Já se falou à exaustão sobre o tom quase "religioso" da campanha de Barack Obama, particularmente da construção dos seus discursos, num crescendo emotivo semelhante aos sermões do púlpito e à tradição do gospel que, num nível quase subliminar, aproximam e confortam o eleitorado na base da sua experiência religiosa. E também já se percebeu como, apesar da polémica do reverendo Jeremiah Wright (e já agora dos boatos que é um muçulmano radical), o senador do Illinois nunca continua deixou de estar disponível para falar sobre religião ou explicar a sua fé -- mais, até, do que o seu adversário republicano John McCain, que nesta campanha se tem comportado como o verdadeiro candidato laico.
Agora, tornou-se claro como a candidatura de Obama pode capitalizar esses dois trunfos: explorando o crescente descontentamento do chamado voto evangélico com a Administração Bush. Numa estratégia que até há pouco pareceria impossível (e, dirão alguns, directamente copiada do manual de Karl Rove, o arquitecto das duas vitórias presidenciais de George W. Bush), o candidato democrata está activamente, e concertadamente, a cortejar um grupo de eleitores — a coligação cristã — que é heterodoxo e ao mesmo tempo coeso e que representa sensivelmente um quarto do total da população que nunca deixa de votar.
Há vários sinais de que a "maré" pode estar favorável a Obama.
O primeiro de todos, de carácter ideológico, tem a ver com uma espécie de refundação do movimento evangélico, que se reinventou em torno de uma nova agenda social e política: a luta contra a pobreza, o combate às alterações climáticas...
Não quer dizer que os evangélicos se tenham afastado dos ideais conservadores defendidos pelos seus principais porta-vozes de outrora -- os famosos reverendos Jerry Falwell ou Pat Robertson, por exemplo. Só que em temas como o aborto, o casamento gay ou a investigação científica com células estaminais (que estiveram abertamente em jogo na campanha eleitoral de 2004), parece existir uma maior tolerância da comunidade evangélica (considerada moderada) à ideia da separação da igreja e do estado.
Depois há o fenómeno da oposição à guerra do Iraque, que já ultrapassou as tradicionais divisões sectárias na sociedade americana.
E ainda os resultados que Barack Obama obteve em estados tradicionalmente conservadores nas eleições primárias — e a vantagem de que continua a gozar nas sondagens desses lugares, alguns dos quais na lista dos "swing states" que decidem o desfecho das presidenciais.
Há especialistas que acreditam que a campanha de Obama pode reverter a histórica ligação dos evangélicos ao Partido Republicano. Como disse ao "The New York Times" um consultor que trabalha com organizações religiosas conservadoras, o senador do Illinois pode mesmo sonhar em conquistar "até 40 por cento" do voto evangélico, o que seguramente representaria uma revolução dos padrões eleitorais norte-americanos.
A candidatura está atenta a todos estes sinais, e a actuar. Barack Obama anuncia hoje um plano de expansão das chamadas "Faith-Based Initiatives" tão queridas à Administração Bush. E segundo os seus assessores, o candidato democrata tem preparado um novo e ambicioso discurso sobre religião. Tudo a seguir atentamente.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Evangélicos
Posted by Rita Siza at 17:21
Labels: Barack Obama, Eleitorado, Religião, Tácticas de campanha
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