Aproxima-se o "momento da verdade" para a campanha Clinton. No sábado, o partido vai decidir como resolver o imbróglio das primárias do Michigan e da Florida -- se as eleições contam, se os delegados têm direito a participar na Convenção Nacional de Denver, se a sua distribuição pelos dois candidatos respeitará as regras da proporcionalidade ou se será precisa uma fórmula extraordinária. Tudo o que não seja o reconhecimento do total dos resultados e a respectiva alocação do total dos delegados corresponderá a uma derrota para a senadora de Nova Iorque.
A dois dias do evento, esse é o desfecho mais previsível. Enquanto não se confirma, a candidatura de Hillary afina os seus argumentos finais, junto dos eleitores das três primárias que restam, junto dos superdelegados que ainda não definiram quem apoiam, junto dos financiadores que podem manter a sua campanha à tona. Para ela, é fundamental não alienar nenhum destes três grupos. Como repete — ela e os seus directores de campanha e porta-vozes — os democratas não se podem dar ao luxo de desperdiçar os votos/apoios/dinheiro de que vão precisar em Novembro para bater os republicanos. A sua teoria é que se todos os votos forem contados (e já vimos como Hillary está a fazer as contas) é ela quem surge à frente com mais eleitores. O seu último email, intitulado "viram as últimas sondagens?", acrescenta que é ela que surge à frente no confronto directo com John McCain. Querem deitar esta vantagem a perder?, é a escolha que coloca aos superdelegados.
Até agora, a imprensa tem seguido o raciocínio da campanha Clinton e colocado a questão nesse plano da legitimidade democrática. Os eleitores pronunciaram-se, e em números recorde*, e isso é mais importante e significativo do que a burocracia institucional -- e é, de facto, um risco a alienação de todas estas pessoas (3,2 milhões de eleitores no Michigan e na Florida). Em todas as peças, há inevitavelmente um eleitor a dar conta da sua insatisfação e descontentamento com o partido, que parece não o considerar importante -- "Porque razão devo ser punido por votar?". Hoje começaram a aparecer outros, também insatisfeitos e descontentes com a mesma atitude de alienação: "Nós respeitámos as regras, acatámos a decisão do partido, abstivémo-nos de ir votar e agora somos ignorados e punidos?"
*Um dado interessante sobre a adesão eleitoral no Michigan e na Florida, através da comparação da afluência às urnas dos eleitores democratas nas primárias de 2008 e nas presidenciais de 2004. Nas sucessivas votações recorde dos primeiros dez estados que votaram este ano, a média de eleitores é de cerca de 75 por cento do total que votou em John Kerry. No Michigan, foram 24 por cento e na Florida 44 por cento.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Alienação
Posted by Rita Siza at 22:36
Labels: As regras do jogo, Democratas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário