quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Afinal, quem vai à frente?

No sábado, há primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul. Terça-feira, vota a Florida. E, no dia 5, é a "super-terça-feira", em que votam quase metade dos Estados Unidos.

Mas, por enquanto, quem vai à frente? Este excelente artigo da Slate procura dar uma resposta à questão, do lado dos democratas. Não há uma resposta linear. Vários aspectos a ter em consideração:

Estados e delegados

Entre os democratas, Hillary Clinton ganhou em três estados - New Hampshire, Nevada e Michigan (mas estas duas últimas vitórias com "asterisco" - já lá chegamos). Barack Obama ganhou num (Iowa).

Nos republicanos, Mitt Romney ganhou três vezes (Wyoming, Michigan, Nevada), John McCain duas (New Hampshire e Carolina do Sul) e Mike Huckabee uma (Iowa).

No entanto, não é em número de vitórias que se decide a nomeação. A época das primárias serve para cada estado eleger delegados para as convenções dos respectivos partidos.

A convenção democrata terá 4049 delegados. A convenção republicana, 2181. Ora, neste caso, parece fácil determinar quem vai à frente: é quem tem mais delegados. Mas as contas não se fazem bem assim.

Delegados e "momentum"

Nas últimas três décadas e meia de primárias nos EUA, mais importante que o número de delegados é aquilo a que o artigo da Slate chama "momentum". Ou seja, uma espécie de harmonização de expectativas (entre os media, a classe política, os próprios candidatos) sobre quem vai à frente.

Por exemplo: nas primárias democratas de 2004, logo após a eleição no New Hampshire, já era dado quase como garantido que John Kerry conquistaria a nomeação democrata - apesar de, nessa altura, ainda só ter garantido uns meros 5 por cento dos delegados necessários.

Outro exemplo: Hillary Clinton venceu os "caucus" do estado do Nevada - em votos. Em delegados, no entanto, Obama (porque a sua votação foi mais distribuída pelo estado e a de Clinton mais concentrada) terá obtido 13 delegados contra 12 para Hillary ("terá", porque este resultados ainda terão de ser confirmados numa convenção estadual).

Apesar disso, os resultados do Nevada foram considerados um triunfo de Hillary - porque a imprensa e a classe política americanas não estão habituados a fazer contas em termos de número de delegados mas sim de "momentum".

Delegados e superdelegados

Complicações adicionais: Hillary Clinton venceu no Michigan mas, em princípio, os delegados lá conquistados não contam. Alguns estados (sobretudo do lado republicano) usam o método "winner takes all" para atribuir os seus delegados (isto é, em vez de os distribuírem proporcionalmente por cada candidato, dão todos ao vencedor).

E depois ainda há os "superdelegados" - delegados nas convenções que não são eleitos em primárias. Entre os republicanos, são relativamente poucos (123) - mas na convenção democrata, são 796.

Esses superdelegados democratas incluem todos os membros eleitos do partido no Congresso e uma série de outros dirigentes. Muitos já revelaram a sua intenção de voto, mas outros ainda não. E mesmo o que já declararam apoio a um candidato ainda podem voltar atrás.

As novas regras do jogo

Conclusão? É difícil concluir quem vai à frente.

Mesmo pelo critério do número de delegados já eleitos, não há números claros. E, perante a disparidade dos resultados até agora, não há de nenhum dos lados um candidato com mais "momentum".

Em teoria, a sequência de primárias que culmina na "super-terça-feira" deverá clarificar a situação - e resultar num favorito claro em ambos os partidos.

Em teoria. Na prática, este processo eleitoral americano tem contrariado muitas das "regras" da tradição. É possível que mesmo depois de 5 de Fevereiro não seja possível identificar quem vai à frente - e será então altura de fazer contas a delegados e "superdelegados".

Sem comentários: