sábado, 31 de maio de 2008

Eavesdropping *

Na linha vermelha do metro de Washington, antes da estação de Woodley Park, que serve o hotel Marriot Park onde decorre a reunião do comité de regulamentos do Partido Democrata que vai decidir se os votos do Michigan e Florida contam e se os delegados daqueles estados podem participar na Convenção Nacional de Denver.
Um grupo de casais, com carrinhos de bebé, e ar de quem se preparava para visitar o jardim zoológico e não manifestar-se à porta do hotel:

"Para que vejas como os Clintons são poderosos, conseguiram inventar uma reunião para mudar as regras no fim do jogo"


* hábito de escutar atrás das portas

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Num canto, Hillary Clinton, no outro, Barack Obama

O combate começa amanhã de manhã, mesmo aqui ao lado.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Alienação

Aproxima-se o "momento da verdade" para a campanha Clinton. No sábado, o partido vai decidir como resolver o imbróglio das primárias do Michigan e da Florida -- se as eleições contam, se os delegados têm direito a participar na Convenção Nacional de Denver, se a sua distribuição pelos dois candidatos respeitará as regras da proporcionalidade ou se será precisa uma fórmula extraordinária. Tudo o que não seja o reconhecimento do total dos resultados e a respectiva alocação do total dos delegados corresponderá a uma derrota para a senadora de Nova Iorque.
A dois dias do evento, esse é o desfecho mais previsível. Enquanto não se confirma, a candidatura de Hillary afina os seus argumentos finais, junto dos eleitores das três primárias que restam, junto dos superdelegados que ainda não definiram quem apoiam, junto dos financiadores que podem manter a sua campanha à tona. Para ela, é fundamental não alienar nenhum destes três grupos. Como repete — ela e os seus directores de campanha e porta-vozes — os democratas não se podem dar ao luxo de desperdiçar os votos/apoios/dinheiro de que vão precisar em Novembro para bater os republicanos. A sua teoria é que se todos os votos forem contados (e já vimos como Hillary está a fazer as contas) é ela quem surge à frente com mais eleitores. O seu último email, intitulado "viram as últimas sondagens?", acrescenta que é ela que surge à frente no confronto directo com John McCain. Querem deitar esta vantagem a perder?, é a escolha que coloca aos superdelegados.
Até agora, a imprensa tem seguido o raciocínio da campanha Clinton e colocado a questão nesse plano da legitimidade democrática. Os eleitores pronunciaram-se, e em números recorde*, e isso é mais importante e significativo do que a burocracia institucional -- e é, de facto, um risco a alienação de todas estas pessoas (3,2 milhões de eleitores no Michigan e na Florida). Em todas as peças, há inevitavelmente um eleitor a dar conta da sua insatisfação e descontentamento com o partido, que parece não o considerar importante -- "Porque razão devo ser punido por votar?". Hoje começaram a aparecer outros, também insatisfeitos e descontentes com a mesma atitude de alienação: "Nós respeitámos as regras, acatámos a decisão do partido, abstivémo-nos de ir votar e agora somos ignorados e punidos?"

*Um dado interessante sobre a adesão eleitoral no Michigan e na Florida, através da comparação da afluência às urnas dos eleitores democratas nas primárias de 2008 e nas presidenciais de 2004. Nas sucessivas votações recorde dos primeiros dez estados que votaram este ano, a média de eleitores é de cerca de 75 por cento do total que votou em John Kerry. No Michigan, foram 24 por cento e na Florida 44 por cento.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bush na campanha

O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, já oficializara o seu apoio à candidatura de John McCain. Agora anda a recolher dinheiro para o eleger. A máquina republicana está em movimento.

História

A HBO lançou finalmente o seu Recount, uma super-produção que recria os dias da polémica recontagem da votação presidencial da Florida que garantiu a presidência a George W. Bush no ano 2000. O site oficial, aqui.

Fidel Castro gosta de Obama

Uma semana depois do candidato à nomeação democrata, Barack Obama, andar a percorrer a Florida para cortejar a comunidade de expatriados cubanos — visceralmente anti-castrista — sai-lhe isto na rifa: elogios de Fidel Castro, que o considera o "mais progressivo" de todos os concorrentes à Casa Branca.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Memorial Day

O sol saiu finalmente; de repente estamos no Verão. O blogue prossegue a sua actividade normal a partir de amanhã, quando a noite tiver posto fim ao feriado.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Check-up

Ficou-se hoje a saber que o candidato republicano John McCain está de perfeita saúde.

CNN

Esta manhã a CNN lançou a história do alegado arranque de negociações "difíceis" e "preliminares" entre representantes das candidaturas de Barack Obama e Hillary Clinton com vista à resolução do impasse na corrida democrata: em cima da mesa estará a "estratégia de saída" de Hillary, que de acordo com as fontes da cadeia televisiva passa pela associação dos dois no futuro ticket democrata em Novembro. Já perdi a conta aos desmentidos que imediatamente seguiram das sedes oficiais dos candidatos e pela voz de alguns dos seus mais proeminentes apoiantes. Mas a verdade é que a história ainda continua no ar. Aqui ficam alguns links para a novela do dia:
- A reportagem inicial da CNN, aqui
- As duas campanhas desmentem, mas já há petições online para que os dois corram juntos
- Alguns apoiantes de Clinton acham que ela devia ser a escolhida para a vice-presidência
- E até Bill Clinton parece concordar com a ideia

Isto é tudo muito complicado...

... mas também fascinante. Da forma como os dois partidos se organizarem antes de Novembro para transmitir cirurgicamente a sua mensagem junto dos grupos que mais lhes interessam poderá depender o seu sucesso eleitoral. Até agora, a vantagem pertenceu à máquina republicana, mas como reporta o Politico, o Comité Nacional Democrata também já tem a sua própria tecnologia para cruzar os dados das sondagens eleitorais com os censos da população e os inquéritos ao consumo. O microtargeting é o futuro.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Bloco de notas

- Barack Obama e John McCain, ambos à procura de um bom candidato à vice-presidência?

- A estratégia de Hillary Clinton, em três actos: garantir a contagem dos votos do Michigan e Florida; discutir o número de delegados necessários para confirmar a nomeação; convencer os superdelegados que tem melhores hipóteses de vencer em Novembro.

- Para acabar de vez com as dúvidas, John McCain rejeita oficialmente o apoio do tele-evangelista John Hagee. Algumas das suas opiniões, como por exemplo que Hitler foi um enviado de Deus para forçar os judeus a buscar a sua terra prometida, são "profundamente ofensivas e indefensáveis" para o candidato republicano. (E umas horas depois, John Hagee retirou o seu apoio ao conservador e prometeu não se pronunciar mais durante a campanha eleitoral)

Voto popular

É o derradeiro argumento da campanha Clinton. As primárias são, tradicionalmente, uma contagem de espingardas, mas Hillary Clinton (e Bill Clinton) inverteram o argumento para reclamar que a contabilidade feita até agora está errada. "O voto popular é que é a verdadeira expressão da vontade dos americanos", diz a candidata, que quer refazer todas as contas para provar aos superdelegados que o seu apoio a Obama não deve ser baseado nas suas vitórias eleitorais em mais estados (e consequentemente, no maior número de delegados).
Segundo a aritmética de Hillary Clinton, é ela que tem o maior número de votos depositados nas urnas -- um dos argumentos que a senadora usou até foi que se as regras do Partido Democrata fossem semelhantes às dos republicanos (que em muitos estados usam o sistema winner-takes-all) ela já teria os delegados necessários para a nomeação.
Vejamos como Hillary faz as contas, usando como referência os números coligidos pelo Real Clear Politics. Arredondando, a candidata diz que já obteve cerca de 17 milhões de votos, "o maior número de sempre na história das primárias democratas". Esse valor inclui o total do voto popular contado em todos os estados que já votaram até agora (16.216.795), mais a sua votação no Michigan e na Florida (1.199.295). Ou seja, 17.416.090. Mas de fora estão os resultados dos caucus de quatro estados, Iowa, Nevada, Washington e Maine, onde não foram reportados os números totais de votos mas apenas os delegados que couberam a cada candidato na distribuição. Uma estimativa desses quatro estados dá a Hillary mais 223.862 votos. Ou seja, se a sua candidatura quiser contar todos os votos, a sua votação será de 17.639.952. Aplicando a mesma fórmula, o resultado total de Barack Obama é de 17.576.579, isto é, sensivelmente menos 63 mil votos do que a senadora de Nova Iorque.
Onde está o spin da campanha Clinton?
Primeiro, a votação do Michigan e da Florida não podem ser consideradas da mesma maneira para os dois candidatos. No Michigan, o seu era o único nome no boletim de voto (ou seja, Barack Obama, como na altura John Edwards, Joe Biden, Chris Dodd e todos os outros, tiveram uma votação de zero). E na Florida, onde os boletins tinham todos os nomes, respeitou-se a proibição do partido de fazer campanha, pelo que é de admitir que a votação reflecte o reconhecimento público dos candidatos -- e a eleição decorreu em Janeiro, quando os americanos ainda não estavam completamente familiarizados com todos os concorrentes.
Segundo, a exclusão dos quatro estados dos caucus da contagem só se explica pelo facto de Barack Obama ter conseguido vitórias significativas em três (venceu no Iowa, Washington e Maine), e apesar de ter perdido no Nevada, foi beneficiado pelas regras da distribuição e arrecadou mais delegados do que Hillary. Considerar estes votos, na forma de delegados, empurraria a campanha Clinton de novo para a tradicional contagem de espingardas, e é exactamente isso que Hillary e Bill pretendem evitar a todo o custo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Raça

O Oregon e o Kentucky são dois estados predominantemente brancos (mais de 90 por cento da população), tal como por exemplo o Iowa, onde arrancaram as primárias e onde Barack Obama comemorou a sua primeira vitória -- foi aí que o candidato discursou esta noite. A diferença entre os dois estados não é a demografia, mas sim a economia: o estado pacífico do Oregon é significativamente mais rico do que o Kentucky.
Nesse estado do Midwest, e e segundo as sondagens, um em cada cinco eleitores declarou que a raça foi um factor importante na sua decisão, e desses, 81 por cento escolheram Hillary Clinton. Segundo a Associated Press, três em cada dez eleitores brancos do Kentucky disseram que apoiariam Obama fosse este fosse o nomeado democrata, enquanto quatro disseram que votariam no candidato republicano. Esta noite, Hillary Clinton jogou mais uma vez o trunfo do género, falando no carácter histórico da eleição de uma mulher, mas claramente escondeu na manga a carta da raça.

Act.: Na análise dos números da sondagem, a MSNBC foi buscar os dados relativos a 2004, quando os mesmos eleitores brancos das primárias democratas se passaram para o campo republicano, votando Bush em vez de Kerry. A questão enquadra-se assim do ponto de vista geográfico e no plano dos valores culturais desse segmento particular de eleitores: os resultados do passado demonstram que o "white-blue collar vote" pertence solidamente aos republicanos.

Sem surpresas

Hillary Clinton ganhou onde se esperava que ganhasse. Com 40 por cento do voto do Oregon contado, Barack Obama está bem à frente, com 63 por cento, também como era previsível. Depois das super Super Tuesdays acabaram-se as surpresas na corrida pela nomeação democrata.

1627

A corrida dos delegados acabou. Barack Obama acaba de ultrapassar a fasquia dos 1627, apesar da estrondosa derrota no Kentucky.

Os intangíveis da elegibilidade

A mensagem de hoje de Hillary Clinton para os superdelegados democratas continuou a assentar nos intangíveis da elegibilidade. "Os riscos são muito altos: temos de acertar e seleccionar o nomeado mais bem posicionado para vencer em Novembro e mais bem preparado para responder aos desafios do país", declarou. "É uma escolha difícil que o partido vai ter de fazer", prosseguiu, colocando a decisão nos seguintes termos: "Quem está pronto para encabeçar o ticket democrata?"; "Quem é capaz de ganhar a McCain nos swing-states?"; "Quem é o melhor comandante em chefe e presidente logo a partir do primeiro dia?".
Descontando a aritmética dos delegados (até porque aí a corrida está prestes a terminar), outros tangíveis da elegibilidade foram conhecidos esta noite -- os números de Abril das finanças das campanhas. Barack Obama conseguiu arrecadar 31 milhões de dólares, com mais de 200 mil novos financiadores a contribuírem com uma média de 25 dólares. Hillary Clinton alcançou 22 milhões de dólares, acaba de dizer o seu director de campanha. (E já agora, de acordo com os documentos entregues na Federal Electoral Commission, o republicano John McCain conseguiu 18 milhões de dólares).


Act.: E a propósito da máquina de fazer dinheiro da campanha Obama, ver este interessante artigo da revista Atlantic.

Até à convenção

Há minutos na CNN: O director de comunicações da campanha Clinton, Howard Wolfson, espera que a corrida democrata possa ficar resolvida na primeira semana de Junho, mas também pode prolongar-se até à Convenção Nacional de Denver. "Isto só acaba quando houver um nomeado, qualquer que ela seja", tinha dito Hillary no Kentucky.

Cavalos de corrida

Cartaz no comício de Hillary Clinton, grande vencedora da primária do Kentucky (65 por cento, com 80 por cento dos votos contados), estado famoso pelo seu tradicional derby de Maio: "Hold your horses" ["Aguentem os cavalos"].

terça-feira, 20 de maio de 2008

O homem do chapéu

Mark McKinnon, o responsável pela estratégia mediática do candidato republicano John McCain mais conhecido como o homem do chapéu de cowboy, acaba de confirmar que vai deixar de ter um papel activo na campanha do senador do Arizona, cumprindo assim a sua promessa de não trabalhar contra a eleição de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos. McKinnon garante, contudo, que vai votar em McCain nas eleições de Novembro.

Más notícias para Clinton

Falta um minuto para serem conhecidas as sondagens à boca das urnas do Kentucky. A expectativa é que Hillary Clinton reproduza naquele estado do sul a vitória que alcançou a semana passada na Virginia Ocidental -- no novo slogan desta temporada, "é a demografia, estúpido!".
Outras sondagens do dia constituem, porém, más notícias para a senadora de Nova Iorque. Segundo o tracker diário da Gallup, o seu adversário Barack Obama começa a parecer mais apelativo para alguns dos seus grupos de apoiantes: mulheres, trabalhadores brancos e classe média baixa.

Ted Kennedy

Quem ligar agora a televisão, nem vai perceber que estão a decorrer eleições primárias no Kentucky e no Oregon. Até há duas horas, as primárias eram o único tema que preenchia as emissões. Mas isso foi antes das últimas breaking news que deram conta do diagnóstico do senador do Massachusetts, Ted Kennedy, com um tumor cerebral maligno, e que deixaram a América em estado de choque.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Enciclopédia de McCain

O departamento de Comunicações do Comité Nacional democrata lançou uma wiki-enciclopédia sobre o candidato republicano à presidência, John McCain. Chama-se a McCainpedia, e o primeiro artigo é sobre o Iraque.

"Oráculo de Omaha"

Warren Buffet, o homem mais rico do mundo, ficará "muito feliz" se Barack Obama for eleito Presidente dos Estados Unidos da América.

Virginia Ocidental III

Robert C. Byrd, senador democrata da Virginia Ocidental, onde Hillary Clinton obteve uma esmagadora votação de 67 por cento, declarou o seu apoio a Barack Obama.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Hamas

Na semana passada, a cadeia televisiva por cabo Fox News tinha um título naqueles rodapés que correm incessantemente no fundo do écran a dizer: "Hamas endorses Obama". Era a interpretação jornalística da declaração de responsáveis do Hamas, que tinham dito que nas presidenciais norte-americanas preferiam uma vitória de Obama. A campanha de John McCain embarcou no mesmo tipo de raciocínio, o que motivou uma série de ataques e desmentidos ao longo dos últimos dias. Obama insistiu que considerava o Hamas (e o Hezbollah) como grupos terroristas e não falaria com os seus líderes, e repetiu que estava disposto a conversar com os chefes de estado de países não aliados dos Estados Unidos (o Irão). Hoje, os blogues desenterravam uma entrevista de McCain em 2006, quando o candidato republicano justificava conversar com o Hamas, então vencedor legítimo das eleições palestinianas.Isto tudo depois da polémica do "appeasement" de George W. Bush. Definitivamente, a campanha já está diferente (alguém ouviu Hillary Clinton?, será que alguém se lembra que há mais primárias na terça-feira?).

O esquadrão

Num momento em que aperta o escrutínio sobre o staff do candidato republicano John McCain, por causa das suas "ligações perigosas" com clientes pouco recomendáveis de importantes grupos de lobby, uma espreitadela ao núcleo duro da campanha, no National Journal de amanhã.


The McCain Squadron

The stalwarts who stuck around after the campaign's crash last summer got the stripped-down, rebuilt machine up and running again.

by Marc Ambinder

Sat. May 17, 2008

When the curtain fell last summer on the Greek tragedy that was the first incarnation of John McCain's 2008 White House bid, his campaign was bankrupt, his public image was battered, and his ego was bruised. The political world quickly moved on.

But a few stalwarts stuck around. They became a volunteer army, pitching in where needed, no matter how menial the task: Dan Crippen, a former director of the Congressional Budget Office with a doctorate in public finance, became known to reporters covering the campaign as "the guy who drives the bus." Brett O'Donnell, whose portfolio included outreach to the Religious Right, ran the TelePrompTer at important McCain speeches. Like many others, McCain's chief policy adviser, Douglas Holtz-Eakin, another former CBO director, worked without pay.

Jill Hazelbaker found herself suddenly promoted from New Hampshire communications director to chief of that shop for the entire campaign. "When I first came to [the campaign's Virginia-based headquarters in] Arlington, all the first calls I got were, 'When is he going to drop out?' Then the calls began to ask, 'When are you going to take matching funds?' because they thought if we took matching funds, it would only be to pay our debts so he could drop out," she recalls.

Five men--newly appointed campaign manager Rick Davis, election strategist Charles Black, media strategist Mark McKinnon, political adviser Steve Schmidt, and confidant Mark Salter--became the engine of the stripped-down, rebuilt campaign machine.

McCain's mood, reflected in his jokes, became grim. And the five were an unlikely group of morale-boosters: Salter had been on the "wrong" side of the schism that resulted in the July resignations of McCain's longtime strategist, John Weaver, and his hand-picked campaign manager, Terry Nelson. Schmidt was a newcomer working to earn McCain's trust. McKinnon was a George W. Bush guy. Davis sensed that some of the remaining staffers did not trust him. But in the martial language that the McCain campaign favors, the time they spent together in the foxhole fostered unit cohesion. "Consensus" became the watchword. "Everybody had different things to bring to the table, but nobody is there for a reason other than to get John McCain elected," Black said in an interview. "Consensus was our method of operation."

Today the five continue to plot campaign strategy, oversee policy development, put words in McCain's mouth (or try to), and tend to the not inconsiderable ego of the candidate. Their portfolios overlap. And they take on the big challenges, such as overseeing McCain's search for a running mate, together.

In public, they present a united front. As they briefed journalists last month about the campaign's structure, Black, in repose, held his face in one hand and mused about McCain's strength in a general election. Schmidt sat bolt upright, unblinking, scanning the faces of various reporters. Salter, his sunglasses clipped to his shirt, tipped back in his chair, surveyed the scene, and occasionally checked his BlackBerry. Republicans who have sat in on strategy sessions say that the core group seems just as collegial in private.

That isn't to say that the machine always runs smoothly. McCain still occasionally calls Weaver, who before leaving the campaign in July spent years overseeing strategy. But Davis has blocked efforts to formally bring Weaver back into the fold; insiders say that he has threatened at least twice to resign if Weaver is asked to return.

And the campaign's gaffes in recent months have led Republicans inside and outside the McCain camp to question its organizational imperatives. Staffers, for example, were never asked to provide even a cursory Google vetting of the Rev. John Hagee, a pastor who blamed Hurricane Katrina's destruction of New Orleans on the city's gay-rights parade, before allowing McCain to appear with him at an endorsement celebration. More recently, two senior aides--the national convention CEO and one of McCain's regional campaign managers--resigned after Newsweek reported that their lobbying firm, DCI Group, once represented Burma's military junta. Longtime allies of McCain's who are not part of the campaign team saw the revelations as evidence that Davis is not doing enough to protect McCain's image as a reformer.

Since essentially wrapping up the Republican nomination, McCain has delivered more than a dozen policy-laden speeches, but the location sometimes seems at odds with the message because it is often determined by where McCain is traveling to raise money.

And some McCain advisers believe that the campaign's rush to lay down markers in various policy areas is counterproductive because McCain tends not to rehearse his remarks very far in advance and has trouble reading them off the TelePrompTer. The more speeches he gives, the fewer chances he has to practice his delivery. Still, McCain personally signs off on every scheduling decision, as does senior adviser Carla Eudy.

Aides blame natural growing pains for some of the confusion. Indeed, the campaign's staff has doubled in two months to about 175. Mini-profiles of McCain's key political and policy advisers follow.

Politics

Rick Davis
Davis, 50, took over as campaign manager last July after serving as the campaign's CEO. In that role, he was responsible for raising money and deciding how the campaign would spend it. He also worked behind the scenes to orchestrate a staff shake-up. Davis, who is close to McCain's wife, Cindy, had managed McCain's 2000 presidential campaign and was in charge of key states for Bob Dole's 1996 White House bid. In 1998, Davis helped found Davis Manafort, a political consulting and lobbying firm that represents companies whose business falls under the jurisdiction of the Senate Commerce Committee, which McCain chaired at the time. Davis has won praise from some of the current campaign's younger staffers for keeping the ship upright and appearing not to hold grudges against those who opposed him during the shake-up. Others, however, remain upset about the McCain loyalists who were pushed out. But media strategist Mark McKinnon told National Journal, "He's done an amazing job of reaching out and inviting people in and opening all the doors. I haven't seen him raise his voice a single time in the entire campaign." Davis doesn't call all of the shots alone, but he controls the budget and the schedule, oversees the policy teams, and coordinates with the Republican National Committee. "Rick's in charge. Everyone knows they work for Rick," election strategist Charles Black says.

Mark Salter
Salter, 53, is variously described in press accounts as McCain's alter ego, his voice, or--more prosaically--his principal speechwriter. But his most important role may be as brand protector. "He is somebody that knows McCain better than anyone else on the campaign," political adviser Steve Schmidt says. Salter is a behind-the-scenes force in policy debates. And in a campaign operation that, like its candidate, is often freewheeling and unpredictable, McCain trusts Salter to shoot down harebrained ideas floated by others who know him less well. Last month, when McCain was set to honor the Rev. Martin Luther King Jr. on the 40th anniversary of his assassination by appearing at the spot where King was killed in Memphis, an overeager aide booked McCain for a roundtable discussion with a controversial liberal Democrat, the Rev. Al Sharpton. Salter learned about the schedule addition as the campaign plane took off for Tennessee. "No. There's no fucking way we're going to do that," he said to no one in particular but within earshot of a National Journal reporter. A quick call to the campaign's Arlington headquarters nixed the idea. Salter's earthy language belies his gift for lyrical prose: He is the co-author/ghostwriter of McCain's five books. Before this campaign, he was McCain's Senate chief of staff (although he preferred the older term, administrative assistant). Earlier, he was an aide to Ambassador Jeane Kirkpatrick at the United Nations.

Mark McKinnon
McKinnon, 53, functions as the campaign's chief marketing officer, its ideas guy. "This wasn't about doing another presidential campaign," he says, an indirect reference to his role as chief media strategist on the Bush-Cheney campaigns. "In my life, I wanted to check the box for McCain. If that meant carrying his bags and cutting trees in Sedona [in Arizona, where McCain has a ranch], if that meant just me and the interns hanging around headquarters, so be it." McKinnon says that the candidate's personality has fostered a special camaraderie among campaign staffers: "There's an interesting thing about McCain in that he loves human interaction. I literally think this is in part because of his POW experience. He just loves human contact. He'll call at the most unexpected times just to say, 'What do you think about this? What do you think about that?' He loves to know what's going on--rumors, gossip, lies, and jokes." Yet McKinnon says that if the Democrats nominate Barack Obama, he'll leave the McCain campaign because he doesn't want to oppose the election of the nation's first black president. Other advisers say that McKinnon is not involved in message planning when Obama is the subject.

Steve Schmidt
Schmidt, 37, is the newest member of the inner circle but is credited with having the most influence on McCain's approach to politics this time around. "He's been able to find a way for McCain to be comfortable with who he is, with the kind of candidate he is, to not violate John's rather extensive and intricate code of conduct and still be an opponent," Mark Salter explains. A case in point: McCain initially refused to say anything about Obama's relationship with the controversial Rev. Jeremiah Wright. And McCain's campaign urged the North Carolina Republican Party to pull an ad linking two gubernatorial candidates to Wright through Obama. But Schmidt convinced McCain that he could say he was offended by Wright's remarks, although he would never use them against Obama. Before joining McCain's operation, Schmidt managed the successful re-election campaign of California Gov. Arnold Schwarzenegger. Schmidt has been a senior aide to Vice President Cheney, helped the White House get John Roberts confirmed to the Supreme Court, and directed rapid-response efforts for the Bush-Cheney re-election campaign.

Charles Black
A legend in Washington, Black, 60, has worked on every Republican presidential campaign since 1976. McCain teases him about his age and experience, calling him "the ancient mariner." In April, Black resigned from his Washington advocacy firm, BKSH & Associates, to serve McCain full-time. "Charlie understands one of the golden rules of life," Schmidt says, "which is that everyone is entitled to be treated with respect, no matter what their title is." Black's strong ties to virtually every important person in the Republican Party have helped McCain to repair the rift between the candidate's inner circle and other parts of the GOP that was caused by the 2000 presidential campaign. Black and campaign manager Rick Davis have been friends for decades. "Where Rick ends and where Charlie begins is an open question," one campaign aide remarked. And Black lent his credibility to Davis's effort to ease tensions after last summer's staff shake-up.

Jill Hazelbaker
Hazelbaker, 27, began her political career in Oregon. She later interned for home-state Sen. Gordon Smith before joining the New York City-based Republican firm Mercury Public Affairs, where she learned the basics, from polling to crisis management. Hazelbaker worked on the ill-fated Senate campaign of Jeanine Pirro when she challenged incumbent Hillary Rodham Clinton, D-N.Y., in 2006. She then signed on with Thomas Kean Jr.'s Senate campaign in New Jersey before jumping at the chance to serve as McCain's New Hampshire communications director. After being promoted last summer, Hazelbaker found the campaign's Arlington headquarters to be "a very lonely office." But there was an upside: She was often the only aide with McCain. "It just was me and him. He didn't have a body guy. He didn't have a traveling aide. That gave us a lot of time to interact," she recalls. What impressed Hazelbaker, the senior staff's youngest member, was how widely McCain consulted, reaching beyond his inner circle for ideas.


nota: o texto, que é reservado a assinantes do National Journal, não está reproduzido na totalidade.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Conto de fadas

O candidato republicano John McCain apresentou o seu plano para o primeiro ano de mandato, prometendo quatro anos de Administração virados para a solução dos problemas da América e não o prolongamento da campanha eleitoral para a reeleição.
Segundo McCain, até 2013 vai ser possível:
- Vencer a guerra do Iraque e retirar o grosso das tropas americanas daquele território;
- Capturar Osama Bin Laden ("vivo ou morto") e reduzir significativamente a expressão da Al-Qaeda no Afeganistão;
- Convencer o Irão a desistir do seu programa nuclear;
- Assinar um tratado de não-proliferação com a Coreia do Norte;
- Pôr fim ao genocídio no Darfur;
- ...Esta é apenas uma amostra de algumas das estimativas do candidato para a sua agenda de política externa. O discurso foi longo e profundamente detalhado -- se de certeza que se McCain for eleito, alguém se vai encarregar de ir conferindo esporadicamente o cumprimento de tal ambicioso caderno de encargos.
A intervenção deixou os jornalistas perplexos. E McCain não gostou quando lhe perguntaram sobre a "viagem de tapete mágico".

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Breaking News

John Edwards apoia Barack Obama.

Act.: Já há notícias nas agências, ver aqui a Reuters.

Design gráfico

USA Political Election Logos 2008 - 1960

(via The Daily Dish, o blogue do jornalista conservador Andrew Sullivan, que recomendo)

Ano democrata?

De acordo com uma sondagem de hoje da Quinnipiac University, quer Hillary Clinton quer Barack Obama estão em posição de bater o republicano John McCain nas presidenciais de Novembro. A senadora, auxiliada pelo voto das mulheres e (imagine-se) dos afro-americanos, tem uma vantagem de cinco pontos (46 por cento contra 41 por cento); Obama, com o apoio dos independentes e (também) dos negros, mais confortavelmente à frente, com 48 por cento das intenções de voto contra 37 por cento.
Há outros sinais que antecipam um ano democrata. Em todas as eleições intercalares e extraordinárias realizadas para o Congresso, os assentos em jogo, ocupados por republicanos, mudaram para os democratas. Voltou a acontecer ontem no Mississippi, um estado fortemente conservador e cuja tradição de voto é consistentemente republicana. Depois de uma campanha renhida e muito polémica, o democrata Travis Childers conquistou o 1º Distrito Congressional do Mississippi ao republicano Greg Davis, com uma folgada margem de oito por cento -- que não foi exactamente uma surpresa.
Com um presidente que já foi classificado como o pior da história dos Estados Unidos, uma guerra prolongada e profundamente impopular e com 82 por cento da opinião pública a considerar que o país está no rumo errado, o desafio para os republicanos nas eleições de Novembro é tremendo. O que não quer dizer que os democratas tenham o caminho aberto até à Casa Branca.

Papagaio azul da Noruega

Dana Milbank, colunista do Washington Post, sobre a candidatura presidencial de Hillary Clinton no rescaldo da primária da Virginia Ocidental: esta campanha é como o papagaio azul da Noruega dos Monty Python — morto; deixou de existir; expirado; foi conhecer o Criador; rígido; privado de vida, repousa em paz; os seus processos metabólicos pertencem à história; bateu a bota; vencido pelo tumulto da morte; fechou a cortina e foi juntar-se aos coros celestiais. "Esta é uma ex-candidata", sentencia.

Kentucky, Oregon, Porto Rico, Dakota do Sul, Montana

Hillary Clinton diz que está mais determinada do que nunca. Temos mais três semanas de campanha.

Enquanto não começa o discurso

... que o director de campanha, Terry McAuliffe, prometeu ser "o melhor discurso de todos os tempos" de Hillary Clinton, uma pequena fantasia cinematográfica para distrair.

Razões porque Hillary não vai desistir

A (dramática) vitória de Hillary Clinton na Virginia Ocidental não chega para produzir uma alteração profunda na matemática eleitoral que favorece Barack Obama: mais delegados, mais superdelegados, mais estados, maior votação. A única forma de Hillary conseguir equilibrar essas contas seria ganhar as cinco eleições que faltam com 90 por cento dos votos, algo que qualquer um percebe ser virtualmente impossível. Ainda assim, há várias razões que explicam porque Hillary Clinton não vai desistir da corrida:

1. Porque ainda acredita que pode ser a nomeada democrata para Novembro -
Hillary vai lembrar que a vitória de hoje, bem como a do Ohio ou da Pensilvânia, dá conta de como a sua candidatura é capaz de garantir para o seu partido os swing-states que os republicanos conquistaram com George W. Bush. A candidata pode assim insistir com os superdelegados que só ela carregará os votos necessários do Colégio Eleitoral que determina quem é o Presidente dos Estados Unidos.

2. Porque quer ser vice-presidente -
Consciente do carácter absolutamente histórico desta eleição, Hillary Clinton (ou mais ainda, a marca Clinton) poderá não querer deixar o seu nome de fora das páginas dos compêndios: eleger uma mulher para a Casa Branca será um momento revolucionário, quer ela seja presidente ou vice-presidente. E se Hillary acabar como parceira de Obama, será automaticamente a próxima nomeada democrata para a presidência.

3. Porque quer influenciar a agenda política da próxima Administração -
Hillary pode negociar com a campanha de Obama as condições para sair de cena antes da Convenção Democrata de Denver, e isso implica receber garantias do seu adversário de que algumas das suas propostas de campanha serão vertidas para o programa de governo da sua candididatura.

A pergunta é:

Quantos superdelegados vão mudar de ideias depois da esmagadora vitória de Hillary Clinton na Virginia Ocidental?

p.s. e já agora, se ainda há alguém disponível para financiar o prolongamento da campanha Clinton?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Virginia Ocidental II

Se restasse alguma dúvida sobre a importância que a campanha de Barack Obama deu à eleição da Virginia Ocidental, acabamos de receber o "stand-by" para a única declaração que o senador do Illinois vai fazer esta noite -- antes de fecharem as urnas e no estado do Missouri.

O pastor de McCain

John McCain nunca condenou veementemente as declarações de John Hagee, polémico pastor e tele-evangelista do Texas que é um apoiante da candidatura presidencial do senador republicano do Arizona e, aparentemente, um feroz crítico (à falta de uma palavra melhor) do Catolicismo -- o video do seu sermão descrevendo a Igreja Católica como a "Great Whore" mencionada no Livro das Revelações é um êxito no YouTube. O pastor já apresentou uma explicação para a sua original interpretação dos escritos sagrados, penalizando-se pelas "incorrecções" da sua leitura. Disse Hagee que na sua ânsia de denunciar o anti-semitismo ainda vigente no mundo, acabou por incorrer num outro tipo de preconceito e intolerância, que são injustificáveis.
Mas outras polémicas declarações do evangelista texano — que lidera uma igreja com mais de 17 mil membros — ficaram por esclarecer: por exemplo, a acusação de que a Igreja Católica fomentou o Holocausto, a alegação de que o furacão Katrina foi um castigo divino pela homossexualidade (já não tínhamos ouvido um outro pastor falar em termos semelhantes sobre a Sida?) ou a comparação das mulheres a cães.A candidatura de McCain não está a experimentar o mesmo tipo de pressão que se abateu sobre Barack Obama depois de conhecidas as afirmações polémicas do seu pastor Jeremiah Wright, mas parece finalmente dar sinais de estar preocupada com os efeitos que a exploração desta (desconfortável) ligação pode ter na sua campanha. Por mim, tenho dúvidas que o comunicado de imprensa hoje emitido, de título "Controversy Ends" [Fim da Controvérsia], venha a pôr ponto final ao assunto.

Virginia Ocidental

Vota-se há umas horas na Virginia Ocidental, e enquanto as urnas não fecham e os comentadores aparecem para falar sobre os resultados, as televisões entretêm-se a ouvir os eleitores, com reportagens à entrada das secções de voto. Não viajei para a Virginia Ocidental, mas já fiz isso mesmo em muitos outros estados -- na verdade, não há muito mais para fazer no dia da votação. Hoje, como em todas as outras ocasiões, já ouvi as mesmas respostas às mesmas perguntas: qual é o tema que mais o preocupa?, "a economia", "economia", "a economia, claro"; o que o leva a votar por um ou outro candidato?, "a competência", "a inspiração", ...
Nesta era de sondagens, e de linguagem jornalística cada vez mais cifrada, limitamo-nos a uma pequena série de palavras: os inquéritos de opinião dividem as propostas e os sentimentos a um número de categorias, as candidaturas políticas repetem uns quantos slogans, os jornalistas insistem nas mesmas perguntas, os eleitores absorvem toda esta comunicação e reproduzem-na fielmente de volta, fechando o ciclo que se repete a cada nova votação.
Todos dizemos pouco — "economia", "experiência", "segurança" — para significar muito. E, vá-se lá saber porquê, todos achamos que sabemos exactamente do que estamos a falar.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fenómeno

Jantei com uma amiga americana, fervorosa apoiante de Hillary Clinton, e que como todos os fervorosos apoiantes de Hillary Clinton está ressentida com a imprensa pela sua alegada preferência de Barack Obama. "O que mais me irrita é que não párem de falar sobre o 'fenómeno' Obama, e depois não digam nem uma palavra do 'fenómeno' de Hillary. Ela é que é um fenómeno", repetia, ainda séria mas já sem o sobrolho carregado que lhe vi há umas duas ou três semanas -- mesmo os fervorosos e indefectíveis apoiantes de Hillary já perceberam que alcançar a nomeação é uma missão impossível. Tudo o que querem, agora, é uma vénia e uma saída digna de cena.
Ao ver as imagens da candidata hoje na televisão, incansável como sempre na sua campanha pela Virginia Ocidental, lembrei-me do que disse. Hillary Clinton é um fenómeno, como mulher, como política, como candidata presidencial. E a única explicação que encontro para que a imprensa não repita isso a cada semana que passa é, porventura, o "azar" de Hillary por defrontar um adversário ainda mais fenomenal do que ela. Convenhamos: muito poucas pessoas, mulheres ou homens, a mais de metade da respectiva carreira profissional e sem qualquer experiência política substantiva para além do casamento, seriam capazes de se fazer eleger para o Senado dos Estados Unidos e, tal como Hillary, ganhar o respeito e proeminência — num mandato — para surgir como a candidata natural para a presidência do país! Como explicar, por exemplo, que se aceite com tamanha parcimónia que Hillary, quase tão "inexperiente" como Obama, seja mais "statu quo" no Partido Democrata do que por exemplo Joe Biden, ou Chris Dodd, os dois veteranos e reputados legisladores que ela ensombrou por completo na corrida pela nomeação, ou que as suas aspirações (ambições) políticas pareçam mais legítimas ou justificadas do que as de outras mulheres percursoras no Congresso, como a senadora Barbara Boxter ou a congressista Nancy Pelosi?
Impressionante, há que reconhecer. Um fenómeno, sim, acho que tem razão a minha amiga.

domingo, 11 de maio de 2008

Sonhos

A minha amiga Lourdes, repórter da BBC Mundo com quem partilho muitas vezes o quarto de hotel nesta ronda de primárias, já várias vezes se tinha queixado. De manhã, no pequeno-almoço, aparecia sem grande energia e dizia com ar conformado: "Outra vez. Esta noite foi Hillary Clinton". E explicando o seu tormento: "Isto tem de acabar depressa, já não aguento mais". O convívio diário com os candidatos presidenciais ultrapassou todos os limites: agora não são só os comícios, as conferências de imprensa, os anúncios televisivos, os emails das campanhas; são também os sonhos, povoados por insólitas aparições de Clinton e Obama. Para grande conforto da Lourdes, percebemos que o fenómeno está generalizado. E que até já há um website para que aqueles que sofrem do mesmo problema possam dar conta das suas experiências. Vale a pena uma espreitadela.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

E a propósito...

... da capa da Time e o alegado fim da corrida, ver este texto da Slate;

... da transformação de Hillary e Obama, ler o relato do veterano Joe Klein aqui;

... da "simpatia" da imprensa por Barack Obama, confissões aqui.

Time Magazine

PowerPoint

O argumentário da campanha Clinton para os superdelegados, aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Eavesdropping *

Estava eu a cruzar o átrio do meu prédio, quando o meu vizinho Lee, que já só consegui identificar pela voz por causa do movimento da porta do elevador, me atira lá de dentro:

"Já não deve durar mais do que uma semana!"


* hábito de escutar atrás das portas

Hillary vice-presidente

George Stephanopoulos, o repórter da ABC e antigo porta-voz de Bill Clinton, especulou sobre a existência de "intermediários" a negociar um ticket conjunto Obama-Hillary, e a especulação está a entreter os bloggers americanos.

Countdown

Countdown to West Virginia: 5 days
Countdown to Kentucky and Oregon: 12 days
Countdown to Election Day 2008: 180 days
Countdown to Inauguration Day 2009: 257 days

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Atenção nos próximos dias

- Ao número de superdelegados que decidirem manifestar o seu apoio. Neste momento, restam 277 superdelegados não-declarados, que certamente conhecerão uma renovada pressão da campanha de Barack Obama para avançarem a sua solidariedade -- até como medida preventiva de contenção da esperada vitória de Hillary Clinton na primária da Virgínia Ocidental, na próxima terça-feira;

- À capacidade de financiamento de Hillary Clinton. A campanha da senadora de Nova Iorque está virtualmente no vermelho: segundo a Federal Electoral Commission, no início de Abril Clinton dispunha de 9,3 milhões de dólares para gastar nas primárias (e dívidas acumuladas no valor de 10,3 milhões de dólares). Para fazer face às despesas, a família Clinton emprestou mais 6,4 milhões de dólares à candidatura (no início do ano, já tinha investido 5 milhões da sua fortuna pessoal). A candidata tem dinheiro para se manter na corrida até ao final, mas não para competir seriamente -- em Abril, Obama tinha 42 milhões de dólares no cofre. Se os apoiantes de Clinton não corresponderem ao seu novo apelo por dinheiro, a sua candidatura poderá acabar antes de Junho.

Cinco semanas

"Estamos a menos de 200 delegados de alcançar a nomeação democrata para a presidência dos Estados Unidos", disse Barack Obama ontem à noite, depois de confirmada a sua vitória nas primárias da Carolina do Norte. Horas mais tarde, falando para os seus apoiantes no Indiana, Hillary Clinton surpreendia com a sua avaliação dos resultados: "Agora, é a todo o vapor até à Casa Branca".
Mas definitivamente, ontem ganhou a matemática.

Matemática ou Psicologia

Vamos descobrir o que conta mais nesta campanha eleitoral democrata hoje à noite, depois de conhecidos os resultados do Indiana e da Carolina do Norte.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Leon

Depois de uns dias sem acesso a jornais, ao telemóvel ou à internet, encontrei Leon, um advogado sul-africano especialista em direito das telecomunicações que vive mais de metade do seu tempo em aeroportos, hotéis e salas de conferências e cuja irmã, procuradora-adjunta em Brooklyn, no estado de Nova Iorque, tem "grandes conexões" no Partido Democrata. Estávamos numa varanda aberta sobre as águas tranquilas do arquipélago de Bocas del Toro, no Panamá, numa ilha onde não existem automóveis e cujos nativos parecem não ver razão para usar calçado -- e em questão de minutos, fiquei a saber tudo sobre os comentários polémicos do reverendo Jeremiah Wright no National Press Club e da reacção de denúncia de Barack Obama , das propostas de Hillary Clinton para fazer face ao aumento do preço dos combustíveis, e de como a imprensa americana continuava a ter muito pouco que dizer sobre a campanha de John McCain.Leon era uma impressionante, improvável e caricata sumidade em todos os assuntos relacionados com as primárias norte-americanas: debitava números sobre os delegados, os dados das sondagens e as características demográficas dos estados (que já foram ou ainda vão a votos) como se os estivesse a ler num manual directamente à sua frente; comparava detalhadamente as propostas políticas dos dois candidatos democratas e contrapunha-as às do seu adversário republicano; recordava pormenores históricos relevantes, coloridos com pequenas histórias de personagens políticas regionais; especulava sobre as consequências de uma vitória democrata ou republicana em Novembro. "Claro que os democratas ganham. Quando forem votar, as pessoas já não se vão lembrar das primárias, vão-se lembrar de Bush. Bush!... quer dizer, ninguém pode ser pior...", garantia.
Perdemos umas boas três ou quatro horas naquela noite a discutir a política dos Estados Unidos -- e também sobre alianças e rivalidades internacionais, a globalização, as pessoas que pilotam pequenos aviões como hobby, os iPods e o Facebook. Voltamos a cruzar-nos pela manhã, num pequeno cais onde se tomava um bom pequeno-almoço. Leon agarrado ao computador e uma parafernália de acessórios, atirou-me um olá vago e cúmplice enquanto eu enfiava o repelente de mosquitos na mochila antes de mais um dia de passeios e mergulhos.