quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A "Obamamania"

[post que não tendo absolutamente nada a ver com o anterior, não deixa de ser inspirado no que o Pedro escreveu abaixo]

Ontem à noite estive na Politics and Prose, uma dessas livrarias que só parece fazer sentido numa cidade como Washington DC e que tem um programa tão intenso de eventos e iniciativas que participar em todas é quase um emprego a tempo inteiro. O convite era para o lançamento do livro "Chasing the Flame: Sérgio Vieira de Mello and the Fight to Save the World", uma biografia do diplomata brasileiro que é simultaneamente uma narrativa sobre alguns dos mais complexos conflitos do final do século XX e ainda uma reflexão sobre o papel e relevância de organizações multilaterais na era globalizada das relações internacionais.
Nunca tinha visto aquela livraria tão cheia: estava a abarrotar de gente -- aliás, quando entrei, havia já alguns desistentes a avisar que "é completamente impossível arranjar um lugar... boa sorte!". Fiquei impressionada com esta sempre surpreendente população de Washington, mas bastaram trinta segundos para perceber que a razão daquela afluência recorde não tinha nada a ver com o sujeito do livro em debate, antes a sua autora, Samantha Power, e ainda mais a pessoa com quem ela trabalhou directamente até ao ano passado: Barack Obama. Aí estava eu, mais uma vez apanhada pela "Obamamania" que já tinha testemunhado noutras ocasiões.
Samantha Power é uma figura interessante e polémica, professora, activista, jornalista, ensaísta e, agora, conselheira principal de Barack Obama para as questões de política externa. A sua "especialidade" são os direitos humanos e o genocídio; ontem foi capaz de responder sem levantar o sobrolho a um interlocutor da plateia que se apresentou com um "boa noite" em sérvio e não se esqueceu de cumprir a sua função de interlocutora da causa do Darfur, solicitando à vasta audiência que se deslocasse até uma mesinha estrategicamente instalada junto à porta da livraria para deixar uma contribuição.
Assoberbada pelo entusiasmo da multidão, Power limitou-se a uma curta apresentação da obra, durante a qual falou quase tanto de Vieira de Mello quanto de Barack Obama. E quando começou o período de perguntas e respostas, foi claro ao que tinha ido toda aquela gente: "Qual acha que seria o conselho do senhor Vieira de Mello a Barack Obama para a guerra do Iraque?". Depois, foi por aí fora -- qual a opinião do senador relativamente ao processo de Annapolis e como se pode resolver a crise do Médio Oriente; quais as lições que o candidato pode retirar dos falhanços diplomáticos americanos do passado; qual será a resposta de Obama às acusações de John McCain...
No final, enquanto a multidão se reorganizava disciplinadamente numa fila (que dava várias voltas à livraria) para ir buscar um autógrafo, percebi que nenhum dos repórteres que reconheci na sala pareciam ter a paciência necessária para esperar e tentar falar com a autora. Pareceu-me a melhor decisão. No parque de estacionamento, não havia um único Toyota Prius que não tivesse o autocolante de Obama. E não havia um único lugar vago.

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