quinta-feira, 22 de maio de 2008

Voto popular

É o derradeiro argumento da campanha Clinton. As primárias são, tradicionalmente, uma contagem de espingardas, mas Hillary Clinton (e Bill Clinton) inverteram o argumento para reclamar que a contabilidade feita até agora está errada. "O voto popular é que é a verdadeira expressão da vontade dos americanos", diz a candidata, que quer refazer todas as contas para provar aos superdelegados que o seu apoio a Obama não deve ser baseado nas suas vitórias eleitorais em mais estados (e consequentemente, no maior número de delegados).
Segundo a aritmética de Hillary Clinton, é ela que tem o maior número de votos depositados nas urnas -- um dos argumentos que a senadora usou até foi que se as regras do Partido Democrata fossem semelhantes às dos republicanos (que em muitos estados usam o sistema winner-takes-all) ela já teria os delegados necessários para a nomeação.
Vejamos como Hillary faz as contas, usando como referência os números coligidos pelo Real Clear Politics. Arredondando, a candidata diz que já obteve cerca de 17 milhões de votos, "o maior número de sempre na história das primárias democratas". Esse valor inclui o total do voto popular contado em todos os estados que já votaram até agora (16.216.795), mais a sua votação no Michigan e na Florida (1.199.295). Ou seja, 17.416.090. Mas de fora estão os resultados dos caucus de quatro estados, Iowa, Nevada, Washington e Maine, onde não foram reportados os números totais de votos mas apenas os delegados que couberam a cada candidato na distribuição. Uma estimativa desses quatro estados dá a Hillary mais 223.862 votos. Ou seja, se a sua candidatura quiser contar todos os votos, a sua votação será de 17.639.952. Aplicando a mesma fórmula, o resultado total de Barack Obama é de 17.576.579, isto é, sensivelmente menos 63 mil votos do que a senadora de Nova Iorque.
Onde está o spin da campanha Clinton?
Primeiro, a votação do Michigan e da Florida não podem ser consideradas da mesma maneira para os dois candidatos. No Michigan, o seu era o único nome no boletim de voto (ou seja, Barack Obama, como na altura John Edwards, Joe Biden, Chris Dodd e todos os outros, tiveram uma votação de zero). E na Florida, onde os boletins tinham todos os nomes, respeitou-se a proibição do partido de fazer campanha, pelo que é de admitir que a votação reflecte o reconhecimento público dos candidatos -- e a eleição decorreu em Janeiro, quando os americanos ainda não estavam completamente familiarizados com todos os concorrentes.
Segundo, a exclusão dos quatro estados dos caucus da contagem só se explica pelo facto de Barack Obama ter conseguido vitórias significativas em três (venceu no Iowa, Washington e Maine), e apesar de ter perdido no Nevada, foi beneficiado pelas regras da distribuição e arrecadou mais delegados do que Hillary. Considerar estes votos, na forma de delegados, empurraria a campanha Clinton de novo para a tradicional contagem de espingardas, e é exactamente isso que Hillary e Bill pretendem evitar a todo o custo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Hillary: The Al Gore of 2008
Winner of the popular vote, loser of the election.

By Byron York

There have been four quarters in the Democratic presidential nomination battle. We’re late in the fourth quarter now, and when it’s over, Hillary Clinton will likely have won three of the quarters — and won the most votes overall — but lost the game.

↓ Keep reading this article ↓








Hemingway: Oregon Trail

Sowell: Summer Reading

Freddoso: Eight-Step Plan

Lopez: Can We Have a Profile in Courage?

York: Hillary: The Al Gore of 2008

McCarthy: To Meet Or Not To Meet?

Editors: Clean and Clear It

Pitney: House Republicans in the Red

Bayefsky: Tiny Iran

Ferrara: Ryan’s Hope

Nordlinger: Sharm El Sheikh Journal, Part III

Interview: Give Them the Money

Felzenberg: Four Democrats

Malkin: Barack Gaffes

Parker: The Big O

Goldberg: Church of Green




The first quarter was the shortest and most intense, beginning with Iowa and including New Hampshire, Michigan, South Carolina, and Florida. When one includes Florida, where both candidates’ names were on the ballot, and excludes Michigan, where Obama’s was not, Clinton won the popular vote in that period, with 1,124,380 votes to Obama’s 975,927 — an edge of 148,453 votes. (The number seems precise, but it isn’t; it’s not possible to peg the exact number of votes Clinton and Barack Obama won, because some critical races — in this quarter, Iowa — didn’t result in official popular vote tallies. These numbers are from the RealClearPolitics totals from states with official vote totals.)

The second quarter consisted entirely of Super Tuesday primaries, and Clinton won that one, too, amassing 8,086,836 votes to Obama’s 8,000,574, a margin of 86,262 votes. At that point — halftime? — when one counts the first two quarters, Clinton’s popular vote lead was 234,715 votes out of more than 18 million votes cast for the two candidates.

It’s often been said that Clinton, who assumed she would wrap up the nomination on Super Tuesday, had no plan for what followed. And in the third quarter, which began in the Virgin Islands on February 9 and ended in Wisconsin on February 19, Obama blew her away. He won all nine contests in that period, collecting 2,192,813 votes to Clinton’s 1,313,256. The victories — by a margin of 879,557 votes — gave the Obama campaign a clear sense of momentum and the popular-vote lead. Whereas Clinton led by 234,715 votes at halftime, by the end of the third quarter, Obama’s lead was 644,842.

But Clinton has made a huge comeback in the fourth quarter. Beginning with her victories in Texas and Ohio and going through last night’s win in Kentucky, she has won 6,505,231 votes to Obama’s 5,983,422 — a margin of 521,809 votes. That number will likely grow after the remaining contests in Puerto Rico (where she has a significant lead), South Dakota, and Montana. At the moment, counting all four quarters, Obama has a popular-vote lead of 123,033 votes. By the end of the day on June 3, Clinton might well be ahead.

If that happens, she will be the Al Gore of the Democratic primaries: the winner of the popular vote who lost the election. But unlike Gore, who lost the 2000 presidential race because of the constitutional requirements of the Electoral College, Clinton will lose because of the Democratic party’s arcane — and changeable — rules of delegate allocation. For example, Clinton won Texas in the sense that most of us understand winning an election, but Obama ultimately walked away with more delegates, because of the party’s idiosyncratic allocation process.

In 2000, the fact that the Democratic candidate won the popular vote but lost the election caused great anger and bitterness among some Democrats. Those feelings lasted quite a while; there were a lot of “Re-Defeat Bush” stickers on cars in 2004. But in 2008, the prospect that a Democratic candidate might win the popular vote but lose the nomination does not seem as troubling. Party leaders and their allies in the press are not only not angry and bitter, they don’t even seem unhappy that the primary season might produce a nominee who lost the popular vote.

Why the change? It’s not clear. Certainly party elites view Obama as the fresher and more attractive candidate. But contests in which the winner of the most votes doesn’t get the prize produce lasting after-effects, and in the months ahead, Democrats may be in for more than they know.

ATG disse...

A partir do momento em que Republicanos podem nomear no seu democrata mais tenrinho, está tudo dito. Obama não tem a legitimidade que a sociedade de informação lhe pretende dar. Obama não é candidato presidencial. Ponham os olhos nas propostas, nas iniciativas, nas competências e no carácter. A candidata presidencial é Hillary Rodham Clinton!

ATG disse...

Dúvidas existem sobre quais serão as motivações de Hillary Clinton para ainda se aguentar na corrida. Sim, a corrida parece praticamente perdida. Sim, Hillary Clinton tem sido injustiçada. Sim, Hillary Clinton tem a candidatura mais credível, mais sólida e mais competente. Mas, nos EUA tudo é possível e nem sempre o melhor é o escolhido, em virtude de vários factores como aqueles em que insisti no post de hoje.
O "american dream" de Hillary Clinton pode não estar terminado e a sua candidatura de 2008 ser, a partir do momento em que perdeu as intenções de voto em favor de Barack Obama, apenas um ponto de passagem para as eleições de 2012. A onda Obama vai passar, a sociedade de informação vai arrefecer, e Clinton poderá jogar com isso. Jamais os norte-americanos perdoarão uma desistência a Clinton. Não há motivos para se desistir de uma corrida presidencial. Até mesmo nos Republicanos, quando McCain cedo começou a galgar caminho, Mike Huckabee continuou a lutar, só desistindo quando foi forçado a isso, no momento em que viu o seu adversário conquistar o número mínimo de delegados para conseguir o lugar. Uma desistência por parte de Hillary Clinton seria vista como humilhante quer para ela, quer para todos os que acreditaram nela, e aniquilaria a sua vida na política para sempre.
Os americanos, como patriotas que são, gostam de gente que vai até ao fim, mesmo quando já rasteja. São um povo que prefere morrer, a render-se ao adversário. Os EUA renderem-se numa guerra, seja ela qual for, não é algo que passe pela cabeça de um americano qualquer. São fervorosos adeptos do "viver ou morrer". Não há lugar a rendição! Clinton neste momento, ainda que quisesse desistir, não podia. Pelo menos se não pretender abandonar a política. Não pode desistir, não se pode render. Muitos se afastam dela, mas ela continua na corrida, enfrenta tudo e todos os que se lhe deparam com índices de motivação anormais para qualquer ser humano nas suas condições.
Estas manifestações da personalidade de Hillary Clinton não podem ser esquecidos. Tudo indica que a corrida está perdida, mas ela parece demonstrar força para resistir à adversidade e o eleitorado norte-americano não pode esquecer isso. Talvez por isso a sua popularidade tenha vindo a subir nos últimos tempos. Pode não ser o suficiente, sobretudo porque o "aparelho" montado à volta de Obama é bastante consistente, mas deixa marcas. Essas marcas poderão confirmar-se com uma corrida presidencial em 2012, onde a "lutadora" e "corajosa" Clinton, que não vira as costas quando a situação lhe é adversa e que luta contra tudo e contra todos, surgir com uma candidatura mais forte, mais confiante, com menos excesso de confiança, e agora com mais apoios e solidez. O carácter de Hillary Clinton vai valer-lhe muitos votos na próxima corrida eleitoral, tal como lhe tem valido bastantes na actual. Uma mulher que não desiste, que tem fibra, e que resiste a tudo o que a tenta atingir, só pode ter o meu apoio, sobretudo se a isso lhe juntarmos competência. Clinton tem os mesmos ideais que eu: "antes morrer, a render-se!", "Lutar até ao fim!", "o jogo só acaba quando o árbitro apita", "para me ganhares, vais ter que acabar comigo".
A estratégia para o futuro passa pela não rendição. Mas convém não esquecer que a estratégia para o presente também passa pela não desistência. Clinton rasteja, mas ainda respira e para a pararem vão mesmo ter que a abater! E a prova em como respira, e respira bastante, mesmo com tantos golpes duros provenientes de todos os lados, é o facto de ainda há dois dias ter vencido no Kentucky com 66% dos votos. Não se pode ignorar o facto de Obama ainda não ter conquistado rigorosamente nada. Conquistou tanto quanto Clinton. Afinal, tudo se poderá resolver em Denver. A estratégia para 2012 está montada, mas a corrida de 2008 ainda não terminou. Continuo a acreditar em Hillary Clinton até ao fim! É possível! Yes, she can!

Sérgio Santos disse...

Ok dj...mais uma vez um post muito bem escrito, se bem que mais uma vez carece de qualquer objectividade....se calhar um pouco como o meu agora.

Algumas perguntas:
1) Onde e quando foi Hillary Clinton injustiçada? Isso não passa de desculpas de quem está em 2º lugar.

2) "Vejam as propostas, as iniciativas". Ora diz-me lá em que é que a Hillary tem vantagem? Será no grande "gas tax holiday"? (Após os economistas declararem essa proposta como fraca, ela disse que a sua opinião não era influenciada por economistas)

3) A estratégia pode estar montada para 2012. Mas achas que os apoiantes do Barack vão alguma vez desculpá-la se isso acontecer? A sua base continua a ser difícil de expandir.

4) A sociedade da informação é talvez apenas dos segmentos mais bem inteligentes. Aliás, será coincidência que o Barack se dê tão bem com os eleitores com um grau mais elevado de educação?

5) Democrata mais tenrinho? Há que perguntar por que motivo Rush Limbaugh procurou convencer republicanos a votarem Hillary nas primárias abertas? Seria por ela ser a mais forte?

6) Lutadora, "comeback kid 2", etc, etc...e curiosamente, humana quando chora antes de primárias importantes.

7) Levar a eleição até Denver? Mas para quê? Para fragilizar ainda mais o partido democrata? Obama ganha (isso é certo) o número de delegados "convencionais". Obama tem já vantagem no número de superdelegados, para além de ter ganho mais estados, maior voto popular, ter o apoio de John Edwards e Bill Richardson, etc,etc...Se os Democratas não vencerem após 8 anos de Bush, a culpa em grande parte será da Hillary. Uma coisa é ter uma luta amigável até ao final para aumentar o número de pessoas que votam. Outra é fazer da eleição uma "luta" que pode quebrar um partido.

8) Michigan e Florida. Quando se concorda com as regras de um jogo, não se vai andar a tentar mudar quando o jogo não nos é favorável mais tarde. Acho que isso só prova que ela quer ganhar a qualquer custo. Só importam os fins e não os meios não é?

Obama 08!