sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O que é que correu mal a Mitt Romney?


Parece muito claro como é que isso deixa a corrida republicana - com McCain praticamente certo da nomeação (aliás, até bem podia ter ido a Munique).

Romney era, de longe, o candidato mais bem financiado desta campanha (grande parte desse dinheiro saiu-lhe do bolso). Tinha apoios junto de vários sectores do Partido Republicano. Trazia consigo uma imagem de competência e experiência. 

O que é que lhe correu mal então? Várias pistas possíveis:

*"Flip flopper"

Romney foi frequentemente acusado de ser um "flip flopper" ("troca tintas") - expressão muito usada nos meios políticos americanos para descrever um político que muda de opiniões como quem muda de camisa.

Efectivamente, Romney (que foi governador do estado "esquerdista" do Massachusetts) foi apanhado em inconsistências nas suas opiniões sobre o aborto ou o casamento gay. A sua candidatura tinha uma ideologia muito mais à direita que as suas posições anteriores. Justa ou injustamente, a acusação de "flip flopper" foi constantemente atirada contra ele.

*Mórmon

Um dos grandes receios sobre a sua candidatura era saber se a religião de Romney (crente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, vulgo "mórmons") iria ser um problema para ele, sobretudo entre os cristãos evangélicos mais desconfiados da igreja sediada no Utah.

Não é possível saber até que ponto os cristãos de outras confissões terão sentido relutância em votar num mórmon.

Por outro lado, pode-se dizer que um dos efeitos mais positivos da sua campanha foi precisamente atrair a atenção da opinião pública (americana e não só) para esta igreja. A perspectiva de um Presidente mórmon ajudou a chamar a atenção sobre o universo mórmon, e desmentir uma série de preconceitos sobre esta igreja.

*Mike Huckabee

Sabendo que o "forte" de John McCain e Rudy Giuliani (à partida, os seus principais rivais) eram segurança e política externa, Romney apostou em dois eleitorados-base do Partido Republicano com outras prioridades: os "businessmen" anti-impostos e preocupados com a economia, e os cristãos conservadores.

E eis que, vindo do nada (bem, do Arkansas), aparece Mike Huckabee, pastor evangélico de Bíblia na mão e Jesus no discurso. Huckabee desviou grande parte da direita religiosa - que dificilmente votaria em McCain, mas também acabou por não votar em Romney.

*Autenticidade

Mitt Romney transmitiu sempre a imagem de ser um candidato demasiado "artificial", demasiado "robótico". Foi constantemente acusado de falta de "autenticidade"

Também constantemente, apresentadores de "talk shows" e jornalistas faziam pouco do seu cabelo magnificamente penteado - que se tornou numa espécie de metáfora fácil para a sua campanha.

*Os outros não gostavam dele

Pareceu durante a campanha que os adversários de Mitt Romney tinham um ódio particular ao ex-governador do Massachusetts.

Fred Thompson, Mike Huckabee, John McCain, Fred Thompson: todos pareciam ter uma aversão a Romney superior ao normal numa campanha. 

Por diversos motivos, isso acabou por custar-lhe caro. O apoio imediato de Giuliani a McCain após a desistência, a concentração dos ataques de McCain sobre Romney, a forma como Huckabee e McCain se tornaram quase "aliados" - tudo somado terá tido algum impacto.

E, na imprensa, Romney também não encontrou muitos amigos.

A estratégia falhou

Finalmente: a estratégia de Romney falhou. Ele foi o único candidato republicano que, desde o início, resolveu competir em todos os estados, pequenos ou grandes. 

Huckabee investiu tudo no Iowa e no Sul; McCain jogou a sua vida política no New Hampshire e na Carolina do Sul; Giuliani apostou na Florida. Enquanto os adversários iam escolhendo campos de batalha onde julgavam ter boas hipóteses, Romney tentou ir a todas. Foi coleccionando segundos lugares. Não lhe serviu de nada. Voltará em 2012?

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