terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Na primária do dinheiro, os democratas estão muito à frente

No sistema político americano, a capacidade de angariação de financiamentos tem um papel crucial na viabilidade de um movimento político. Não ganha sempre quem tem mais dinheiro, mas é importante estar bem financiado.

No sistema político americano, as regras de doações são muito claras (embora possam ser contornadas), e as informações sobre quem dá dinheiro a quem são públicas.

É possível saber as doações de indivíduos, regiões, empresas, etc., através de sites como o Fundrace; e sites como o inestimável OpenSecrets publicam regularmente dados agregados.

Os dados que se seguem são todos do Open Secrets (que, por sua vez, os obtém da Comissão Federal de Eleições).

Primeiro dado: os democratas estão a angariar mais dinheiro. No dinheiro doado aos comités dos partidos (isto é, não a um candidato específico), os democratas receberam 257 milhões de dólares contra 244 milhões para os republicanos.

Nas doações a candidatos, a vantagem democrata é maior: 375 milhões de dólares para candidatos democratas, um pouco acima de 300 milhões para os republicanos.

Os números revelam ainda que os candidatos mais bem financiados são dois democratas: Barack Obama é o "campeão", angariou até agora (os dados são relativos a reportes feitos a 20 de Fevereiro) 138 milhões de dólares; Hillary Clinton vem logo atrás, com 134 milhões.

Do lado republicano, Mitt Romney é de longe o mais "endinheirado" - a sua campanha tinha 105 milhões de dólares (mesmo assim bastante longe de Clinton e Obama); é preciso notar que Romney investiu grande parte deste momento do seu próprio bolso.

John McCain fica-se por 53 milhões de dólares; entre os principais candidatos, Mike Huckabee é o mais "pobrezinho" - 12 milhões de dólares.

As diferenças entre democratas e republicanos podem não parecer muito substanciais (é possível que sejam maiores - os números do OpenSecrets não incluem as 527, organizações "independentes" que financiam propaganda de forma autónoma e que, em 2004, apoiaram mais o lado democrata). Mas é uma inversão total da lógica da angariação de fundos; tradicionalmente, os republicanos "esmagavam" a oposição em termos de dinheiro.

Os republicanos costumam angariar mais fundos porque são o partido com laços mais próximos aos meios empresariais; os democratas recebem mais dinheiro de profissões liberais (especialmente advogados) e de sindicatos. Como os primeiros têm mais dinheiro que os segundos, normalmente eram os republicanos quem apresentava contas mais robustas.

Porque é que não está a ser assim este ano? Por um lado, os republicanos não podem contar com a "máquina Bush" - uma eficaz rede de contactos a nível nacional construída pelo actual Presidente, que nos últimos quatro ciclos eleitorais (2000, 2002, 2004 e 2006) bateu recordes no financiamento das campanhas do próprio Bush e de outros republicanos.

Por outro lado, é razoável especular que os eleitores democratas estarão mais motivados que os republicanos pela perspectiva do fim da era Bush.

A actual situação tem uma implicação adicional interessante. Normalmente eram os candidatos democratas que mais exigiam alterações ao sistema de financiamento político, queixando-se do excesso de dinheiro nas campanhas americanas; será que este ano, em que o seu candidato à presidência estará mais bem financiado, também o irão fazer?

Ainda para mais, o favorito à nomeação republicana é John McCain; uma das bandeiras políticas do senador do Arizona é precisamente a reforma do financiamento das campanhas eleitorais. McCain foi o co-autor (com o democrata Russ Feingold) das leis McCain/Feingold.

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