quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

2004: o início do fenómeno Obama


A primeira vez que ouvi Barack Obama discursar foi na convenção democrata de 2004.

Já nessa altura, Obama não era bem um desconhecido. Era um jovem (relativamente - tinha 42 anos) político do Illinois em ascensão; despertava muito interesse da classe política americana, porque tinha reputação de eloquência e seriedade, e porque era um político negro que não vinha dos meios tradicionais da comunidade afro-americana (como Jesse Jackson ou Al Sharpton).

Era visto como uma potencial "estrela", ao ponto de ser convidado para fazer o discurso "keynote" da convenção. Concorria ao Senado por um estado importante, para um cargo na altura ocupado por um republicano.

Obama não era um desconhecido - mas a convenção de 2004 foi a sua estreia no palco político nacional. Foi uma estreia auspiciosa.
Lembro-me de ter pensado que Obama começou titubeante, mas encontrou a sua voz e acabou por conquistar a plateia de Boston.

Lembro-me de ficar impressionado com o carisma de Obama. Do que não me lembrava era do que ele tinha dito; tive de ir reler o texto do seu discurso.

O discurso não tem nada de muito surpreendente. Obama reafirmou o que era a mensagem democrata em 2004: promessas proteccionistas do lado económico, críticas ao "divisionismo" de Bush, garantias de que a experiência de John Kerry fazia dele o melhor candidato para "manter a América segura".

Para além disso, Obama disse em 2004 muito do que está a dizer na actual campanha: contou a sua história pessoal, apresentando-a como um símbolo das possibilidades que a América oferece, insistiu na ideia de esperança.

Usou muitas vezes a palavra "hope", usou mesmo a expressão "the audacity of hope" ("a audácia da esperança"), que viria a ser o título do livro publicado dois anos mais tarde que serviu de manifesto para a sua campanha presidencial.

Isto foi há quatro anos. Nessa altura, as atenções na América e no resto do mundo estavam centradas no combate Bush-Kerry. Mas o discurso de Obama foi um ponto de partida; foi uma entrada triunfante na cena política nacional dos EUA.

Poucos meses depois, Obama triunfou na corrida ao senado do Illinois (muito mais facilmente do que se esperava, em parte porque os seus adversários republicanos se autodestruíram). Em 2006, avançou com a sua candidatura à presidência.

No ano passado, começou a afirmar-se como a grande alternativa à então favorita Hillary Clinton. Agora, parece muito perto de conquistar a nomeação.

Teresa de Sousa escreve hoje no PÚBLICO sobre as origens e as consequências do fenómeno Obama:

Ele é, claro, a face de uma América que toda a gente ama e com a qual toda a gente sonha
Em 2004, já havia muitas expectativas à volta de Barack Obama. Mas poucos esperavam que se concretizassem tão cedo.

Lembro-me de, há quatro anos em Boston, ter pensado: este homem há-de ser candidato à presidência em 2012 ou 2016. Afinal, parece que vai ser já.

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