No final do debate democrático da Carolina do Sul, a editora de economia da CNN admirava-se como os candidatos não tinham perdido muito tempo a falar nos temas económicos, "a mais séria preocupação dos eleitores americanos" nesta altura do campeonato e "o tema decisivo destas eleições". Parece ser cedo demais para arriscar, desta forma tão dramática, o que vai decidir a eleição do próximo presidente. Mas é verdade que a recessão foi o tema do dia na agenda mediática eleitoral: a Fed cortou a taxa de juro directora; Wall Street deu outro trambolhão; o Presidente Bush convocou os líderes do Congresso para lhes explicar o seu pacote de estímulo da economia e até os espectadores da CNN foram convidados a dizer se estavam preocupados ou não com a recessão no país.
Na campanha, ninguém falou noutro assunto. De volta a Washington (quem ficou a fazer campanha na Carolina do Sul foi Bill), Hillary Clinton informou que agora que o país se encaminhava para uma "longa e profunda recessão", passaria a dedicar toda a sua atenção à economia. "Como percebemos de ontem para hoje, esta é uma crise económica global", disse. Na Florida, Rudy Giuliani deixou de ser o herói do 11 de Setembro capaz de salvar a América de todos os terroristas do universo, para ser um homem com um plano para recuperar o país da anemia e fomentar o crescimento: a reforma do sistema fiscal, com reduções nos impostos sobre o rendimento individual e empresarial e cortes entre 5 e 10 por cento na despesa das agências governamentais .
No passado fim-de-semana, num almoço com os meus vizinhos de cima, Frieda e Lee (voltarei a eles no futuro), conversávamos animados sobre a campanha das primárias até que de repente, muito despreocupadamente, ela atira com a pergunta. "E afinal que recessão é esta que não a vejo em lado nenhum?". Depois de ler tantas explicações sobre o assunto, pensei em arranjar um exemplo óbvio, uma coisa um bocadinho mais palpável. "Pois, se queres que te diga, também não sei muito bem...", respondi.
Na realidade, neste incaracterístico enclave que é Washington DC, é difícil encontrar os vestígios da crise do mercado hipotecário (aqui a habitação arrenda-se mais do que se compra), os efeitos da subida do preço dos combustíveis (os condutores vêm dos subúrbios, aqui é mais fácil andar a pé) ou o drama que vivem os que não têm acesso à saúde (todos os funcionários públicos têm planos de saúde, e as condições oferecidas pelas seguradoras a quem trabalha para o estado são bem mais favoráveis do que as de outros trabalhadores).
Sinceramente, não reparei que o preço das coisas no supermercado tenha subido. No sábado as lojas estavam cheias de gente nos saldos. Ninguém no meu círculo de amigos me falou em cortar despesas. E a Frieda e o Lee pareciam realmente pouco impressionados com o espectro da crise. "Acho que no total, o meu portfolio de acções caiu aí uns dois por cento", disse ele. "E as recessões não são necessariamente más, aliás até são boas para a economia porque obrigam as empresas a tornar-se mais eficientes", defendeu.
Se este blogue fosse escrito pela menina do Sexo e a Cidade, devia ser este o parágrafo em que aparecia a perguntinha: "Será que podemos viver uma recessão sem entrarmos em crise?".
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
A recessão
Posted by Rita Siza at 22:55
Labels: Economia, Hillary Clinton, Rudy Giuliani
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