quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

No sleep till Brooklyn

A minha amiga Andreia Azevedo Soares, com a sua especial sensibilidade e o seu muito próprio sentido de oportunidade, acaba de me enviar este comunicado da American Academy of Sleep Medicine, sobre os efeitos da privação do sono na campanha eleitoral. Muito a propósito, estes especialistas na medicina do sono vieram avisar para as consequências da carregada agenda dos candidatos presidenciais -- como as viagens constantes e a sucessão de comícios, entrevistas, eventos de fundraising e sessões de estratégia são incompatíveis com as oito horas de sono de que o organismo necessita para se regenerar.
Os médicos ainda nos alertam que "a privação do sono pode ter um impacto severo na disposição e performance de um candidato, aumentando as probabilidades de um lapso de memória, uma decisão arriscada, um engano crítico, um comentário inapropriado, uma explosão de fúria".
Também dizem estes senhores que os litros e litros de café, Red Bull e uma série de outras mixórdias destinadas a enganar o sono que todos andamos a beber desde o início do ano não nos adiantam nada.
E o pior de tudo? Esta lista de sinais e sintomas da privação do sono. Não sou candidata a nada e já passei por todos, 1, 2, 3, 4, 5, 6... Mas o que me preocupa mais é o número sete. Está explicado porque hoje me dói tanto a garganta.


p.s. com a devida vénia aos Beastie Boys. Ninguém dorme!

Ralph Nader outra vez

Ralph Nader, o advogado de defesa dos consumidores americanos que não resiste a candidatar-se à presidência dos Estados Unidos, acaba de constituir um comité exploratório para a sua eventual/futura candidatura independente à Casa Branca.
A iniciativa não surpreendeu quase ninguém e nem sequer gerou sobressalto mediático, até porque este ano a grande "história" é a das aspirações presidenciais do milionário mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg, mesmo quando este repete não estar para aí virado.No mês passado, Nader tinha apoiado publicamente a candidatura de John Edwards. A saída do antigo senador da Carolina do Norte da corrida, deixou assim a porta aberta ao regresso do activista — que ainda hoje é responsabilizado pela derrota de Al Gore nas presidenciais de 2000 (em 2004 Nader voltou a concorrer, mas dessa vez não chegou sequer aos 500 mil votos e não incomodou nenhum dos candidatos).
A jogada de Nader pode ser interpretada como uma espécie de aviso aos eleitores democratas: prestem atenção porque nós, os que não suportamos Hillary Clinton, ainda vos estragamos a festa em Novembro.

O que vai Rudy fazer agora?


Como era previsível, Rudy Giuliani desistiu da sua candidatura.

Este excelente artigo do Washington Post documenta como é que Giuliani passou de favorito a eliminado na corrida republicana (vários factores: problemas pessoais, falta de dinheiro, erros de organização, estratégia falhada, a recentragem do debate político na economia).

O "mayor da América" deu o seu apoio a John McCain, reforçando o estatuto do senador do Arizona como novo favorito à nomeação republicana.

E agora, o que se segue para Giuliani?

Uma possibilidade seria tornar-se na escolha de McCain como candidato a vice-presidente; mas isso é pouco provável.

McCain tem excelentes relações com Giuliani - mas ambos falam para o mesmo tipo de eleitorado (republicanos moderados, independentes), e os seus temas-chave são os mesmos (terrorismo, política externa).

Paradoxalmente, ser "parecido" com McCain praticamente desqualifica Giuliani de ser o "vice". Se conquistar a nomeação republicana, McCain deverá escolher um parceiro que compense os seus pontos mais fracos (provavelmente, um conversador próximo dos cristãos evangelistas ou um especialista em questões económicas).

O futuro de Giuliani? Numa Administração McCain, Giuliani parece uma escolha óbvia para o cargo de "attorney general" (semelhante a ministro da Justiça). Nos próximos meses, deverá regressar ao sector privado, na sua empresa de consultoria.

E outro "desistente" de ontem, John Edwards? O democrata ainda não se pronunciou a favor de nenhum dos seus concorrentes; ao contrário de Giuliani, não é de todo improvável que Edwards seja o "vice" de Obama ou Clinton.

Depois de Rambo, o Terminator


O Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, apoia John McCain.

Super Tuesday - faltam 6 dias

Nos 24 estados onde se vão realizar primárias ou caucus no próximo dia 5 de Fevereiro estão em jogo 1681 delegados. As regras são diferentes para os democratas e para os republicanos — os primeiros continuam a usar o método proporcional na eleição dos delegados, os segundos, graças a Rudy Giuliani, têm ainda mais estados onde o total de delegados é atribuído ao vencedor. Por isso John McCain pode chegar ao dia 6 de Fevereiro como o futuro candidato republicano à Casa Branca. E também por isso, será preciso esperar por mais eleições para descobrir se os democratas vão escolher Hillary Clinton ou Barack Obama.

Eavesdropping*

No Jerry's Famous Deli de Miami Beach:

Empregado de balcão: "Não me digas que foste votar na Hillary Clinton?"
Cliente: "Não, estas primárias não contavam para nada."
Empregado de balcão: "Nem quero pensar em ter de gramar outra vez os Clintons na Casa Branca!"
Cliente: silêncio
Empregado de balcão: "Parece que os Mets vão comprar o Johan Santana..." (jogador de baseball)
Cliente: "Okay, vamos dizer mal dos Clintons!"



*hábito de escutar atrás das portas

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A trapalhada da Florida 2008?


Há oito anos, as presidenciais americanas prolongaram-se penosamente devido a problemas na Florida. É possível que a Florida volte a estar no centro de um tremendo imbróglio eleitoral este ano.

O problema pode dar-se do lado democrata - e a "culpa" não será apenas da Florida, mas também do estado do Michigan.

A história é longa e complicada, e algo improvável. Começa com um movimento em meados do ano passado, no qual inúmeros estados decidiram antecipar a data da realização das suas primárias. Porquê? Porque receavam que o processo eleitoral deste ano fosse como nas últimas duas décadas (não está a ser...), e os primeiros estados a votar decidissem os nomeados - tornando irrelevantes as eleições nos estados com primárias mais tardias.

A maior parte destes estados antecipou a sua eleição para a "super-terça-feira". A Florida e depois o Michigan resolveram antecipar a data das suas primárias para ainda mais cedo.

Estes dois estados marcaram a data das suas eleições à revelia das direcções nacionais dos dois partidos. Tanto republicanos como democratas ameaçaram sanções, mas isso não demoveu os governos estaduais.

Os republicanos optaram por uma sanção parcial. O Comité Nacional Republicano "multou" ambos os estados em 50 por cento dos delegados. Ou seja, o Michigan e a Florida só serão representados na Convenção do partido por metade do número de delegados a que teriam direito.

A opção do Comité Nacional Democrata (DNC) foi mais radical. Puniu a Florida e o Michigan tirando-lhes todos os seus delegados.

Isto é: as primárias democratas do Michigan e ontem na Florida foram, para todos os efeitos, "beauty contests". Nenhum destes estados tem direito de voto.

A decisão do DNC foi acatada por todos os candidatos democratas, que se escusaram a fazer campanha nestes estados. Mais ou menos: Hillary Clinton no Michigan, e Hillary e Obama na Florida acabaram por dar alguma atenção aos estados refractários.

Clinton acabou por triunfar nas "eleições-fantasma" tanto do Michigan como da Florida. O que lhe dá, em teoria, nenhum delegado - aliás, a campanha de Obama até troçou da vitória de Clinton na Florida, dizendo que ambos tinham ganho o mesmo número de delegados - zero cada um.

Mas aqui as coisas complicam-se.


A Florida e o Michigan são estados muito importantes nas eleições de Novembro - têm populações significativas, e podem pender para qualquer um dos partidos. Para ganhar a presidência, os democratas deverão ter de vencer em ambos os estados.


Portanto, não é nada conveniente aos democratas hostilizar os cidadãos dos dois estados. A expectativa nos meios políticos americanos era que, dentro de algumas semanas, quando a corrida à nomeação já estivesse resolvida, o DNC decidisse voltar atrás - dizer "Florida, Michigan, afinal podem ter delegados na convenção".


Mas essa expectativa dependia da possibilidade de a corrida democrata já estar completamente decidida antes da convenção. E pode não acontecer assim.


Se Obama e Clinton chegarem à convenção com um número semelhante de delegados, os estados penalizados podem ter um impacto crucial. E se o DNC nessa altura decidir que afinal perdoa Florida e Michigan? A beneficiada aí seria Clinton, que ganhou os "beauty contests".


Mas aí Obama poderia, e com alguma razão, argumentar que se soubesse que o DNC iria voltar atrás, teria feito campanha nestes dois estados - e provavelmente teria obtido resultados melhores.


E assim, a Convenção democrata de Agosto ficaria marcada pela controvérsia. O DNC teria de escolher entre dois males. Ou manter as penalizações e dizer aos eleitores do Michigan e da Florida que os seus votos não servem para nada; ou voltar atrás e desvirtuar o processo eleitoral.


Hillary Clinton, naturalmente, quer que as penalizações sejam abolidas.


Enfim, enfim, este cenário é meramente hipotético. O cenário mais provável é que a "super-terça-feira" de dia 5 ajude a definir um favorito entre os democratas; e que ou Hillary ou Obama consigam conquistar a nomeação sem ser necessário fazer contas à Florida e ao Michigan.


Mas também é possível que as coisas corram mal. Não era a primeira vez que o processo eleitoral americano emperrava por causa da Florida.

Glossário: Beauty contest

Glossário - onde se explicam alguns dos termos mais rebuscados do dicionário político americano
Beauty Contest

As primárias da Florida já tiveram impactos significativos na campanha. Mas, do lado democrata, não contaram; devido a discordâncias sobre a calendarização da eleição, o Partido Democrata determinou que este estado (tal como o Michigan, e pela mesma razão) não vai ter direito a delegados na convenção que vai nomear o candidato democrata à presidência.

Daí que haja muitas descrições da eleição democrata na Florida como um "beauty contest" ("concurso de beleza"). O termo, no contexto político americano, define uma eleição em que não se decide nada - como num concurso de "misses", vota-se em quem é mais "bonito", mas a decisão não tem consequências de facto.

Edwards deverá desistir hoje


Espera-se que hoje Rudy Giuliani desista da sua candidatura. Mas parece que não vai ser o único.


John Edwards deverá anunciar hoje, às seis da tarde portuguesas, que vai abandonar a corrida à nomeação democrata.


Segundo a Associated Press, Edwards não irá - para já - declarar apoio nem a Hillary Clinton nem a Barack Obama. Resta saber se está a aguardar para mais tarde na campanha ou se espera pela convenção.


Edwards candidatou-se com uma ideologia "populista" muito virada para temas económicos, retomando o conceito das "duas Américas" que havia dominado a sua candidatura de 2004.


Nestas eleições, nunca conseguiu desviar os holofotes de Obama e Clinton. Tentou desesperadamente convencer o eleitorado de que as primárias democratas eram uma "corrida a três" - mas foi coleccionando terceiros lugares, incluindo no estado onde nasceu.


É possível que hoje não seja a última vez que ouvimos falar de John Edwards. A sua insistência na denúncia do crescimento das desigualdades económicas nos EUA teve ressonância entre os eleitores democratas. Não é improvável que o candidato democrata - Clinton ou Obama - escolha Edwards como seu "número dois".


Nota adicional: tudo correu mal a Rudy Giuliani. Até no dia em que se espera a sua declaração de desistência vai ter de partilhar as atenções mediáticas com Edwards...

Os republicanos já têm um favorito


...que é John McCain.


Os resultados das primárias republicanas na Florida foram um triunfo enorme para McCain. Ganhou - ficou um pouco menos de 100 mil votos à frente de Mitt Romney.


Mas, mais importante ainda, a Florida praticamente ditou o fim da campanha de Rudy Giuliani (espera-se que ainda hoje Giuliani anuncie a sua desistência).


E isso não significa apenas menos um adversário para McCain; significa também que os potenciais apoiantes de Giuliani irão, provavelmente, passar para o seu lado. Isto será ainda mais verdade se, como a imprensa americana vai noticiando, Giuliani der o seu apoio ao senador do Arizona.


A corrida republicana ainda não está decidida. Mitt Romney voltou a ficar em segundo lugar, mas ficou perto de McCain. Huckabee foi quarto, com apenas 13 por cento dos votos, mas o ex-governador do Arkansas havia praticamente abandonado a Florida para se concentrar em estados onde as suas possibilidades de sucesso são maiores. E até a campanha de Ron Paul, apesar de uma votação marginal, continua a ter recursos financeiros suficientes para prosseguir a caminho da "super-terça-feira".


Em todo o caso, já um favorito entre os republicanos. E é McCain.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Bienvenidos a Miami


Confesso que me sinto um bocadinho ridícula, agarrada ao computador a escrever sobre eleições primárias quando toda a gente à minha volta está de fato-de-banho...

A hora da verdade para Rudy Giuliani


Hoje há primárias na Florida - e elas podem ditar o futuro político de Rudy Giuliani.

Durante muito tempo, Giuliani era o principal favorito à nomeação republicana - mas esse favoritismo esvaiu-se, e o "mayor da América" adoptou uma estratégia sem precedentes na história política recente dos EUA.

O essencial dessa estratégia: ignorar os primeiros estados, ganhar na Florida e assumir o controlo da corrida republicana na "super-terça-feira".

Para isso, parece obrigatório que Giuliani tem que ganhar na Florida. Mas as coisas não parecem estar assim encaminhadas.


A campanha de Giuliani está em crise - a ponto de parte do seu "staff" ter prescindido dos salários (mau sinal - porque significa falta de dinheiro, o que por sua vez significa falta de apoios). E as sondagens apontam para uma corrida a dois entre Romney e McCain na Florida.


Pontos positivos para Giuliani: as sondagens não têm sempre acertado; Giuliani está há muitas semanas na Florida, e está a contar com o "early voting" (muitos eleitores na Florida votam por correio antes do dia da eleição; presumivelmente, alguns terão votado quando Giuliani ainda aparecia na frente das sondagens); e, afinal, pelo menos uma parte da sua estratégia está a cumprir-se - ainda não há nenhum favorito entre os republicanos, e se Giuliani ganhar na Florida, partirá numa posição de força para a "super-terça-feira".


Mas para isso é preciso ganhar. E, para isso, Giuliani vai ter de conseguir um triunfo surpreendente.

Glossário: Robocalls e Push-Polling

Glossário - onde se explicam alguns dos termos mais rebuscados do dicionário político americano

Robocall

Chamadas automáticas feitas em massa por campanhas políticas. É uma espécie de "spam" telefónico.

Contava-se aqui abaixo como o telefonema é uma arma de campanha habitual em eleições americanas; tradicionalmente, essas chamadas eram personalizadas. Isto é, eram feitas por um indivíduo que falava directamente com a pessoa do outro lado da linha.

Actualmente, as campanhas recorrem muito mais às "robocalls" - mensagens gravadas, enviadas em massa para muitos milhares de telefones ao mesmo tempo. A sua eficácia é duvidosa e há muita gente que não gosta delas, mas como são um meio directo e relativamente barato de chegar a muita gente, são cada mais utilizadas.

Push-polling

As chamadas telefónicas de campanhas políticas podem servir para transmitir propaganda de um candidato, tentar mobilizar o eleitorado para ir votar ou, em alguns casos, para fazer sondagens.

Há ainda uma outra possibilidade: ataques disfarçados de sondagens. Isso é o "push-polling" - uma prática que todos os agentes políticos dizem detestar, mas que muitos utilizam.

Uma "push-poll" é um telefonema cujo autor se apresenta ao interlocutor como fazendo uma sondagem. Mas as perguntas são direccionadas para transmitir uma determinada mensagem, normalmente para chamar a atenção para um aspecto negativo de um candidato adversário da organização que está a fazer a chamada.

Por exemplo, uma "push poll" podia perguntar qualquer coisa como "o facto de o candidato X ser a favor do aborto torna mais provável que vote nele ou não?" ou "acha que é boa ideia aumentar os impostos, como o candidato Y acha que se deve fazer?".

Algumas "push polls" são bastante mais pérfidas - porque procuram disseminar mentiras a coberto do pretexto das sondagens.

O exemplo mais conhecido de uma "push poll" deste tipo remonta às primárias da Carolina do Sul de 2000 - quando aliados de George W. Bush (cuja campanha sempre desmentiu estar por trás das chamadas) fizeram telefonemas a eleitores com perguntas como "estaria mais ou menos inclinado a votar em John McCain se soubesse que ele tinha uma filha negra ilegítima?" (esta pergunta era especialmente maliciosa, porque foi acompanhada da distribuição de panfletos em que McCain aparecia em fotos junto de uma rapariga de pele escura - que não é uma filha ilegítima de McCain, mas sim uma filha adoptiva nascida no Bangladesh...)

Quando o telefone não pára de tocar

Nos Estados Unidos, os telefonemas de "telemarketers" para casas particulares são legais. Foi criada uma lista nacional - a Do Not Call List - onde se pode registar quem não queira receber este tipo de chamadas; no entanto, em muitos estados, essa limitação não se aplica a campanhas políticas.

Isso significa que, quando uma campanha aquece, os eleitores dos estados mais disputados têm de se sujeitar a uma avalanche de chamadas a apelar ao voto neste ou naquele candidato. É o caso da corrida republicana na Florida - as primárias são hoje, o que significou um fim-de-semana muito activo nas linhas telefónicas do "Sunshine State".

O New York Times conta a história de uma casa na Florida que, no espaço de seis horas, recebeu oito-chamadas-oito de candidatos. O Times divulga na sua página seis desses telefonemas (nota: nos nossos computadores, só conseguimos ouvir as duas últimas).

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Mais apoios

- O clã Kennedy está em força com Barack Obama. Caroline, filha do adorado John F. Kennedy, diz que o senador do Illinois é "como o meu pai". Ted Kennedy, o velho "leão liberal", promete à multidão histérica da American University de Washington usar toda a sua influência para ajudar a eleger Obama.

- Rudy Giuliani satisfeito por não ser endossado pelo "The New York Times".

- Liz Cheney, a filha do vice-presidente, apoia Mitt Romney.

- O senador de origem cubana Mel Martinez, e o popular governador da Florida Charlie Crist, apoiam John McCain.

- E esta que já é antiga, mas não deixa de ter graça: Huckabee tem Chuck Norris, mas Rambo vota por McCain.

O segundo presidente negro?

A escritora Toni Morrison, galardoada com um prémio Nobel e aquela que descreveu Bill Clinton como o primeiro presidente negro da América, apoia Barack Obama.

Obama, a cor, o género e a idade


Grande parte da análise às primárias do lado democrata tem incidido sobre questões de cor e género; afinal, esta é a primeira vez que há uma hipótese de um candidato à presidência "viável" ser uma mulher ou um negro.

No entanto, há outro factor de novidade na candidatura de Barack Obama - que remete para uma questão geracional.

Obama é o primeiro candidato de sempre às presidenciais americanas a nascer já depois da década de 50. Obama nasceu em 1961; Hillary Clinton, em 1947, John Edwards em 1951. Todos os candidatos republicanos nasceram também antes de 1956.

Em 1992, fez sensação o facto de Bill Clinton (nascido em 1946) ser o primeiro "baby boomer" de sempre a chegar à Casa Branca. George W. Bush (nasceu precisamente no mesmo ano que Bill Clinton) pertencia à mesma geração.

Obama, com os seus 46 anos, ainda era uma criança na década dos Beatles e do "flower power" e do Vietname e da revolução sexual. É o primeiro candidato das gerações "pós-boomer". Poderá isso contribuir para a sua popularidade?

domingo, 27 de janeiro de 2008

A maré vira a favor de Obama

Barack Obama obteve uma vitória categórica na Carolina do Sul. No jogo das expectativas e do "momentum", este triunfo coloca Obama novamente como o favorito à nomeação democrata.

E não é apenas pela vitória na em si - é pela forma como foi obtida, com uma vantagem significativa em termos absolutos e um aparente domínio entre os eleitores negros, um segmento demográfico muito disputado nas primárias democratas, vital dentro do partido.

Mas há mais sinais de que Obama está na mó de cima. O clã Kennedy colocou-se ao seu lado: o influente senador Ted Kennedy vai amanhã anunciar o seu apoio a Obama, enquanto Caroline Kennedy, filha de JFK, escreveu um artigo de apoio ao senador do Illinois, em que o compara ao pai.

Mais ainda: há sinais de que a elite intelectual americana está a pôr-se do lado de Obama e contra Hillary - como este artigo do colunista do New York Times Frank Rich, um ataque cerrado aos Clinton. E também parece óbvio que a campanha de Obama está a ganhar a "guerra da vitimização".

No entanto, ainda há muito caminho para correr; se é certo que a vitória de Obama na Carolina cria muitos problemas à sua principal adversária, também é certo que o verdadeiro teste será na "super-terça-feira" de 5 de Fevereiro.

NYT sobre Obama

(Joshua Lott/Reuters)

A análise do The New York Times sobre a vitória de Obama na Carolina do Sul está aqui.

O discurso de vitória de Barack Obama...

... numa palavra. "Awesome".

sábado, 26 de janeiro de 2008

Uma mulher? Um negro?

(Larry Downing/Reuters)

Na sexta-feira, saiu no Público um artigo de fundo assinado por Maria João Guimarães sobre uma das questões que mais tem animado a campanha: "estará a América pronta para uma mulher Presidente, ou para um negro na Casa Branca?".
O debate anda há muito na praça pública, mas intensificou-se depois do artigo Women are Never Front-Runners escrito por Gloria Steinem, co-fundadora da organização Women’s Media Center, e publicado pelo New York Times (8-01-2008).

O texto de Maria João Guimarães está publicado no dossier sobre as eleições aqui.
Para ler o texto de Gloria Steinem clique aqui.

Bill Clinton e os provérbios populares


A secção de voto de Meadow Lake foi improvisada numa sala do pavilhão do parque recreativo daquele subúrbio de Columbia, uma cidade que é basicamente um gigantesco campus universitário. Às nove da manhã treinavam as duas equipas de voleibol, masculina e feminina. À porta, demoravam-se três ou quatro pessoas que tinham acabado de votar, sem se incomodar com a chuva miudinha. Um dos observadores da votação dizia que estava tudo calmo e tranquilo, embora um pouquinho mais movimentado do que o habitual.
De repente, chegam quatro carrinhas em cortejo. Param à porta e ninguém sai. O pessoal acerca-se da entrada, curioso. Das duas carrinhas de trás saltam oito homens de fato e auscultadores nas orelhas, que correm para o interior do pavilhão. Outros dois plantam-se de cada um dos lados das portas de trás do segundo automóvel. "Quem é?", pergunta-me Sharon Hanks, uma professora negra que me dizia que nada a irritava mais do que esta espécie de assumpção universal do entusiasmo afro-americano com a candidatura de Barack Obama. "A mim que me importa que seja preto? As pessoas pretas têm que votar nos candidatos pretos? As pessoas brancas têm de votar nos candidatos brancos? Quando olho para ele penso: 'Mostra-me o que vales. Quero perceber em que é que és assim tão diferente que tenho que votar por ti. E sinceramente ainda não vi nada disso. Não vi nada que me faça faísca", explicava.
"Talvez seja Hillary Clinton", digo-lhe olhando para o movimento de guarda-costas — a campanha tinha avisado na véspera que a candidata podia aparecer de surpresa nalgumas secções de voto antes de partir para o Tennessee, de onde ia assistir aos resultados. O suspense mantém-se por uns minutos mais. Até que uma das portas se entreabre, e vejo uma cabeleira prateada. "Não, não é Hillary. Acho que é Bill", respondo. Entretanto, a porta do pavilhão está cheia de gente, com os telemóveis na mão prontos a disparar. "Quem é, quem é?".
Um congressista da Florida chega-se para dizer olá. Congratula-se com o interesse de um diário português nas primárias americanas. "Este é um grande país, não é?", pergunta, numa daquelas frases que são supostas ficar no ar, sem resposta. E então Bill Clinton sai finalmente do carro. Sem sequer dar tempo aos carros de exteriores, que já viravam a curva na direcção do estacionamento do parque, para cuspir os seus repórteres. O antigo Presidente vem direito a nós. "Então, que tal vai isso?", e estica a mão. Repara que trago as credenciais penduradas ao pescoço, quer saber se "está tudo a postos para mais uma noite comprida". A mão ainda agarra a minha, aperta agora só com um bocadinho mais de força. Sim, tudo. "E desculpas pela mão gelada", reparo. Clinton já seguia com os cumprimentos, mas vira a cabeça para trás. "Sabe o que eles dizem: mãos frias, coração quente". E juro que me piscou o olho.

Eavesdropping*

Duas senhoras à espera para pagar na caixa registadora do restaurante Yesterday's, um dos lugares mais frequentados de Columbia:

A primeira: "Ouviste aquele anúncio que falava dos três amantes de Hillary Clinton?"
A segunda: "Sim! E que história era aquela que ela uma vez matou um gato?"



*hábito de escutar atrás das portas

Discurso directo

Todos os candidatos passaram por Columbia antes da votação --

Hillary Clinton na Antisdel Chapel, num discurso do púlpito para aí umas 300 pessoas, a maioria mulheres e negras:

"Ainda bem que estamos numa capela. Penso que é muito importante salientar que a um líder não bastam só as ideias, planos e propostas, também é precisa a oração. Se eu não fosse uma pessoa de fé, não aguentaria nem uma semana na Casa Branca".


John Edwards na sala Lexington do Centro de Convenções, numa sessão de perguntas e respostas com uma centena de eleitores, metade dos quais exibindo cartazes do grupo "Friends of the Earth":

"Eu vivo no mundo real e sei que estou em último. Não sou o candidato do dinheiro, do brilho e dos media. Não resumo a minha campanha a soundbytes de 30 segundos. Nem aterro aqui no meu jacto privativo um dia antes da eleição. Nasci aqui e nunca virarei as costas a este estado".


Barack Obama, comício para duas mil pessoas no Koger Center for the Arts. Mais mulheres do que homens, mais brancos do que negros, mais jovens do que velhos:

"O nome de George W. Bush, ou do meu primo Dick Cheney — e se ouviram essa história, o único que posso dizer é: que vergonha... — já não vão estar nos boletins de voto. A era de Karl Rove acabou! Vamos virar a página e escrever um novo capítulo. Todos estamos zangados e frustrados com o que tem acontecido neste país. Todos estamos fartos desta política tóxica. Todos estamos desesperados por um novo tipo de política, que o que quer é levantar o país e não derrubar os adversários".

Cabine de som

Banda sonora no comício de Barack Obama: "Land of Confusion", Genesis; "Very Superstitious", Stevie Wonder

Banda sonora no comício de John Edwards: "The Rising", Bruce Springsteen

Música no "Wild Hare Sports Cafe" de Columbia: "Dancing with Myself", Billy Idol.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O Times escolhe: Hillary, McCain


O New York Times, mais influente dos diários americanos, anunciou hoje as suas escolhas ("endorsements") para as primárias democrata e republicana: Hillary Clinton e John McCain.


Os editoriais em que o Times explica as suas escolhas são muito interessantes. Já lá vamos: antes, umas palavras sobre "endorsements".


Na tradição da imprensa europeia (com excepção dos britânicos), não é habitual os jornais pronunciarem-se sobre eleições. As páginas de opinião dos jornais trazem artigos apoiando um ou outro candidato, e esses artigos até podem ser assinados por jornalistas. Mas não representam o jornal, apenas os seus autores.


É essa a norma, por exemplo, do PÚBLICO. Aliás, na história recente da política portuguesa, só me recordo de um caso em que (exceptuando jornais partidários como o Avante! ou o Povo Livre) um jornal declarava o seu apoio expresso a um candidato: O Independente, que apoiou Marcelo Rebelo de Sousa contra Jorge Sampaio nas autárquicas de Lisboa de 1989.


Na tradição americana, é normal que um jornal se pronuncie sobre eleições. Essa prática é antiga, mas controversa - há quem a considere perigosa e/ou obsoleta.


Mas atenção: um "endorsement" não vincula a redacção de um jornal. Aliás, na maior parte da imprensa americana, a redacção não tem voto na matéria, e só sabe quem é que o seu jornal apoia no dia em que os editoriais são publicados.


Quem decide o "endorsement" é o "editorial board" - um conselho de composição variável mas que normalmente inclui os responsáveis pela página de opinião ("op-ed" ou "editorial") do jornal. No caso de grandes jornais como o Times ou de jornais mais pequenos em eleições locais, este conselho reúne com os candidatos para entrevistas privadas (isto é, que não são publicadas), analisa as várias opções, e depois pronuncia-se.
O "endorsement" não corresponde exactamente a uma declaração de voto - é um "apoio", uma declaração que diz "este é o candidato que melhor corresponde aos valores deste jornal".


Os "endorsements" têm importância eleitoral? Antigamente, sim; em algumas eleições a nível local ou estadual, em que os eleitores dispõem de pouca informação sobre os candidatos, ainda o têm; para as presidenciais, a sua relevância é limitada.


O Pew Center fez em 2004 uma análise extensa do impacto dos vários media na política contemporânea. Essa análise confirma que os jornais diários perderam (na América e não só) grande parte da sua importância central na vida política, de que disfrutaram durante muitas décadas.


Enfim: de volta ao Times. O editorial sobre o "endorsement" a Hillary: o "editorial board" do Times confessa-se algo indeciso entre Obama e Clinton, e até tem algumas palavras simpáticas para Edwards, mas acaba por pender para a senadora de Nova Iorque - em grande parte devido à sua experiência no estado onde o Times é publicado:

"Sabemos que [Clinton] é capaz de unir e liderar. Vimo-la a ir de cidade
para cidade no estado de Nova Iorque em 2000, incluindo a sítios onde atacar
Clintons é um desporto popular. Ela convenceu os eleitores cépticos, e
depois cumpriu as suas promessas, sendo facilmente reeleita em 2006."

O editorial do Times sobre os republicanos é mais interessante. O "editorial board" não se mostra muito entusiasmado com nenhuma das opções (o que é natural - o Times é conotado com o centro-esquerda), mas dá o seu "endorsement" a McCain:




"A escolha é fácil. O senador do Arizona John McCain é o único republicano
que promete acabar com o estilo de governação por e para uma franja [política]
pequena e zangada de George Bush."

Mas o fascinante é que mais de metade do editorial é dedicado a explicar porque é que o Times não apoia Rudy Giuliani, que foi "mayor" de Nova Iorque entre 1993 e 2001. E essa explicação é de uma violência absolutamente invulgar num editorial do normalmente contido Times:



"Porque é que um jornal de Nova Iorque não apoia (...) o homem que deu a
cara no 11 de Setembro, quando outros, incluindo o Presidente Bush, estavam
desaparecidos?
Esse homem não é candidato à presidência.
O verdadeiro Giuliani, que muitos nova-iorquinos conhecem e encaram com
desconfiança, é um homem vingativo, mesquinho e obsessivamente secretivo que não
via necessidade de limites ao poder policial. (...)
A sua arrogância e falta de bom senso são arrebatadoras (...)
O Rudolph Giuliani de 2008 transformou o horror do 11 de Setembro num
negócio lucrativo (...) e explorou o pesadelo da sua cidade e do país para
promover a sua campanha presidencial."

Os candidatos e o mundo

Há muitos motivos para seguir as eleições americanas - mas, para os não-americanos, o mais importante é saber quais as intenções dos candidatos na sua política internacional.


Um instrumento útil para comparar as posições sobre política externa dos vários candidatos é uma série de artigos na revista Foreign Affairs.

Este "journal" (ligado ao influente Council on Foreign Relations) tem publicado em cada uma das suas últimas edições um artigo de um democrata e outro de um republicano. Nesses ensaios, os candidatos tentam explicar as traves-mestras da política externa que propõem.

Fala-se de muita coisa nestes artigos, que constituem uma leitura muito interessante. Aliás, apenas pelos títulos escolhidos já se aprende algo sobre a visão que cada candidato tem sobre o papel da América no mundo. Eis a lista (não está incluído o artigo do democrata Bill Richardson, que entretanto já desistiu), com links e títulos traduzidos para português (tradução minha):





Em artigos posteriores, falaremos mais sobre o que os candidatos dizem nestes artigos - e, em especial, sobre o que eles dizem acerca da Europa.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Desabafo metereológico

À chegada a Columbia: ainda bem que não chove!


p.s. Hillary Clinton também já está na Carolina do Sul. A sua campanha começava a ficar sem argumentos para justificar a ausência da candidata durante quase toda a semana anterior à votação, um facto interpretado como uma espécie de "concessão" de que a corrida estaria inevitavelmente perdida.

Kucinich abandona


Dennis Kucinich vai desistir da sua candidatura. 


O congressista do Ohio era talvez o mais à esquerda de todos os candidatos. Representa uma franja ideológica algo marginal no Partido Democrata, e a sua candidatura era encarada mais como uma forma de dar exposição mediática às suas ideias que um esforço viável de chegar à presidência.

De resto, o maior problema de Kucinich é que os seus adversários e os media nunca o levaram muito a sério. Era o candidato favorito dos apresentadores de "talk shows", que brincavam com a sua diminuta estatura e não só.

Os factos mais frequentemente divulgados sobre Kucinich (repetidos, por exemplo, neste artigo da Reuters) eram que ele disse já ter visto um OVNI e que a sua mulher Elizabeth (30 anos mais jovem) é bastante mais alta (e bonita) que ele.

Kucinich tem no entanto bastante popularidade entre muitos democratas - que não estariam dispostos a votar nele, mas mesmo assim admiram a sua posição fervorosamente pacifista quanto à guerra no Iraque.

E é, apesar de tudo, algo inesperado que Kucinich desista tão cedo. Há quatro anos, também foi candidato à nomeação democrata, e também teve votações muito marginais; mas recusou-se a desistir, levou a sua candidatura até ao fim das primárias, e chegou a discursar na convenção democrata.

A campanha de Kucinich já declarou que ele não irá apoiar publicamente nenhum dos outros candidatos.

A estranha estratégia de Rudy Giuliani


A estratégia de Rudy Giuliani para as primárias republicanas não tem precedentes.


Giuliani decidiu ignorar os dois pequenos estados que inauguram a corrida (Iowa e New Hampshire), e também ignorar os estados de média dimensão que se lhes seguem. A sua estratégia passa por obter um bom resultado na Florida, na próxima terça-feira, e nos muitos estados que vão a votos na "super-terça-feira".


Nunca na história recente da política americana um candidato havia adoptado uma estratégia tão estranha/inovadora. Particularmente bizarro é que Giuliani, o "mayor da América", era considerado o grande favorito à nomeação republicana.


Porque é que ele adoptou esta estratégia? Aparentemente, por ter concluído que corria o risco de não vencer no Iowa e no New Hampshire. A estratégia tinha outras potenciais virtudes:


*ao ignorar os primeiros estados, Giuliani poupava recursos (os seus adversários investiram milhões e milhões de dólares)...


*...e evitava o desgaste inevitável da sobre-exposição mediática das corridas do Iowa e do New Hampshire


*também se escusava a ter de fazer promessas eleitorais para agradar às pequenas populações destes estados (por exemplo, todos os candidatos que vão ao Iowa, estado muito agrícola, têm de professar o seu amor ao etanol)


*enquanto os rivais se dedicavam aos primeiros estados, com populações (e, portanto, número de delegados) muito reduzidas, Giuliani pôde concentrar-se nos estados mais populosos


Em resumo: o primeiro milho é para os pardais, pensou Giuliani. A ideia era deixar Romney, McCain e Huckabee digladiar-se e gastar tempo e dinheiro nos primeiros estados, para depois os esmagar na Florida e nos estados da "super-terça-feira".


Então e qual vai ser o resultado da estranha estratégia de Giuliani?


Segundo as sondagens, um desastre. Giuliani arrisca-se a não ganhar (e nem sequer ficar em segundo lugar na Florida), e está a descer nas sondagens em outros estados de grande dimensão.


Já há quem apresente a Florida como um teste de sobrevivência à candidatura de Giuliani. Um resultado modesto neste estado pode de facto comprometer as hipóteses do ex-mayor de Nova Iorque.


E se as coisas correrem mal, será tudo devido ao erro de cálculo estratégico?


A verdade é que, embora durante muito tempo Giuliani tenha sido o favorito à nomeação republicana, a sua candidatura tem fragilidades endémicas.


Giuliani era o favorito em parte por ser o nome mais conhecido a nível nacional entre os vários candidatos republicanos; essa vantagem esbateu-se à medida que os seus rivais foram ganhando exposição mediática.


Por outro lado, Giuliani desperta resistências junto dos sectores mais conservadores do Partido Republicano (devido, por exemplo, ao seu apoio ao direito ao aborto).


Mais ainda: o ponto forte de Giuliani é a sua ligação ao 11 de Setembro, e o seu tema-chave é o combate ao terrorismo. Mas, nas últimas semanas, é a economia e outros temas internos que estão a dominar o debate político.


Enfim: pelo menos num ponto, a estratégia de Giuliani está a resultar. As primeiras primárias não definiram nenhum "super-favorito" entre os republicanos e, se o ex-mayor ganhar na Florida, tornar-se ele automaticamente o "frontrunner".


Mas se as coisas correrem mal no "Sunshine State"...

Em quem vota Al Gore?


Depois do Nobel, depois do Óscar, o homem que "costumava ser o próximo Presidente dos EUA" é uma figura incontornável na esquerda americana.

Então, e em quem votará Al Gore nestas presidenciais?

Por enquanto, ainda não se sabe.

A importância de Gore é múltipla: vice-presidente por oito anos, candidato derrotado numa das presidenciais mais controversas de que há memória, divulgador e activista de uma causa cada vez mais relevante para a agenda política americana. Um "endorsement" a um dos candidatos iria atrair muitas atenções.

Mas Gore ainda não se pronunciou sobre o actual processo eleitoral. Houve vários movimentos a tentar que ele próprio se apresentasse como candidato - mas Gore não quis regressar à política eleitoral. Não é totalmente impossível um cenário em que Gore, mesmo não participando nas primárias, aparecesse na convenção democrata como um "candidato do consenso", se o partido ainda estivesse dividido entre Obama/Hillary/Edwards. Não é impossível, mas é muito improvável.

O jornal The Hill argumenta que uma declaração de Gore poderia ter um efeito assinalável na campanha democrata (e acrescenta também o nome de outro "notável" ainda indeciso - o senador do Massachusetts Ted Kennedy).

Mas esse impacto é duvidoso. Há quatro anos, Gore declarou o seu apoio ao candidato Howard Dean - e fê-lo em Dezembro de 2003, praticamente no auge da popularidade de Dean. O "endorsement" de Gore na altura fez com que Dean parecesse imparável na corrida à nomeação democrata - mas apenas um mês depois, a candidatura de Dean já estava esfrangalhada.

Ora, quatro anos depois, Gore reforçou o seu prestígio, pelo menos junto do eleitorado democrata: há o Nobel, há o Óscar, e há a sua posição muito crítica sobre a guerra de Bush no Iraque. Mas, por outro lado, Gore está afastado da política partidária há oito anos; a sua rede de contactos na estrutura democrata esbateu-se.

E basta recordar que um outro "notável" democrata, John Kerry, deu o seu apoio a Obama há duas semanas - e o impacto desse "endorsement" foi muito limitado.

Em resumo: em quem vota Gore? Não se sabe.

Irá pronunciar-se ainda nas primárias? Também é uma incógnita.

Um apoio a um candidato teria um efeito significativo? Igualmente desconhecido.

Bom, muitas perguntas, nenhumas respostas. Olhemos para o outro lado da barricada - entre os republicanos, John McCain recebeu o apoio de "Stormin' Norman" Schwarzkopf, o comandante militar no terreno das forças americanas na Guerra do Golfo de 1991.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Barack Obama forçado à defesa

Ninguém que segue a carreira política de Barack Obama no estado do Illinois está surpreendido que a sua alegada "ligação" (amizade?) com o mal reputado empreendedor imobiliário Tony Rezko tenha saltado para as manchetes dos jornais nacionais — quando muito, estão admirados que tenha demorado tanto tempo até as candidaturas rivais resolverem ressuscitar esse complicado dossier. Num jantar com jornalistas estrangeiros em Springfield, a capital do Illinois, na véspera do anúncio da candidatura de Obama, Bernard Schoenburg, o editor de política do diário "Lincoln Courier", já antecipava este bruá. "Lá vamos nós voltar a escrever tratados sobre as trapalhadas com Rezko, ou sobre as maluquices do reverendo da Trinity United Church of Christ de Chicago" (alguns comentadores já abordaram esse assunto).
Mas como já estavam fartos de saber do que se tratava, não é de estranhar que tivessem sido os jornais de Chicago os primeiros a receber um "memo" da campanha de Hillary Clinton, alertando-os para o que reclamava ser mais uma discrepância entre o discurso e as acções de Obama, que afinal não teria devolvido todo o dinheiro ligado a Rezko que financia a sua candidatura.
O candidato foi obrigado a começar o dia à defesa. Distanciando-se de Rezko e repetindo que a sua campanha já tinha devolvido cerca de 85 mil dólares (40 mil dólares só no último fim-de-semana), directa ou indirectamente doados pelo empresário. Obama também reconheceu que foi um erro ter comprado uma parte do terreno da sua casa de Chicago à mulher de Rezko, apesar da transacção ter sido completamente legal. Depois repudiou a "jogada" da sua opositora. "Quando conheci Rezko ninguém fazia a mínima ideia que ele viesse a estar envolvido em alguma coisa ilegal [o empresário está prestes a ser julgado pelos crimes de fraude, extorsão e branqueamento de dinheiro]. Não tenho nada a ver com isso, e a senadora sabe muito bem".
Enquanto Obama se perdia em explicações, Hillary coleccionava mais um apoio na Pensilvânia.

Porque saiu de cena Fred "Lei e Ordem" Thompson


Fred Thompson terminou a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos, com uma declaração muito breve (três frases).


Não é uma decisão inesperada. Depois de votações marginais no Iowa e no New Hampshire, Thompson contava com um triunfo na Carolina do Sul para ressuscitar a sua campanha - mas obteve um mero terceiro lugar, com 15,7 por cento dos votos.


E, no entanto, quando Thompson se apresentou como alternativa à nomeação republicana, na Primavera do ano passado, era considerado um "outsider" com grande potencial.


Nessa altura, havia algum desânimo entre as hostes republicanas; nenhum dos candidatos parecia agradar às "bases" do partido, especialmente ao sector dos cristãos evangélicos mais conservadores.


Thompson, um ex-senador do Tennessee (Sul), parecia cumprir vários requisitos. Tinha carisma, "star power" (foi actor da popular série Lei e Ordem) e um perfil político que podia agradar a várias facções do partido.


A sua estratégia passou por demorar muito tempo a anunciar a sua candidatura. A lógica parecia ser não se envolver nos combates da pré-campanha, mantendo a imagem de "outsider". Uma espécie de estratégia "D. Sebastião", um salvador para resgatar os republicanos do marasmo. Só em Setembro anunciou oficialmente a candidatura (no Tonight Show, "talk show" de Jay Leno).


Aparentemente, esperou demais. No final de 2007, apareceu de facto um candidato carismático e capaz de captar votos dos sectores mais conservadores do Partido Republicano - mas esse candidato acabou por ser Mike Huckabee.


Entretanto, as campanhas de John McCain e Mitt Romney ganharam novo alento. E Thompson foi criticado por um estilo de campanha talvez excessivamente descontraído.


Como fica a campanha? Bem, os debates televisivos republicanos ficam menos povoados (embora ainda sobrem pelo menos cinco candidatos). Por outro lado, a desistência de Thompson parece favorecer Huckabee.


Aliás, Huckabee culpou Thompson pela sua derrota na Carolina do Sul (onde ganhou McCain). Por um lado, porque "desviou" votos dos tais eleitores mais conservadores; por outro, dizem os apoiantes de Huckabee, porque Thompson fez uma campanha negativa deliberadamente para prejudicar o pastor do Arkansas.


O que ficará da candidatura falhada de Fred Thompson? Pelo menos um bizarro e fascinante debate na Wikipedia sobre se a forma correcta de escrever o seu nome é Fred ou Freddie.

Eavesdropping *

O NPR, canal público de rádio dos Estados Unidos, teve alguns convidados a comentar a desistência do republicano Fred Thompson da corrida à nomeação presidencial. Entre eles, Richard Viguerie, autor do livro "Conservatives Betrayed: How George W. Bush and Other Big Government Republicans Hijacked the Conservative Cause", que entre outras considerações dizia que o actor da série Law & Order e antigo senador do Tennessee tinha dormitado ao longo da campanha exactamente como dormitava no Congresso, e que mesmo os mais atentos dificilmente conseguiriam atestar a existência da sua candidatura. Viguerie recorreu a uma célebre citação da escritora Dorothy Parker, que quando foi informada da morte do Presidente Calvin Coolidge reagiu: "Mas como é que eles podem saber?" — "O mesmo pode ser dito de Thompson: como é que eles podem saber que ele está a fazer campanha?".

Comentário ouvido num café da zona de Dupont Circle, em Washington, nem duas horas depois:

"Estava a rir às gargalhadas porque percebi que ele estava a dizer: como é que eles podem saber que Fred Thompson está vivo..."



* Eavesdrop: verb (eavesdropped, eavesdropping) secretly listen to a conversation; from obsolete eavesdrop, "the ground on to which water drips from the eaves". in Oxford English Dictionary
[em português: hábito de andar a escutar atrás das portas]

Afinal, quem vai à frente?

No sábado, há primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul. Terça-feira, vota a Florida. E, no dia 5, é a "super-terça-feira", em que votam quase metade dos Estados Unidos.

Mas, por enquanto, quem vai à frente? Este excelente artigo da Slate procura dar uma resposta à questão, do lado dos democratas. Não há uma resposta linear. Vários aspectos a ter em consideração:

Estados e delegados

Entre os democratas, Hillary Clinton ganhou em três estados - New Hampshire, Nevada e Michigan (mas estas duas últimas vitórias com "asterisco" - já lá chegamos). Barack Obama ganhou num (Iowa).

Nos republicanos, Mitt Romney ganhou três vezes (Wyoming, Michigan, Nevada), John McCain duas (New Hampshire e Carolina do Sul) e Mike Huckabee uma (Iowa).

No entanto, não é em número de vitórias que se decide a nomeação. A época das primárias serve para cada estado eleger delegados para as convenções dos respectivos partidos.

A convenção democrata terá 4049 delegados. A convenção republicana, 2181. Ora, neste caso, parece fácil determinar quem vai à frente: é quem tem mais delegados. Mas as contas não se fazem bem assim.

Delegados e "momentum"

Nas últimas três décadas e meia de primárias nos EUA, mais importante que o número de delegados é aquilo a que o artigo da Slate chama "momentum". Ou seja, uma espécie de harmonização de expectativas (entre os media, a classe política, os próprios candidatos) sobre quem vai à frente.

Por exemplo: nas primárias democratas de 2004, logo após a eleição no New Hampshire, já era dado quase como garantido que John Kerry conquistaria a nomeação democrata - apesar de, nessa altura, ainda só ter garantido uns meros 5 por cento dos delegados necessários.

Outro exemplo: Hillary Clinton venceu os "caucus" do estado do Nevada - em votos. Em delegados, no entanto, Obama (porque a sua votação foi mais distribuída pelo estado e a de Clinton mais concentrada) terá obtido 13 delegados contra 12 para Hillary ("terá", porque este resultados ainda terão de ser confirmados numa convenção estadual).

Apesar disso, os resultados do Nevada foram considerados um triunfo de Hillary - porque a imprensa e a classe política americanas não estão habituados a fazer contas em termos de número de delegados mas sim de "momentum".

Delegados e superdelegados

Complicações adicionais: Hillary Clinton venceu no Michigan mas, em princípio, os delegados lá conquistados não contam. Alguns estados (sobretudo do lado republicano) usam o método "winner takes all" para atribuir os seus delegados (isto é, em vez de os distribuírem proporcionalmente por cada candidato, dão todos ao vencedor).

E depois ainda há os "superdelegados" - delegados nas convenções que não são eleitos em primárias. Entre os republicanos, são relativamente poucos (123) - mas na convenção democrata, são 796.

Esses superdelegados democratas incluem todos os membros eleitos do partido no Congresso e uma série de outros dirigentes. Muitos já revelaram a sua intenção de voto, mas outros ainda não. E mesmo o que já declararam apoio a um candidato ainda podem voltar atrás.

As novas regras do jogo

Conclusão? É difícil concluir quem vai à frente.

Mesmo pelo critério do número de delegados já eleitos, não há números claros. E, perante a disparidade dos resultados até agora, não há de nenhum dos lados um candidato com mais "momentum".

Em teoria, a sequência de primárias que culmina na "super-terça-feira" deverá clarificar a situação - e resultar num favorito claro em ambos os partidos.

Em teoria. Na prática, este processo eleitoral americano tem contrariado muitas das "regras" da tradição. É possível que mesmo depois de 5 de Fevereiro não seja possível identificar quem vai à frente - e será então altura de fazer contas a delegados e "superdelegados".

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A recessão

No final do debate democrático da Carolina do Sul, a editora de economia da CNN admirava-se como os candidatos não tinham perdido muito tempo a falar nos temas económicos, "a mais séria preocupação dos eleitores americanos" nesta altura do campeonato e "o tema decisivo destas eleições". Parece ser cedo demais para arriscar, desta forma tão dramática, o que vai decidir a eleição do próximo presidente. Mas é verdade que a recessão foi o tema do dia na agenda mediática eleitoral: a Fed cortou a taxa de juro directora; Wall Street deu outro trambolhão; o Presidente Bush convocou os líderes do Congresso para lhes explicar o seu pacote de estímulo da economia e até os espectadores da CNN foram convidados a dizer se estavam preocupados ou não com a recessão no país.
Na campanha, ninguém falou noutro assunto. De volta a Washington (quem ficou a fazer campanha na Carolina do Sul foi Bill), Hillary Clinton informou que agora que o país se encaminhava para uma "longa e profunda recessão", passaria a dedicar toda a sua atenção à economia. "Como percebemos de ontem para hoje, esta é uma crise económica global", disse. Na Florida, Rudy Giuliani deixou de ser o herói do 11 de Setembro capaz de salvar a América de todos os terroristas do universo, para ser um homem com um plano para recuperar o país da anemia e fomentar o crescimento: a reforma do sistema fiscal, com reduções nos impostos sobre o rendimento individual e empresarial e cortes entre 5 e 10 por cento na despesa das agências governamentais .
No passado fim-de-semana, num almoço com os meus vizinhos de cima, Frieda e Lee (voltarei a eles no futuro), conversávamos animados sobre a campanha das primárias até que de repente, muito despreocupadamente, ela atira com a pergunta. "E afinal que recessão é esta que não a vejo em lado nenhum?". Depois de ler tantas explicações sobre o assunto, pensei em arranjar um exemplo óbvio, uma coisa um bocadinho mais palpável. "Pois, se queres que te diga, também não sei muito bem...", respondi.
Na realidade, neste incaracterístico enclave que é Washington DC, é difícil encontrar os vestígios da crise do mercado hipotecário (aqui a habitação arrenda-se mais do que se compra), os efeitos da subida do preço dos combustíveis (os condutores vêm dos subúrbios, aqui é mais fácil andar a pé) ou o drama que vivem os que não têm acesso à saúde (todos os funcionários públicos têm planos de saúde, e as condições oferecidas pelas seguradoras a quem trabalha para o estado são bem mais favoráveis do que as de outros trabalhadores).
Sinceramente, não reparei que o preço das coisas no supermercado tenha subido. No sábado as lojas estavam cheias de gente nos saldos. Ninguém no meu círculo de amigos me falou em cortar despesas. E a Frieda e o Lee pareciam realmente pouco impressionados com o espectro da crise. "Acho que no total, o meu portfolio de acções caiu aí uns dois por cento", disse ele. "E as recessões não são necessariamente más, aliás até são boas para a economia porque obrigam as empresas a tornar-se mais eficientes", defendeu.
Se este blogue fosse escrito pela menina do Sexo e a Cidade, devia ser este o parágrafo em que aparecia a perguntinha: "Será que podemos viver uma recessão sem entrarmos em crise?".

Bloco de notas


- Fred Thompson já não é candidato. Teoricamente, a desistência favorece Mike Huckabee, agora com campo aberto para conquistar os (muitos) evangélicos da Florida.


- A campanha de Huckabee está a ficar sem dinheiro. Alguns staffers tiveram de deixar a candidatura, outros aceitaram ficar a trabalhar sem remuneração. Entre eles Ed Rollins, o antigo assessor político de Ronald Reagan que serve como conselheiro principal do antigo governador do Arkansas.


- Hillary Clinton e Barack Obama prolongam os ataques depois do debate "caliente" de ontem à noite. John Edwards diz que "é o adulto do Partido Democrata".

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Vamos a isto

Às sete da tarde do dia 2 de Novembro de 2004, acabada de chegar a Washington DC, assisti a uma conferência de imprensa de John Zogby, um dos mais conhecidos pollsters norte-americanos, que garantia que dentro de uma hora poderíamos começar a anunciar a vitória do candidato democrata, John Kerry, nas eleições presidenciais desse ano. Como não precisava de escrever antes da manhã do dia seguinte, fui espreitar a sede da candidatura do previsível grande derrotado, George W. Bush. Só saí de lá às 6 da manhã, depois de ver os resultados, estado após estado, cair para o lado do republicano.
No último dia 8 de Janeiro, estava no pavilhão desportivo de uma escola secundária de Nashua, no New Hampshire, onde o candidato democrata Barack Obama esperava poder comemorar a sua segunda vitória consecutiva nestas eleições para a nomeação à Casa Branca. Durante horas, aguentámos a ida e vinda das contagens: afinal, era Hillary Clinton quem estava à frente, umas vezes com mais dois mil votos, outras com quatro mil. Ao contrário do que anunciaram na véspera as sondagens — e francamente, ao contrário do que fazia antecipar a movimentação das campanhas naquele estado — foi Clinton quem ganhou.
Estes dois exemplos não pretendem provar como, na política americana, não há ninguém que não tenha experimentado os dissabores de confiar demasiado nas sondagens. Procuram apenas fazer o caso, isso sim, de como é fascinante acompanhar uma campanha presidencial deste lado do Atlântico, com tudo o que sempre tem de fundamental, diverso, inovador, caricato, importante e, pois claro, imprevisível.
Dos lugares por onde vou passar até Novembro, sobre os eventos que deverei cobrir nesta longa campanha, e das pessoas que encontrarei pelo caminho, espero dar-vos conta neste espaço que, não sendo governado pelas regras estritas do jornalismo, é uma consequência do exercício da minha profissão e da circunstância de ser, neste momento, correspondente nos Estados Unidos da América.
Nas páginas diárias do PÚBLICO encontrarão os trabalhos editados que fazem o quotidiano deste processo eleitoral. A partir de agora, também aqui se acompanhará o dia-a-dia da campanha: no blog aparecerão os apontamentos de reportagem que não couberam no jornal; histórias que não são a notícia do momento mas ainda assim merecem ser divulgadas; diferentes personagens que povoam a quase infinita paisagem americana e, com sorte, imagens que podem valer por mil palavras (menos no caso de ser eu a sua autora, fica já aqui o disclaimer).
Este espaço está aberto a todas as colaborações — do resto da equipa de jornalistas e colaboradores do PÚBLICO, e naturalmente dos seus leitores, de quem se esperam comentários, perguntas ou sugestões. Por uma questão funcional, serão usados (mais coisa menos coisa) os mesmos critérios definidos no nosso website para a participação do público. Fica prometido o diálogo. Vamos a isto!