A estratégia de Rudy Giuliani para as primárias republicanas não tem precedentes.
Giuliani decidiu ignorar os dois pequenos estados que inauguram a corrida (Iowa e New Hampshire), e também ignorar os estados de média dimensão que se lhes seguem. A sua estratégia passa por obter um bom resultado na Florida, na próxima terça-feira, e nos muitos estados que vão a votos na "super-terça-feira".
Nunca na história recente da política americana um candidato havia adoptado uma estratégia tão estranha/inovadora. Particularmente bizarro é que Giuliani, o "mayor da América", era considerado o grande favorito à nomeação republicana.
Porque é que ele adoptou esta estratégia? Aparentemente, por ter concluído que corria o risco de não vencer no Iowa e no New Hampshire. A estratégia tinha outras potenciais virtudes:
*ao ignorar os primeiros estados, Giuliani poupava recursos (os seus adversários investiram milhões e milhões de dólares)...
*...e evitava o desgaste inevitável da sobre-exposição mediática das corridas do Iowa e do New Hampshire
*também se escusava a ter de fazer promessas eleitorais para agradar às pequenas populações destes estados (por exemplo, todos os candidatos que vão ao Iowa, estado muito agrícola, têm de professar o seu amor ao etanol)
*enquanto os rivais se dedicavam aos primeiros estados, com populações (e, portanto, número de delegados) muito reduzidas, Giuliani pôde concentrar-se nos estados mais populosos
Em resumo: o primeiro milho é para os pardais, pensou Giuliani. A ideia era deixar Romney, McCain e Huckabee digladiar-se e gastar tempo e dinheiro nos primeiros estados, para depois os esmagar na Florida e nos estados da "super-terça-feira".
Então e qual vai ser o resultado da estranha estratégia de Giuliani?
Segundo as sondagens, um desastre. Giuliani arrisca-se a não ganhar (e nem sequer ficar em segundo lugar na Florida), e está a descer nas sondagens em outros estados de grande dimensão.
Já há quem apresente a Florida como um teste de sobrevivência à candidatura de Giuliani. Um resultado modesto neste estado pode de facto comprometer as hipóteses do ex-mayor de Nova Iorque.
E se as coisas correrem mal, será tudo devido ao erro de cálculo estratégico?
A verdade é que, embora durante muito tempo Giuliani tenha sido o favorito à nomeação republicana, a sua candidatura tem fragilidades endémicas.
Giuliani era o favorito em parte por ser o nome mais conhecido a nível nacional entre os vários candidatos republicanos; essa vantagem esbateu-se à medida que os seus rivais foram ganhando exposição mediática.
Por outro lado, Giuliani desperta resistências junto dos sectores mais conservadores do Partido Republicano (devido, por exemplo, ao seu apoio ao direito ao aborto).
Mais ainda: o ponto forte de Giuliani é a sua ligação ao 11 de Setembro, e o seu tema-chave é o combate ao terrorismo. Mas, nas últimas semanas, é a economia e outros temas internos que estão a dominar o debate político.
Enfim: pelo menos num ponto, a estratégia de Giuliani está a resultar. As primeiras primárias não definiram nenhum "super-favorito" entre os republicanos e, se o ex-mayor ganhar na Florida, tornar-se ele automaticamente o "frontrunner".
Mas se as coisas correrem mal no "Sunshine State"...
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