, poderem atacar a senadora nova-iorquina, acusando-a de desespero e de tácticas de campanha "rovianas".

Rebuscado? Há um dado relevante a acrescentar. O primeiro site a apresentar a fotografia foi o Drudge Report, de Matt Drudge. O nome pode ser-lhe familiar; Drudge tornou-se famoso nos anos 90 porque o seu site esteve na crista da onda da cobertura do "caso Lewinsky".

Matt Drudge era dos mais acérrimos oponentes de Bill Clinton e da sua mulher. Um artigo do New York Times em Outubro sugeriu que havia um "degelo" entre Drudge e os Clintons; mas esse degelo, se existiu, foi muito curto. Nos últimos meses, o Drudge Report voltou à sua "programação normal" anti-Clinton.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

McCain depende do Iraque

Todos os dias John McCain fala da guerra do Iraque, de como é fundamental para os interesses americanos e para a estabilização do Médio Oriente continuar o combate naquele país e alcançar o sucesso na missão -- mesmo que isso implique manter uma presença militar naquele país por um período de cem anos.
McCain também fala na sua crítica original à estratégia de Rumsfeld e no seu forte apoio à estratégia do reforço das tropas atribuídas há um ano ao general Petraeus — "o verdadeiro homem do ano" — e que, segundo o candidato, está a revelar-se um sucesso.
Claro que com os candidatos democratas a prometerem a retirada das tropas, e a opinião pública americana tão fortemente contrária ao prolongamento da intervenção, todos os dias McCain tenta evitar as perguntas dos jornalistas, que querem saber o que acontecerá à sua candidatura se até Novembro não conseguir provar a sua tese e a situação no Iraque estiver de facto melhor.
"Nesse caso, perco as eleições", admitiu (surpreendentemente) o candidato.

Os anúncios negativos são mais eficazes

Na escalada retórica entre as campanhas de Hillary Clinton e Barack Obama, mais um caso: a divulgação de uma fotografia de Obama envergando umas vestes tradicionais durante a sua mediática visita ao Quénia (de onde era natural o seu pai). O candidato não parece muito confortável no seu papel de modelo, mas também não é preciso correr para ir buscar a "fashion-police". O que interessa no retrato é a espécie de turbante que tapa o cucuruto de Obama, e que será o suficiente para ressuscitar os rumores da sua secreta afiliação ao islamismo.
Aparentemente, a imagem foi posta a circular pela campanha de Hillary Clinton, e de imediato chegou ao explosivo Drudge Report -- o suficiente para começarem a tocar os telefones e a correr a tinta.
Um estudo das Universidade de Notre Dame e do Texas — que será publicado na edição de Abril do académico Journal of Consumer Research — demonstra que os eleitores mais jovens (18 a 23 anos), são mais sensíveis aos anúncios negativos do que aos positivos, e que os primeiros são mais eficazes do que os segundos na influência que exercem sobre o comportamento dos eleitores, quer conduzindo à mudança do seu sentido de voto ou solidificando o seu apoio por um determinado candidato.
O estudo foi conduzido durante a campanha de 2004 com um grupo de indivíduos entre os 18 e os 24 anos que frequentavam o ensino superior e estavam registados para votar nas eleições presidenciais. Os participantes tinham que definir a sua tendência de voto num ou outro candidato segundo uma escala : definitivamente (Bush ou Kerry), muito provavelmente, inclinado para..., e indeciso. Depois, eram convidados a assistir a quatro anúncios das respectivas campanhas. Os investigadores registavam as suas percepções e reacções, e no final os inquiridos reavaliavam a sua preferência eleitoral anteriormente manifestada.
Os resultados indicaram que os anúncios negativos eram significativamente mais persuasivos do que os positivos. E curiosamente, quando confrontados com um anúncio negativo a atacar um candidato, as opiniões dividiam-se igualmente entre aqueles que se sentiam mais incentivados a apoiar aquele que estava a ser criticado (14 por cento) e os que mudavam de ideias e se passavam para o lado daquele que criticava (também 14 por cento).
A conclusão, segundo os responsáveis pelo estudo, é que "tal como nos estudos comparativos de marketing e publicidade, em que os consumidores dizem não gostar ou não acreditar em anúncios negativos, eles acabam por influenciar decisivamente as suas escolhas. Os anúncios que os consumidores ou os eleitores percebem como negativos têm sempre um custo potencial. Mas, ao mesmo tempo, têm o potencial de mudar a preferência ou o comportamento e assim beneficiar o anunciante".

John McCain e o New York Times



No final da semana passada, o New York Times publicou um artigo sobre a relação entre John McCain e uma "lobbyista" do sector das telecomunicações.

O artigo é ostensivamente sobre o currículo de McCain nos seus laços com "lobbyistas"; é uma investigação à reputação de McCain enquanto "straight talker" que não se deixa influenciar por poderes instalados.

No entanto, o artigo cita "assessores" e apoiantes anónimos de McCain, e as suas preocupações de que a relação entre o senador do Arizona e a "lobbyista" Vicki Iseman pudesse ter-se tornado "romântico".

E foi esta parte que desencadeou uma tempestade. Essa tempestade começa no próprio Times, que abriu as suas páginas para a correspondência e para comentários online dos seus leitores sobre o artigo. O "public editor" (equivalente ao provedor dos leitores) do Times também se pronunciou.

O debate à volta do artigo do Times é complexo. Michael Kinsley, neste artigo no Washington Post, nota quão complexo:

O Times deixou claro que o seu artigo não era sobre um affair [entre McCain] e uma lobbyista. O artigo era sobre a possibilidade de, há oito anos, assessores de McCain terem tido reuniões com ele para o avisar sobre as aparências de que ele poderia estar a ter um affair com a lobbyista.

Confuso? A paisagem mediática do "24-hour news cycle" não se presta a complexidades.

Há, à esquerda e à direita, tentativas de analisar o artigo pelos seus méritos; mas as respostas mais frequentes são, à esquerda, que o "escândalo" é o "princípio do fim" para McCain; ou então, à direita, que é o "princípio do fim" para o New York Times.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Nader candidato

Ralph Nader vai mesmo ser candidato à presidência este ano também. 


Esta é a quinta vez que Nader se candidata à presidência. Em 2000, quando Gore e Bush acabaram quase empatados, Nader teve uma votação marginal (2,74 por cento), mas suficiente para ser considerado por muitos democratas como o "culpado" pela vitória de Bush. 

Nader sempre recusou essa lógica - e recandidatou-se em 2004, mas desta vez teve muito menos apoio (apenas 0,38 por cento dos votos).

É improvável que Nader tenha qualquer influência este ano. Será essencialmente mais uma oportunidade para fazer ouvir a sua mensagem política.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Os riscos da estratégia de Clinton

Numa conference-call no início desta semana, os três principais conselheiros de Hillary Clinton — Mark Penn, Harold Ickes e Howard Wolfson — explicaram aos jornalistas a estratégia da senadora de Nova Iorque para contrariar o "momentum" de Obama e ressuscitar a sua campanha a partir das vitórias no Texas e Ohio. O plano de recuperação pode-se resumir em seis pontos:
1. Nenhum candidato vai conseguir 2025 delegados nas primárias e caucus e por isso serão os superdelegados a decidir;
2. Duas semanas são uma eternidade numa campanha eleitoral;
3. Os debates mudam a dinâmica da corrida;
4. O estatuto de favorito de Barack Obama implica um maior escrutínio da sua candidatura por parte dos media;
5. John McCain vai querer marcar a agenda para que o grandes temas da campanha sejam a segurança nacional e o combate ao terrorismo;
6. Os estados grandes interessam muito mais do que os pequenos.
Na verdade, não é nada de muito novo. Surpreendentemente, a campanha de Hillary insiste na mesma estratégia que se revelou desastrosa depois da Super Tuesday -- e isto apesar das insistentes questões dos jornalistas, que queriam saber se a candidata ia reformular a sua mensagem ou somente a sua imagem (pelos vistos, já todos se esqueceram do New Hampshire...). Os riscos para Hillary são enormes:
1. A senadora lidera na contagem dos superdelegados, mas pelo menos metade desta elite de eleitores da convenção ainda não indicou o seu sentido de voto. Além disso, os que já o fizeram são livres de mudar de ideias a qualquer momento, e é previsível que se passem rapidamente para o campo de Obama se o candidato continuar a acumular vitórias e a esmagar na votação popular;
2. Bastarão as duas semanas que faltam para o Texas e Ohio para fazer esquecer um mês de derrotas consecutivas? É discutível. Até agora, o factor tempo tem funcionado contra Hillary e vindo a favorecer Barack Obama, que quanto mais se dá a conhecer aos eleitores mais adesão suscita à sua campanha;
3. Hillary é melhor nos debates, mas como se provou ontem à noite, a candidata está de mãos atadas: não pode atacar agressivamente o seu adversário, porque as audiências reagem mal a campanhas pela negativa e porque estaria a fornecer munições aos republicanos. E com apenas mais um debate no horizonte, a candidata não pode simplesmente confiar que Obama se espalhe ao comprido...;
4. É inevitável que a paixão da imprensa com Barack Obama arrefeça, mas por enquanto ainda não começaram a sair notícias que ponham em causa a credibilidade do candidato. Também os ataques de John McCain parecem servir pouco para a causa de Hillary;
5. A guerra do Iraque e a segurança nacional são os assuntos em que Barack Obama mais se pode diferenciar do seu adversário John McCain. Hillary tem um registo muito problemático de votações no Senado — a favor da invasão do Iraque, a favor da hostilização do Irão... —, que vão contra o sentimento dominante entre o eleitorado democrata;
6. Até agora deu mau resultado ignorar os estados pequenos, e a táctica nem faz muito sentido neste momento em que se luta por cada delegado. Mas há outra coisa: o que acontece se Obama ganha os estados grandes?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Si se puede => Yes we can => Sim nós podemos

César Chávez foi um sindicalista americano de ascendência mexicana com um papel histórico de grande importância na luta dos trabalhadoras agrícolas dos EUA.

É considerado uma figura central no sindicalismo americano e na luta pelos direitos da comunidade hispano-americana. Tornou-se famoso especialmente por cunhar um "slogan" de protesto, que ainda hoje é uma palavra de ordem comum em manifestações da comunidade hispânica dos EUA:


"Si se puede!"

...o que, traduzido à letra, significa "sim, é possível". Os americanos preferem contudo traduzir a frase de Chávez de outra forma. A expressão na sua versão em inglês foi adoptada por Barack Obama já em 2004.

Na actual campanha presidencial, a palavra mais usada por Obama é "change", mas o seu "slogan" mais popular - que simboliza a mensagem de optimismo que é central na sua campanha - é:

"Yes we can!"

Ora, a campanha de Barack Obama está a ter repercussões não apenas nos EUA mas também no resto do mundo. O êxito até agora obtido pelo senador do Illinois irá inevitavelmente influenciar os políticos europeus, pelo menos na sua linguagem. Exemplo? Aqui em Portugal, já se ouviu um...

"Sim, nós podemos!"

Hillary explica

Num email intitulado "O que é preciso para vencer no Texas e no Ohio", Hillary Clinton explica aos seus apoiantes que a derrota no Wisconsin se ficou a dever à falta de dinheiro:

"Dear Xxxx,

Here's what you need to know this morning. We were outspent in Wisconsin by a 4 to 1 margin on ads -- and we can't let that happen on March 4.

If we want to win in Texas, Ohio, Rhode Island, and Vermont, we've got to even the odds. We can't let the Obama campaign overwhelm us financially. Today, I am calling on you and other online supporters to act together, making sure we have the resources to create a fair, level playing field on March 4.

In the last few weeks, thousands upon thousands of people have contributed to my campaign. With so many people acting together, any donation you make today -- even as little as $5 -- makes a difference.

Contribute $5 now to help us level the playing field.

Let this remarkable two-person contest for the Democratic nomination be determined by the strength of our ideas, the quality of our leadership, or the depth of our experience. But whatever you do, don't let the outcome of these crucial March 4 contests be decided by a lopsided spending advantage for the Obama campaign.

Only you -- our incredible online community -- can act quickly and decisively enough to create a level playing field. And with everything on the line, that's exactly what I'm asking you to do.

We're putting everything on the line. Contribute $5 now.

There are just two weeks left before voters go to the polls in one of the most crucial days of voting yet. We must make sure we can hold our own against an avalanche of Obama TV ads, direct mail, phone calls, and online advertising.

I have total confidence that, as long as we have the resources to compete, March 4 will be a day of dramatic victories for our campaign. Let's make it happen.

Thanks,

Hillary Rodham Clinton

P.S. I am counting on your leadership and financial support. Please do all you can -- and act as quickly as possible."

Precisando desesperadamente de ganhar as próximas primárias, percebe-se que a campanha esteja a dramatizar os apelos para os seus contribuintes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A "Obamamania"

[post que não tendo absolutamente nada a ver com o anterior, não deixa de ser inspirado no que o Pedro escreveu abaixo]

Ontem à noite estive na Politics and Prose, uma dessas livrarias que só parece fazer sentido numa cidade como Washington DC e que tem um programa tão intenso de eventos e iniciativas que participar em todas é quase um emprego a tempo inteiro. O convite era para o lançamento do livro "Chasing the Flame: Sérgio Vieira de Mello and the Fight to Save the World", uma biografia do diplomata brasileiro que é simultaneamente uma narrativa sobre alguns dos mais complexos conflitos do final do século XX e ainda uma reflexão sobre o papel e relevância de organizações multilaterais na era globalizada das relações internacionais.
Nunca tinha visto aquela livraria tão cheia: estava a abarrotar de gente -- aliás, quando entrei, havia já alguns desistentes a avisar que "é completamente impossível arranjar um lugar... boa sorte!". Fiquei impressionada com esta sempre surpreendente população de Washington, mas bastaram trinta segundos para perceber que a razão daquela afluência recorde não tinha nada a ver com o sujeito do livro em debate, antes a sua autora, Samantha Power, e ainda mais a pessoa com quem ela trabalhou directamente até ao ano passado: Barack Obama. Aí estava eu, mais uma vez apanhada pela "Obamamania" que já tinha testemunhado noutras ocasiões.
Samantha Power é uma figura interessante e polémica, professora, activista, jornalista, ensaísta e, agora, conselheira principal de Barack Obama para as questões de política externa. A sua "especialidade" são os direitos humanos e o genocídio; ontem foi capaz de responder sem levantar o sobrolho a um interlocutor da plateia que se apresentou com um "boa noite" em sérvio e não se esqueceu de cumprir a sua função de interlocutora da causa do Darfur, solicitando à vasta audiência que se deslocasse até uma mesinha estrategicamente instalada junto à porta da livraria para deixar uma contribuição.
Assoberbada pelo entusiasmo da multidão, Power limitou-se a uma curta apresentação da obra, durante a qual falou quase tanto de Vieira de Mello quanto de Barack Obama. E quando começou o período de perguntas e respostas, foi claro ao que tinha ido toda aquela gente: "Qual acha que seria o conselho do senhor Vieira de Mello a Barack Obama para a guerra do Iraque?". Depois, foi por aí fora -- qual a opinião do senador relativamente ao processo de Annapolis e como se pode resolver a crise do Médio Oriente; quais as lições que o candidato pode retirar dos falhanços diplomáticos americanos do passado; qual será a resposta de Obama às acusações de John McCain...
No final, enquanto a multidão se reorganizava disciplinadamente numa fila (que dava várias voltas à livraria) para ir buscar um autógrafo, percebi que nenhum dos repórteres que reconheci na sala pareciam ter a paciência necessária para esperar e tentar falar com a autora. Pareceu-me a melhor decisão. No parque de estacionamento, não havia um único Toyota Prius que não tivesse o autocolante de Obama. E não havia um único lugar vago.

2004: o início do fenómeno Obama


A primeira vez que ouvi Barack Obama discursar foi na convenção democrata de 2004.

Já nessa altura, Obama não era bem um desconhecido. Era um jovem (relativamente - tinha 42 anos) político do Illinois em ascensão; despertava muito interesse da classe política americana, porque tinha reputação de eloquência e seriedade, e porque era um político negro que não vinha dos meios tradicionais da comunidade afro-americana (como Jesse Jackson ou Al Sharpton).

Era visto como uma potencial "estrela", ao ponto de ser convidado para fazer o discurso "keynote" da convenção. Concorria ao Senado por um estado importante, para um cargo na altura ocupado por um republicano.

Obama não era um desconhecido - mas a convenção de 2004 foi a sua estreia no palco político nacional. Foi uma estreia auspiciosa.
Lembro-me de ter pensado que Obama começou titubeante, mas encontrou a sua voz e acabou por conquistar a plateia de Boston.

Lembro-me de ficar impressionado com o carisma de Obama. Do que não me lembrava era do que ele tinha dito; tive de ir reler o texto do seu discurso.

O discurso não tem nada de muito surpreendente. Obama reafirmou o que era a mensagem democrata em 2004: promessas proteccionistas do lado económico, críticas ao "divisionismo" de Bush, garantias de que a experiência de John Kerry fazia dele o melhor candidato para "manter a América segura".

Para além disso, Obama disse em 2004 muito do que está a dizer na actual campanha: contou a sua história pessoal, apresentando-a como um símbolo das possibilidades que a América oferece, insistiu na ideia de esperança.

Usou muitas vezes a palavra "hope", usou mesmo a expressão "the audacity of hope" ("a audácia da esperança"), que viria a ser o título do livro publicado dois anos mais tarde que serviu de manifesto para a sua campanha presidencial.

Isto foi há quatro anos. Nessa altura, as atenções na América e no resto do mundo estavam centradas no combate Bush-Kerry. Mas o discurso de Obama foi um ponto de partida; foi uma entrada triunfante na cena política nacional dos EUA.

Poucos meses depois, Obama triunfou na corrida ao senado do Illinois (muito mais facilmente do que se esperava, em parte porque os seus adversários republicanos se autodestruíram). Em 2006, avançou com a sua candidatura à presidência.

No ano passado, começou a afirmar-se como a grande alternativa à então favorita Hillary Clinton. Agora, parece muito perto de conquistar a nomeação.

Teresa de Sousa escreve hoje no PÚBLICO sobre as origens e as consequências do fenómeno Obama:

Ele é, claro, a face de uma América que toda a gente ama e com a qual toda a gente sonha
Em 2004, já havia muitas expectativas à volta de Barack Obama. Mas poucos esperavam que se concretizassem tão cedo.

Lembro-me de, há quatro anos em Boston, ter pensado: este homem há-de ser candidato à presidência em 2012 ou 2016. Afinal, parece que vai ser já.

Hillary está mesmo em apuros


Escrevíamos ontem que Hillary Clinton precisava de um resultado pelo menos "airoso" no Wisconsin para manter uma esperança razoável na corrida pela nomeação democrata. Não conseguiu; a sua candidatura está em crise.
Hillary perdeu no Wisconsin por uma margem bastante grande - quase 20 pontos. No estado do Havai, mais pequeno, a diferença foi ainda maior.
Pior: Barack Obama não só está a ganhar, está a ganhar com uma votação forte em todos os grupos demográficos.
Ora, a situação de Hillary em termos de delegados não é má; seja qual for o método de contagem usado, a vantagem de Obama é ainda muito pequena. Em teoria, vitórias de Hillary no Texas e no Ohio e, mais tarde, na Pensilvânia, poderia inverter a situação a seu favor.
O problema para Hillary é que a campanha deixou outra vez de estar centrada na contagem de delegados; o que conta é o "momentum", a impressão de quem vai à frente, de quem gera consensos. E o "momentum" está todo com Obama. Ao ponto de incidentes como este não terem qualquer influência na campanha.
O que resta a Hillary? Chamavam a Bill Clinton o "comeback kid", por conseguir várias vezes regressar ao topo depois de o darem como derrotado (no Arkansas, na campanha de 92, no "impeachment"). Mas é muito improvável um "comeback" para Hillary.

Hillary e a inevitabilidade

Desde o momento em que apresentou a candidatura que a campanha de Hillary Clinton assentou na ideia de que a senadora e antiga Primeira-Dama seria inevitavelmente a nomeada democrata para a corrida à Casa Branca. É certo que nos meses seguintes a candidata procurou caracterizar-se como a mais experiente, mais competente e mais resistente entre todos os concorrentes do seu partido. Mas por trás desse esforço estava a crença arreigada de que quem à partida carrega o establishment democrata é não só o candidato mais formidável, é também o imbatível.
Esse poderá ter sido o erro crucial de Hillary Clinton, da sua campanha e batalhão de assessores. Foi por causa dessa inevitabilidade que se prepararam para uma campanha curta e com uma única mensagem. Que não montaram uma organização verdadeiramente nacional porque não havia ninguém na América que não soubesse quem era Hillary e o que ela representava. E, já agora, que apostaram na nostalgia da Administração Clinton para emocionar os eleitores.
Ao fim de dois meses de campanha pura e dura, não deve haver ninguém que não esteja surpreendido e chocado. Porque, afinal, Hillary não é uma candidata temível, nem formidável e muito menos imbatível. Afinal, a poderosa máquina Clinton tem muitas pedras na engrenagem: está desafinada, desorganizada, incompleta. Afinal, a pedagogia da senadora não entusiasma as audiências, e o seu conhecimento enciclopédico dos dossiers e meandros de Washington, com que pretendia marcar o contraste para o seu adversário, só vêm lembrar os eleitores como não é ela quem personifica a mudança ou a diferença em relação ao passado. Afinal, os eleitores dos pequenos estados contam tanto como os dos grandes, e — lição muito importante — não gostam de ser desprezados ou menorizados.
Com a pesada derrota do Wisconsin desta noite, a aura de inevitabilidade de Hillary dissipou-se por completo. Dissipou-se não, extingiu-se -- ao ponto de os comentadores dizerem que na nova situação em que Obama se encontra, o seu desafio já não é ganhar a nomeação, é perdê-la.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Read my lips







"No new taxes"

Foi o que John McCain disse.

Campanha de Giuliani preocupada com buraco financeiro

"Estamos num buraco [financeiro] bem maior do que imaginávamos", desabafou ao jornal The New York Times John Gross, o director contabilístico da campanha presidencial de Rudy Giuliani. A equipa do ex-mayor de Nova Iorque está a ultimar o obrigatório relatório para a Federal Electoral Commission, e já fez saber que terá de recorrer ao crédito bancário para honrar alguns pagamentos aos credores. No final de Janeiro, que foi quando Giuliani pôs fim à sua candidatura, a sua campanha dispunha de nove milhões de dólares no cofre (alguns dos quais reservados para a futura campanha de Novembro que nunca chegará a acontecer), mas já acusava dois milhões de dólares em dívidas.
A existência de défices contabilísticos nas campanhas eleitorais é quase uma banalidade, e a notícia das dívidas de Giuliani nem sequer teria "picante" não fossem alguns dos detalhes das suas despesas pessoais. Como os outros candidatos, o antigo mayor viajava ou de jacto privado (mais de 565 mil dólares) ou em voos charter especificamente fretados para a sua campanha (800 mil dólares).
Mas ao contrário dos seus adversários, Giuliani tinha uma predilecção muito particular em termos de alojamento: só pernoitava em estabelecimentos de luxo. A lista é extensa -- e aqui ficam apenas alguns exemplos: o Greenbrier Hotel de White Sulphur Springs, na Virginia Ocidental (2000 dólares por noite); o La Costa Resort and Spa de Carlsbad, Califórnia (4000 dólares por noite); o famoso Fairmont Hotel de San Francisco (5400 dólares por noite) e o magnífico Wentworth by the Sea Resort de Portsmouth, no New Hampshire (vejam as vistas e digam se não foi dinheiro bem gasto!)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O programa de amanhã: Wisconsin, Havai... Washington?!?

A corrida republicana está mais ou menos resolvida, a corrida democrata não se resolverá antes da "mini-terça-feira" de 4 de Março, quando votam os "super-estados" Ohio e Texas.

Mesmo assim, amanhã há eleições; sobretudo no estado do Wisconsin, está muito em jogo. Para Hillary Clinton, não é obrigatório um triunfo no Wisconsin - mas é vital pelo menos conseguir um resultado "airoso", para manter as expectativas de superar Barack Obama na "mini-terça-feira". Um novo revés por uma diferença muito alargada pode ser fatal para a sua campanha.

Do lado republicano, John McCain quer uma vitória expressiva no Wisconsin, que demonstre que o partido está claramente do seu lado; se Huckabee voltar a obter um resultado na ordem dos 40, 45 por cento (ou mais ainda se ganhar), McCain terá de continuar a tentar fazer as pazes com a ala mais conservadora do partido.

Eis o "programa" de terça-feira:

Wisconsin

Delegados em jogo

40 republicanos, 92 democratas

Quem é esta gente?

Um estado sui generis, com reputação de "pensar pela sua cabeça" - não faz parte da América "azul" nem "vermelha", tanto vota democrata como republicano (nas últimas duas presidenciais, ganharam os democratas mas por margens muito curtas). Culturalmente, é um estado do Midwest, rural mas não conservador; demograficamente, é relativamente homogéneo, com pouco peso de minorias étnicas. As principais cidades (Milwaukee e Madison) são mais "liberais" que as áreas rurais; estado muito conhecido nos EUA pelo seu queijo.

A corrida republicana

McCain deve ganhar, a única questão é saber por quanto; a direita religiosa em que Huckabee se apoia não é muito representativa no Wisconsin.

A corrida democrata

Não há muitos negros, há muitos brancos de classe média-baixa, vota-se em primária e não em "caucus"; o Wisconsin pode parecer à partida um estado mais favorável a Hillary, mas na verdade todos esperam um triunfo de Obama. Primeiro, porque Obama tem tido resultados excelentes nos estados do Midwest (ganhou-os todos, excepto o Michigan, onde a corrida não foi bem a sério); segundo, porque Obama é senador do Illinois, estado vizinho e muito próximo culturalmente do Wisconsin.

O que dizem as sondagens

McCain com 20 pontos ou mais de vantagem; Obama à frente, mas por uma margem relativamente curta sobre Hillary, e muitos indecisos do lado democrata.

Havai

Delegados em jogo

29 democratas

Quem é esta gente?

Aloha! Um arquipélago no Pacífico, último dos 50 Estados Unidos a aderir à União (entrou em 1959); a sua grande indústria é o turismo, a sua população (pouco mais de um milhão de pessoas) é muito diversificada etnicamente. A enorme distância geográfica em relação ao continente americano faz do Havai um estado muito diferente dos outros 49 em termos culturais.

A corrida democrata

Deve ganhar Obama. O Havai vota em "caucus", e Obama nasceu aqui. O Havai fica tão longe que os candidatos praticamente ignoraram o estado - embora Chelsea Clinton, filha de Hillary, tenha feito uma visita esta semana.

O que dizem as sondagens

Não foi possível encontrar sondagens para o Havai

Washington

Delegados em jogo

Nenhum do lado democrata, 20 do lado republicano

Como assim nenhum? E então Washington não tinha votado já?

O estado de Washington já votou - em "caucuses", que se realizaram a 9 de Fevereiro. Então, porque é que vota outra vez?

Porque Washington (o estado - não se trata da capital federal, Washington DC) tem um sistema eleitoral ainda mais confuso que o resto da América - tão confuso que confunde os próprios eleitores.

Tradicionalmente, Washington votava em "caucuses". Alguns residentes do estado preferiam passar ao sistema de primária, por o considerarem mais aberto e representativo. Mas, aparentemente, há quem discorde, e a solução este ano foi salomónica: faz-se "caucus" e também primária. E sim, as pessoas devem votar as duas vezes.

Os republicanos decidiram distribuir os seus delegados a meio entre o "caucus" e a primária; a 9, ganhou McCain, com uma ligeira vantagem sobre Huckabee.

Os democratas decidiram que só os "caucus" elegem delegados (ganhou Obama a 9, com bastante vantagem). Ou seja, a primária democrata de amanhã é um exemplo claro de um "beauty contest". Poderia ter alguma relevância se houvesse grande afluência às urnas e os resultados fossem muito diferentes dos do "caucus"; mas não é provável que isso aconteça, até porque tanto Obama como Clinton decidiram ignorar a primária.

Huckabee nas Ilhas Caimão


Não, as Ilhas Caimão não fazem parte dos EUA, e não há lá primárias.


Mas foi neste arquipélago que o candidato republicano Mike Huckabee esteve no fim-de-semana. Porquê? Para dar um discurso pago num banquete.
As explicações de Huckabee no artigo do New York Times são de uma honestidade desarmante: o ex-governador do Arkansas explica que foi às Ilhas Caimão porque precisa de dinheiro para a sua campanha. Mas nem ele nem os seus anfitriãos (a Young Caymanian Leadership Foundation) revelam ao certo quanto é que Huckabee vai receber pelo discurso.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Soluções

É a nova palavra-chave no vocabulário da campanha Clinton. Numa nova ofensiva contra a oratória da esperança de Barack Obama, Hillary tem repetido que a retórica não basta, também é preciso oferecer soluções. Bill bate na mesma tecla: a sua mulher está no "negócio das soluções" há mais de 35 anos, insiste.
"Vai ser preciso mais do que discursos bonitos para realizar os nossos sonhos. Vai ser preciso muito trabalho para encontrar as soluções e alcançar os resultados que fazem a diferença na vida das pessoas", diz Hillary. "Não me venham dizer que as palavras não interessam. Se não conseguirmos inspirar o país a voltar a acreditar na política, os planos e propostas não fazem a mínima diferença", responde Obama.
Nas suas últimas aparições, Hillary tem centrado o discurso nas questões económicas — as chamadas questões de "pão com manteiga" que aparecem nas sondagens como a principal preocupação dos eleitores democratas de classe média —, recuperando a mensagem populista do seu antigo adversário John Edwards.
Também Obama tem copiado alguns argumentos da "cartilha" de Edwards. O senador alega que é o candidato mais bem preparado para fazer frente aos lobbies e grupos de interesse instalados em Washington porque sempre recusou trabalhar para eles e nunca aceitou o seu dinheiro.
John Edwards já disse que tenciona declarar o seu apoio por um dos candidatos, mas ainda não disse qual.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

John McCain nos calcanhares de Obama

John McCain está tão ou mais atento ao "momentum" da candidatura de Barack Obama como o resto do país. Numa manobra inteligente, o candidato republicano lembrou o seu adversário do seu anterior compromisso com o uso do financiamento público na campanha eleitoral, e exortou Obama a optar por esse sistema no caso de ser ele o nomeado democrata. Com o apelo McCain vai direito aos calcanhares de Obama: forçando o candidato a contradizer-se, se não aceitar a proposta, ou anulando a sua (quase incomensurável) vantagem em termos de recolha de fundos, se concordar.
Segundo o sistema do financiamento público, os dois candidatos teriam direito a 85 milhões de dólares para as suas campanhas, provenientes de um fundo alimentado pelas declarações de IRS recebidas pelo Fisco. Tanto Obama como McCain rejeitaram o financiamento público para pagar as suas campanhas durante as primárias. O candidato democrata tornou-se entretanto um campeão de "fundraising" -- e muito do dinheiro recolhido já se destina ao pagamento da campanha para a eleição geral. Se recorrer ao sistema público, Obama terá de devolver os mais de 6 milhões de dólares privados de que dispõe para Novembro (McCain conta com pouco mais do que 2 milhões de dólares).
A resposta do senador democrata à "provocação" de McCain foi vaga e cautelosa. Obama aceitou discutir com a campanha do republicano as regras a seguir na eleição de Novembro, mas disse ser "presunçoso" da sua parte assinar qualquer acordo nesta fase do campeonato. "Ainda não sou o nomeado", lembrou.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bloco de notas

- A confusão do dia envolve o congressista democrata da Georgia John Lewis e a sua declaração de voto como superdelegado à convenção de Denver. A notícia começou por ser a de que Lewis, uma figura eminente do movimento dos direitos cívicos planeava retirar o seu apoio a Hillary Clinton e mudar-se para o campo de Barack Obama. A informação não foi desmentida nem confirmada pelo próprio ou por Obama: o candidato limitou-se a dizer que esperava uma resposta do congressista a um telefonema seu.
- Sem polémica e por esmagador consenso, o sindicato Service Employees International, que representa quase dois milhões de trabalhadores dos serviços e da saúde, decidiu apoiar Barack Obama. É um bom sinal para a sua candidatura, que precisa de competir com a sua adversária Hillary Clinton pelo voto latino e dos trabalhadores de mais baixos rendimentos no Ohio e no Texas.

- Mais um Bush com McCain: George H. Bush, o 41º Presidente dos Estados Unidos, vai oficializar o seu apoio numa cerimónia em Houston, Texas, na segunda-feira. O antigo presidente era um simpatizante da candidatura de Mitt Romney (foi um amigo próximo do pai do ex-candidato e quando a questão da fé mórmon atingiu a sua campanha, abriu-lhe as portas da sua biblioteca presidencial para um discurso sobre religião), o que prova como o Partido Republicano já começou o movimento de concentração em torno de McCain.

- Tom Scholz, o líder da banda Boston, escreveu a Mike Huckabee pedindo que o candidato republicano deixe de tocar a sua canção "More Than a Feeling" nos seus comícios. O músico confessa estar impressionado com a interpretação de Huckabee do solo de baixo, mas não tanto com as suas ideias políticas, que diz serem "exactamente o oposto" daquelas que a banda professa.

Em quem votariam os nossos políticos: João Soares

Nos próximos dias, vamos publicar neste espaço depoimentos de várias figuras políticas portuguesas a quem perguntámos as suas preferências na corrida presidencial americana.




João Soares
ex-presidente da câmara de Lisboa, deputado pelo PS


Votaria no Obama, nunca votaria num republicano. Obama representa uma viragem que é de todo desejável. Aliás, tenho defendido que, dado o peso que tem o Presidente dos EUA e as consequências das decisões que ele toma – nomeadamente este último [George W. Bush], que foi uma verdadeira catástrofe para o mundo – devíamos todos ter o direito de votar.

Eu votava Obama, embora tenha simpatia pela senhora Clinton. Bill Clinton foi o melhor presidente dos EUA desde Kennedy e Hillary paga por uma coisa pela qual eu também estou habituado a pagar: ser familiar de um político muito conhecido.

Depoimento recolhido por Hélder Beja

Em quem votariam os nossos políticos: João Semedo

Nos próximos dias, vamos publicar neste espaço depoimentos de várias figuras políticas portuguesas a quem perguntámos as suas preferências na corrida presidencial americana.


João Semedo
deputado pelo Bloco de Esquerda

Sem grande convicção, votaria Obama. O programa dele é muito opaco e muitas das coisas que ele promete são impossíveis de concretizar.

Mas o grande império ter como Presidente um negro seria um símbolo da mudança e um estímulo para que outros tempos se imponham.

É muito difícil perceber as diferenças entre candidatos nas eleições americanas. É espectáculo atrás de espectáculo. Só falam de valores e de símbolos. Têm um discurso enfático. Mobilizam mais na base da afectividade do que da racionalidade.



Depoimento recolhido por Sofia Branco

My funny Valentine

Já aqui se escreveu sobre a originalidade dos cartões electrónicos para o dia dos namorados engendrados pelo Partido Republicano, e também já se especulou porque razão não se tem falado muito sobre George W. Bush. Pois bem, os dois assuntos estão longe de esgotados. Aqui fica mais uma achega (e o video).

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Eavesdropping*

Num jantar composto maioritariamente por jornalistas de economia britânicos, discutiam-se as eleições primárias e o eterno empate entre Hillary Clinton e Barack Obama:

— A minha teoria preferida, até agora, é aquela que nem Hillary nem Obama têm maioria na convenção e com o partido à beira do ataque de nervos aparece Al Gore, a dizer que não estava a pensar nisso e tinha mais que fazer mas como ninguém se decide ele aceita ser o candidato à presidência. E os delegados e superdelegados levantam-se em aclamação e fica tudo resolvido.
— Não muito provável, mas lá que dava uma boa história...
— Pelo sim pelo não, vou pedir a credencial!


* hábito de escutar atrás das portas

Já ninguém se lembrava dos caucus do Novo México...

... que se realizaram na Super Tuesday de 5 de Fevereiro mas cujos resultados só hoje foram finalmente anunciados, depois de mais de uma semana de contagem e certificação de quase 150 mil votos -- um esforço que ocupou mais de 200 voluntários ao serviço do Partido Democrata daquele estado. Barack Obama teve 71 mil votos. Com 73 mil votos, a vitória foi atribuída a Hillary Clinton. Amanhã a notícia não deixará de ser requentada, mas depois das oito vitórias consecutivas de Obama é seguramente um alívio para a campanha de Clinton poder ter um título a dizer "Hillary ganhou".

Em quem votariam os nossos políticos: Hélder Amaral

Nos próximos dias, vamos publicar neste espaço depoimentos de várias figuras políticas portuguesas a quem perguntámos as suas preferências na corrida presidencial americana.






Hélder Amaral
deputado pelo CDS-PP




Votaria McCain, está mais próximo dos valores que defendo.
Tem seriedade, está em fim de carreira, não fará fretes. É bem diferente e mais moderado que Bush.

Acho Obama simpático, mas gostava de o ver fora da campanha.
De qualquer modo, é refrescante. Os governantes de hoje são cópias uns dos outros. Obama traz originalidade e autenticidade. O discurso é encantador, mas não me dá nem segurança nem estabilidade. Receio as modas.


Depoimento recolhido por Sofia Branco

Em quem votariam os nossos políticos: Maria de Belém

Nos próximos dias, vamos publicar neste espaço depoimentos de várias figuras políticas portuguesas a quem perguntámos as suas preferências na corrida presidencial americana.




Maria de Belém Roseira
deputada pelo Partido Socialista



Hillary e Obama. O ideal seria que os dois ganhassem.
Seria uma boa dupla, ela como Presidente e ele como vice-presidente. Obama daria uma genica especial à maturidade de Hillary e poderiam contribuir juntos para a grande modernização da América e para combater o pensamento e o modelo únicos. A eleição de qualquer deles tem um poder simbólico.


Depoimento recolhido por Sofia Branco

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Hillary reage à derrota

Mais um email de Hillary Clinton aos seus apoiantes:

"Dear Xxxx,

All through this hard-fought campaign for the Democratic nomination, you and I have met challenge after challenge head-on.

Every time they start to count us out, we prove them wrong. And we're going to keep proving them wrong as many times as we need to until we win the White House.

You and I know that only the people, not the pundits, get to decide where this race for the Democratic nomination will end up. And, before very long, the people who depend on us the most -- working families who have been hard-hit by the failed policies of the Bush administration -- will have their say in states like Wisconsin, Ohio, Rhode Island, Texas, Pennsylvania and others.

Let's show them what we're made of. Contribute now.

Don't forget who we're fighting for: families who need universal health care, people struggling to survive the Bush economy, folks desperately trying to hold onto their homes, students grasping for the American dream. They're the reason we need to work hard, and we need to win. And winning means having the passion, energy and resources to aggressively compete in crucial upcoming primaries.

Make a contribution to win.

When we embarked on this journey, you and I promised each other we'd stick together through every point and every moment of opportunity. That's what we've got to do -- right here, right now.

Are you with me?

Let's get it done,

Hillary Rodham Clinton

P.S. Remember, no matter how many times they try to count us out, you and I will keep counting on each other to help drive our campaign to victory in the weeks ahead."

Tudo (ou quase tudo) o que sempre quis saber sobre superdelegados...

... e com fotos dos crachás dos candidatos responsáveis por algumas das votações históricas em convenções democratas, aqui.

Alguém viu este homem?


Na barra lateral direita, temos uma ferramenta chamada "etiquetas", com as "tags" que vamos atribuindo a cada artigo. A nossa lista de "etiquetas" está bastante desorganizada, mas transmite uma ideia razoável daquilo que se tem falado até agora neste blogue.
Por enquanto, a "etiqueta" mais usada é "Super Tuesday", consequência da maratona eleitoral "ao vivo" da Rita Siza na "super-terça-feira". Depois, aparecem os nomes dos dois principais candidatos democratas - reflexo do facto de a corrida entre os democratas estar a ser mais agitada que do lado republicano.
Até agora, havia uma "etiqueta" que faltava. Ainda não aparecia na lista o nome "George W. Bush".
Não é de propósito, e não somos só nós. O Presidente americano tem estado quase completamente arredado da campanha - tanto em termos de uma intervenção directa nas primárias, como até do debate político dos candidatos.
Há várias razões para isso. A primeira é que Bush nunca definiu um "delfim". Entre as "estrelas" da sua Administração e os seus aliados mais próximos, não chegou a aparecer um candidato de facto à sua sucessão - chegou a haver alguma especulação sobre Condoleezza Rice, mas sem grande entusiasmo.
Depois, Bush é actualmente um "lame duck" - um Presidente em fim de mandato tem sempre mais dificuldades em dominar o debate político, sobretudo no meio de uma corrida à presidência tão rica em peripécias como esta.
Do lado democrata, naturalmente, tem-se falado bastante em Bush - para dizer, essencialmente, "Worst... President... Ever!". Mas, com Hillary e Obama numa luta taco-a-taco, o debate democrata não se tem concentrado tanto no ataque à era Bush - os democratas ainda estão na fase de discutir as diferenças entre os seus candidatos.
Do lado republicano, cada candidato reflectia uma determinada facção da coligação de tendências que elegeu Bush - mas nenhum tinha apoios tão abrangentes dentro do Partido como o actual Presidente.
Mais: como as sondagens mostram Bush no seu mínimo de popularidade, e perante um clima político em que toda a gente fala em "mudança", os candidatos republicanos evitaram falar dele.
A figura totémica das primárias republicanas não tem sido Bush - tem sido um Presidente que saiu da Casa Branca há 20 anos. Num debate entre candidatos em Janeiro, por exemplo, o nome "Ronald Reagan" foi pronunciado 33 vezes; George W. Bush, só uma vez.
Esta semana, com a nomeação republicana praticamente entregue a John McCain, Bush finalmente apareceu na campanha. Tentou serenar a direita religiosa, assegurando a esta facção do partido que McCain é um "conservador a sério".
Na segunda-feira, um dos irmãos de Bush, Jeb (ex-governador da Florida), declarou o seu apoio explicitamente a John McCain.
George W. Bush só o fará quando a corrida estiver totalmente terminada. É uma incógnita se McCain vai recorrer a Bush na fase final da campanha ou se, pelo contrário, vai tentar distanciar-se do actual Presidente. Mas é certo que, até Novembro, vai-se falar muito mais de George W. Bush nesta campanha.

Glossário: Lame duck

Glossário - onde se explicam alguns dos termos mais rebuscados do dicionário político americano

No meio de tanta agitação com a corrida à presidência dos EUA, convém não esquecer que a Casa Branca ainda tem ocupante - e que George W. Bush vai ocupar o cargo até 20 de Janeiro.

Ou seja, ainda há mais um ano de George W. Bush. Mas será um ano de Bush como "lame duck".

Este termo (à letra: "patinho coxo") designa no léxico anglo-saxónico políticos, governos ou dirigentes de outras instituições que estão no fim do seu mandato e não podem ou não querem recandidatar-se.

É o caso de Bush. Um "lame duck", normalmente, tem a sua autoridade e influência diminuídas.

Quer dizer: os seus poderes nominais mantêm-se, mas a sua "magistratura de influência" dilui-se. No caso dos presidentes americanos - cujos poderes, sobretudo para questões internas, são muito limitados pelo Congresso - a situação "lame duck" costuma significar finais de mandato virados para salvaguardar o seu "legado", normalmente com iniciativas a nível internacional.

Afinal, quem vai à frente? O regresso do "momentum"

Os resultados da "primária do Potomac" foram claros: vitórias categóricas de John McCain e Barack Obama.

Do lado republicano, já não há margem para dúvidas: McCain vai ser o candidato em Novembro, mesmo com Huckabee ainda no terreno.

Do lado democrata, as coisas ainda não estão decididas, mas ficaram mais claras. Barack Obama agora é o "frontrunner".

Porquê? Bem, porque ganhou as oito últimas eleições. É ele que tem o "momentum"

Para além disso, Obama vai agora à frente na contagem de delegados (ou pelo menos na maioria delas - já lá vamos). Para um europeu, este poderá parecer um critério simples e lógico: são os delegados que elegem o nomeado, quem tem mais delegados ganha, logo quem tem mais delegados vai à frente.

Mas as coisas não são assim tão simples na América. Para já, a vantagem de Obama em número de delegados é bastante pequena. Depois, não é sequer possível quantificar exactamente essa vantagem.

Por diversos motivos, a contagem de delegados nas primárias americanas não é uma ciência exacta. Dependendo da metodologia, os números variam bastante.

Olhemos para os números do New York Times e da Associated Press.

Segundo o Times, a situação é:

*Obama: 927
*Hillary: 1041

Segundo a AP, estamos em:

*Obama: 1223
*Hillary: 1198

A CNN, que usa outra metodologia, chega a estes números:

*Obama: 1215
*Hillary: 1190

São precisos 2025 delegados para garantir a nomeação. Ou seja: Obama vai à frente por uma margem insignificante, ou se calhar nem vai à frente.

E no entanto, não há dúvidas de que Obama é neste momento o favorito. Porquê? Por causa do tal "momentum".

Foi pelo conceito de "momentum" e não pela contagem aritmética de delegados que se resolveram as primárias nos últimos 30 anos. Mais do que contar delegados um a um, a forma como se determinava quem vai à frente era ver quem ia ganhando, quem ia criando uma dinâmica de vitória, quem gerava à sua volta um consenso de favoritismo.

Nesta (muito invulgar e fascinante) corrida democrata, até agora ainda não havia um candidato com um "momentum" claro. Daí ter-se prestado tanta atenção à contagem de delegados.

Agora, com os seus oito triunfos consecutivos - e, sobretudo, com a forma categórica e abrangente como obteve as vitórias de ontem e do fim-de-semana -, Obama tem o "momentum" do seu lado.

Hat-Trick (x2)

As primárias do Potomac, Washington DC, Virginia e Maryland, foram ganhas por Barack Obama no lado dos democratas e por John McCain no lado dos republicanos.

Mini Tuesday




Fotos Reuters

"Panic Button"

Acabam de fechar as urnas em DC e as projecções apontam Barack Obama como o vencedor, tal como no estado da Virginia (o Conselho Eleitoral do Maryland decidiu estender a votação por mais 90 minutos por causa do mau tempo).
Não é nada que não se esperasse -- ainda esta tarde alguém me preparava para mais um "massacre obamiano" hoje à noite, e as margens de diferença do senador do Illinois para a sua opositora Hillary Clinton parecem confirmar essas estimativas.
Mas o mais interessante das primeiras informações disponíveis são as razões da vitória de Obama: com a maioria dos eleitores negros, a maioria dos eleitores jovens, a maioria dos eleitores com mais habilitações literárias e rendimentos mais altos e ainda com a maioria das mulheres e quase o mesmo número de brancos, os dois grupos que se revelavam mais fundamentais nas votações de Hillary.
Quer isto dizer que o senador já conseguiu romper as fidelidades do eleitorado da sua adversária. A campanha Clinton deve andar à procura do "panic button".
Igualmente interessante na votação da Virginia é o prolongamento do duelo McCain/Huckabee. A maior parte dos eleitores republicanos (68 por cento) classificaram-se como conservadores, com menos de 30 por cento a definirem-se como moderados. A continuada rejeição de McCain pelas bases conservadoras poderá obrigar o candidato a reposicionar-se mais à direita, aumentando a atractividade de Obama junto dos independentes e mesmo de alguns republicanos moderados descontentes. A campanha de McCain já deve estar a ouvir soar o alarme.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Hoje é a "primária do Potomac", com Hillary a olhar para o Texas


Hoje é a "primária do Potomac". Vai a votos a região metropolitana da capital americana: vota-se em Washington DC e nos estados da Virginia e do Maryland. As eleições nas margens do rio Potomac poderão responder a muitas perguntas.


Do lado republicano, será curioso ver se Mike Huckabee continua a "incomodar" John McCain; esperam-se vitórias do senador do Arizona mas, sobretudo na Virginia, Huckabee pode marcar pontos.


Do lado democrata, em que as coisas continuam mais indecisas, está mais em jogo. Espera-se que Barack Obama triunfe nas três eleições. Isso continuaria a série de vitórias de Obama que se prolonga desde a "super-terça-feira". E os dois estados que se seguem - Wisconsin e Havai - também parecem favorecer Obama.


Isso tornaria imperativo para Hillary Clinton um triunfo conclusivo nos dois "super-estados" que votam no início de Março, Ohio e Texas.


Ora, desde a "super-terça-feira" que a campanha de Clinton apontava para as primárias de 4 de Março no Ohio e no Texas como a data decisiva do seu calendário. Os apoiantes da senadora de Nova Iorque mostraram expectativas baixas para Fevereiro - admitindo mesmo o cenário de, depois da "super-terça-feira", Clinton não voltar a ganhar este mês.


E, com efeito, mesmo que Clinton perca hoje e na próxima semana, a sua candidatura continuará perfeitamente viável se ela conseguir vitórias concludentes no Ohio e no Texas.


No entanto, se Clinton continuar a acumular derrotas, e se essas derrotas forem por margens significativas, a sua posição ficará fragilizada. Será mais difícil a Hillary conquistar os dois "super-estados" se Obama, mesmo sem uma grande vantagem em número de delegados, tiver o "momentum" da campanha.


É que, até às primárias de 4 de Março, haverá uma pausa substancial - duas semanas sem eleições do lado democrata. Se Obama continuar a ganhar, terá essas duas semanas para consolidar uma imagem de "frontrunner".


Mais ainda: a pressão irá aumentar sobre Hillary para que ela evite um cenário-catástrofe em que o Partido Democrata chegasse à sua convenção sem um candidato definido.


Na semana passada, o presidente do comité democrata nacional (a estrutura burocrática/logística do partido), Howard Dean, advertiu que o "empate" Obama/Clinton não se pode prolongar indefinidamente. Em declarações à televisão NY1, Dean afirmou que, caso o impasse se mantivesse até perto da convenção:



"Vamos ter de juntar os candidatos e chegar a alguma espécie de entendimento, porque julgo que não podemos correr o risco de uma convenção negociada." (numa convenção negociada o nomeado seria definido por jogos de bastidores e não pelos resultados das eleições)

Ora, se Obama se afirmar como o "frontrunner", mesmo que por uma margem curta, a pressão para desistir estará toda do lado de Hillary. A "primária do Potomac" não é um teste de "vida ou morte" para a candidatura da senadora nova-iorquina - mas Clinton também não se pode dar ao luxo de estar meramente à espera do Texas e do Ohio.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

McCain ainda não ganhou

O triunfo claro de John McCain na "super-terça-feira" fez com que a maioria dos observadores (nós incluídos) praticamente concluíssem que a nomeação republicana está na mão do senador do Arizona - sobretudo depois da desistência de Mitt Romney.


E, com efeito, é muito provável que McCain seja o escolhido republicano para Novembro. Mas as primárias republicanas ainda não acabaram - e o que falta não vai ser bem um passeio para McCain.

Mike Huckabee não desiste, vai acumulando vitórias nos estados mais conservadores, e vai obrigar McCain a não desguarnecer o flanco. Porque corre ainda Huckabee? Várias motivações possíveis:

*para cimentar a sua posição como candidato mais representativo junto da direita religiosa. Há seis meses, quase ninguém conhecia o ex-governador do Arkansas; hoje, ele é o político mais popular junto desta facção do Partido Republicano

*para obrigar John McCain a incorporar mais temas e posições queridos à direita religiosa, obrigando-o a pelo menos adiar o regresso da sua campanha ao centro

*para reforçar a sua posição como favorito a "candidato a vice" de McCain

*para preparar a corrida de 2012; se os democratas ganharem a Casa Branca em Novembro, a corrida à próxima nomeação republicana já começou

*para ganhar. Quem sabe, porque não? Os número não favorecem Huckabee, mas ele é um homem de fé, que estudou teologia. Como disse esta semana o próprio Huckabee, numa das tiradas mais memoráveis desta campanha, quando lhe perguntaram sobre as suas hipóteses de ganhar a nomeação:

"Não me formei em matemática, formei-me em milagres, e ainda acredito neles."

A importância de se chamar John Edwards

Barack Obama reúne-se esta noite com o seu antigo concorrente em busca do seu apoio. Hillary Clinton já fez o mesmo.

Dia dos namorados republicano

O comité nacional republicano resolveu aproveitar o dia dos namorados (a 14) para fazer propaganda. Criou um site especial na Internet a partir de onde se podem enviar cartões virtuais de dia dos namorados: o GOP Valentine. Há seis cartões à escolha - e todos têm a cara de um dos candidatos democratas, Clinton e Obama, e mensagens como "vou-te aumentar os impostos quer queiras quer não".

Hillary despede directora de campanha

Patti Solis Doyle
Ops! Começaram a abrir a primeiras brechas na campanha de Hillary Clinton. A senadora de Nova Iorque decidiu trocar de directora de companha. Patti Solis Doyle saiu, Maggie Williams, sua ex-chefe de gabinete, entrou.

Porque é que Obama ganha mais nos "caucuses" - parte II

Um pouco abaixo escrevíamos algumas possíveis explicações para porque é que Barack Obama está a ter particular sucesso em "caucuses".

Um artigo no blogue Trailhead da Slate acrescenta uma outra explicação. Está relacionada com a nossa hipótese número 1 ("coincidência"): argumenta o Trailhead que, nas eleições deste fim-de-semana, é irrelevante se Obama ganhou em "caucus" ou em eleições directas.

Segundo o artigo...

"Obama não está a vencer Clinton em 'caucuses' - está a vencê-la no Noroeste, nas Grandes Planícies e nas Montanhas Rochosas."

Ou seja: não é mecânica do processo eleitoral que justifica as vitórias de Obama, é a sua geografia. Por outras palavras...

"(...) é a região, não os 'caucuses', que quer uma mudança optimista, e não experiência, na Casa Branca."

Visto que só há mais dois "caucuses" no resto do processo democrata, a questão torna-se de facto irrelevante. Mesmo assim, é interessante ler o link para um artigo na CBS news no artigo imediatamente abaixo deste, que resume as coisas assim:

"Os 'caucuses' exigem organização, e Obama estava [em estados pequenos] mais bem organizado. Exigem entusiasmo, e ele tinha apoiantes mais entusiásticos. Exigem tempo, e o seu eleitorado tem mais tempo livre. São sobretudo em estados pequenos, e Obama visou sobretudo os estados pequenos. São dominados por activistas, e os activistas tendem a apoiar Obama."

Não há coincidências

O senador Barack Obama venceu os caucus do Maine, deitando por terra uma das explicações para o seu sucesso neste tipo de votações.
No gelado estado do nordeste, Hillary era (de resto) a candidata favorita: antes do início das primárias — coisa que parece ter sido há uma eternidade mas na verdade foi há pouco mais de um mês —, a senadora tinha uma vantagem de 30 pontos, e ainda este fim-de-semana era apontada como a provável vencedora, dada a sua comprovada tendência para concentrar o voto das mulheres e da classe média com menos qualificações académicas, dois importantes blocos no eleitorado do Maine.
Os cálculos eleitorais revelaram-se, mais uma vez incorrectos, e Hillary Clinton arrisca-se a ver passar um mês inteiro de campanha sem alcançar uma única vitória. O facto até pode não ser dramático em termos de contagem de delegados (embora também possa ser), mas é significativo em termos de percepção: uma derrota é uma derrota é uma derrota, e nem o mais brilhante spin-doctor consegue disfarçar as suas implicações na psicologia do eleitorado.
Quer isto dizer que Barack Obama, que já tem mais delegados eleitos directamente e o dobro de estados a seu favor, passou agora a favorito à nomeação democrata? Ninguém quer arriscar palpites, e com a corrida ainda tão renhida, continua a ser cedo para afirmações peremptórias ou certezas absolutas. Mas provavelmente sim -- Obama estará em vantagem, sobretudo se, como indicam as sondagens, voltar a ter votações expressivas nas "primárias do Potomac" (Maryland, Virginia e Washington DC) na próxima terça-feira, e uma semana depois, no Wisconsin e Havai.


p.s.: mais explicações para o sucesso de Obama em caucus aqui.

p.p.s.: a campanha de Hillary reage aos maus resultados e reforça a equipa.