segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fenómeno

Jantei com uma amiga americana, fervorosa apoiante de Hillary Clinton, e que como todos os fervorosos apoiantes de Hillary Clinton está ressentida com a imprensa pela sua alegada preferência de Barack Obama. "O que mais me irrita é que não párem de falar sobre o 'fenómeno' Obama, e depois não digam nem uma palavra do 'fenómeno' de Hillary. Ela é que é um fenómeno", repetia, ainda séria mas já sem o sobrolho carregado que lhe vi há umas duas ou três semanas -- mesmo os fervorosos e indefectíveis apoiantes de Hillary já perceberam que alcançar a nomeação é uma missão impossível. Tudo o que querem, agora, é uma vénia e uma saída digna de cena.
Ao ver as imagens da candidata hoje na televisão, incansável como sempre na sua campanha pela Virginia Ocidental, lembrei-me do que disse. Hillary Clinton é um fenómeno, como mulher, como política, como candidata presidencial. E a única explicação que encontro para que a imprensa não repita isso a cada semana que passa é, porventura, o "azar" de Hillary por defrontar um adversário ainda mais fenomenal do que ela. Convenhamos: muito poucas pessoas, mulheres ou homens, a mais de metade da respectiva carreira profissional e sem qualquer experiência política substantiva para além do casamento, seriam capazes de se fazer eleger para o Senado dos Estados Unidos e, tal como Hillary, ganhar o respeito e proeminência — num mandato — para surgir como a candidata natural para a presidência do país! Como explicar, por exemplo, que se aceite com tamanha parcimónia que Hillary, quase tão "inexperiente" como Obama, seja mais "statu quo" no Partido Democrata do que por exemplo Joe Biden, ou Chris Dodd, os dois veteranos e reputados legisladores que ela ensombrou por completo na corrida pela nomeação, ou que as suas aspirações (ambições) políticas pareçam mais legítimas ou justificadas do que as de outras mulheres percursoras no Congresso, como a senadora Barbara Boxter ou a congressista Nancy Pelosi?
Impressionante, há que reconhecer. Um fenómeno, sim, acho que tem razão a minha amiga.

2 comentários:

ATG disse...

Subscrevo por inteiro. Realmente, apesar de torcer por Hillary Clinton, tenho que reconhecer que neste momento tem um "fenómeno" maior que ela, não tanto pelo valor que tem, mas por ser um autêntico "flop" que a imprensa faz questão de levar ao colo por causa do velho "american dream" de ter um negro na presidência.

http://barvelho.blogspot.com

Sérgio Santos disse...

Rita,

Gostei do artigo, mas há claramente pontos que são esquecidos. A Hillary é, de facto, inexperiente e poderá ter menos status quo que Biden, Dodd e outros, mas também é verdade que ela baseou a sua campanha nos 30 anos de experiência a trabalhar para a mudança. E isso foi um grande erro, especialmente tendo em conta que o Obama teve mais tempo no Senado que ela. Cabe agora ela mostrar que é de facto alguém que não desiste e mostrar graça na derrota.

E respondendo agora ao dj, é fácil dizer que a imprensa tem levado o Obama ao colo. O facto de se dizer isso muitas vezes não faz é que isso seja verdade. Porque desde Iowa, eu tenho seguido a eleição todos os dias e sei o que falo. Daily Kos, Huffington Post, Political Ticker, Time Magazine...a imprensa foi mudando a sua preferência conforme o vencedor das primárias ia alternando. Só assim se entende que se tenha feito desta luta, a maior luta da História da civilização moderna.

Quanto ao "american dream" de ter um negro na presidência, não me faças rir. Obama tem mais de 1,5 milhões de pessoas que doaram para a sua campanha, tendo de bater uma pessoa que ficou conhecida por ter o apelido Clinto agarrado ao nome (não que não seja uma pessoa inteligente atenção). Ter a capacidade de recuperar de 30 pontos de diferença a nível nacional desde o início das primárias é, de facto, notável. E tal facto advém da capacidade em ter políticas equilibradas e de fugir ao estigma tradicional de um político.

Obama 08!