quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Hillary e a inevitabilidade

Desde o momento em que apresentou a candidatura que a campanha de Hillary Clinton assentou na ideia de que a senadora e antiga Primeira-Dama seria inevitavelmente a nomeada democrata para a corrida à Casa Branca. É certo que nos meses seguintes a candidata procurou caracterizar-se como a mais experiente, mais competente e mais resistente entre todos os concorrentes do seu partido. Mas por trás desse esforço estava a crença arreigada de que quem à partida carrega o establishment democrata é não só o candidato mais formidável, é também o imbatível.
Esse poderá ter sido o erro crucial de Hillary Clinton, da sua campanha e batalhão de assessores. Foi por causa dessa inevitabilidade que se prepararam para uma campanha curta e com uma única mensagem. Que não montaram uma organização verdadeiramente nacional porque não havia ninguém na América que não soubesse quem era Hillary e o que ela representava. E, já agora, que apostaram na nostalgia da Administração Clinton para emocionar os eleitores.
Ao fim de dois meses de campanha pura e dura, não deve haver ninguém que não esteja surpreendido e chocado. Porque, afinal, Hillary não é uma candidata temível, nem formidável e muito menos imbatível. Afinal, a poderosa máquina Clinton tem muitas pedras na engrenagem: está desafinada, desorganizada, incompleta. Afinal, a pedagogia da senadora não entusiasma as audiências, e o seu conhecimento enciclopédico dos dossiers e meandros de Washington, com que pretendia marcar o contraste para o seu adversário, só vêm lembrar os eleitores como não é ela quem personifica a mudança ou a diferença em relação ao passado. Afinal, os eleitores dos pequenos estados contam tanto como os dos grandes, e — lição muito importante — não gostam de ser desprezados ou menorizados.
Com a pesada derrota do Wisconsin desta noite, a aura de inevitabilidade de Hillary dissipou-se por completo. Dissipou-se não, extingiu-se -- ao ponto de os comentadores dizerem que na nova situação em que Obama se encontra, o seu desafio já não é ganhar a nomeação, é perdê-la.

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