Depois de uns dias sem acesso a jornais, ao telemóvel ou à internet, encontrei Leon, um advogado sul-africano especialista em direito das telecomunicações que vive mais de metade do seu tempo em aeroportos, hotéis e salas de conferências e cuja irmã, procuradora-adjunta em Brooklyn, no estado de Nova Iorque, tem "grandes conexões" no Partido Democrata. Estávamos numa varanda aberta sobre as águas tranquilas do arquipélago de Bocas del Toro, no Panamá, numa ilha onde não existem automóveis e cujos nativos parecem não ver razão para usar calçado -- e em questão de minutos, fiquei a saber tudo sobre os comentários polémicos do reverendo Jeremiah Wright no National Press Club e da reacção de denúncia de Barack Obama , das propostas de Hillary Clinton para fazer face ao aumento do preço dos combustíveis, e de como a imprensa americana continuava a ter muito pouco que dizer sobre a campanha de John McCain.Leon era uma impressionante, improvável e caricata sumidade em todos os assuntos relacionados com as primárias norte-americanas: debitava números sobre os delegados, os dados das sondagens e as características demográficas dos estados (que já foram ou ainda vão a votos) como se os estivesse a ler num manual directamente à sua frente; comparava detalhadamente as propostas políticas dos dois candidatos democratas e contrapunha-as às do seu adversário republicano; recordava pormenores históricos relevantes, coloridos com pequenas histórias de personagens políticas regionais; especulava sobre as consequências de uma vitória democrata ou republicana em Novembro. "Claro que os democratas ganham. Quando forem votar, as pessoas já não se vão lembrar das primárias, vão-se lembrar de Bush. Bush!... quer dizer, ninguém pode ser pior...", garantia.
Perdemos umas boas três ou quatro horas naquela noite a discutir a política dos Estados Unidos -- e também sobre alianças e rivalidades internacionais, a globalização, as pessoas que pilotam pequenos aviões como hobby, os iPods e o Facebook. Voltamos a cruzar-nos pela manhã, num pequeno cais onde se tomava um bom pequeno-almoço. Leon agarrado ao computador e uma parafernália de acessórios, atirou-me um olá vago e cúmplice enquanto eu enfiava o repelente de mosquitos na mochila antes de mais um dia de passeios e mergulhos.
terça-feira, 6 de maio de 2008
Leon
Posted by Rita Siza at 21:52
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