quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Os conservadores

A reunião de hoje da Conservative Political Action Conference foi surpreendente.
Primeiro, Mitt Romney, ovacionado à entrada, desistiu da sua candidatura presidencial, para o espanto, suspiro e desânimo geral da sala.
Depois, John McCain, agora o inevitável futuro nomeado, foi vaiado enquanto estendia o ramo de oliveira à plateia conservadora.
É difícil perceber o que se passa na cabeça dos republicanos nestes últimos dias. Tradicionalmente, este é o partido mais disciplinado da política americana, mas as tácticas eleitorais que fizeram George W. Bush chegar à presidência, e os oito anos seguintes da sua Administração, resultaram na actual fractura, divisão e contradição entre os republicanos.
Era assim que Allan Lichtman, um professor de História da American University e autor do livro "White Protestant Nation: The Rise of the American Conservative Movement" explicava ontem a reacção do partido perante o choque do "conservadorismo" de George W. Bush e a interpretação "reaganista" dos valores do partido, que vigorava desde a década de 80: "Os conservadores sempre defenderam a acção limitada do governo, a responsabilidade fiscal e os direitos dos estados. E George W. Bush montou o maior, mais gastador e mais intrusivo governo federal da história dos Estados Unidos. Os conservadores também sempre se oposeram à ideia da "engenharia social" por parte dos governos. Mas apoiaram o presidente no projecto de engenharia social mais caro e ambicioso de sempre: pacificar, reconstruir e democratizar o Iraque".
Esta campanha eleitoral é, portanto, o momento da reconstituição (reconstrução, redefinição, como preferirem) do partido -- um momento difícil, porque nenhum dos candidatos à nomeação é uma figura em que as diferentes facções se conseguem reconhecer. O "rebelde" John McCain é, para citar um amigo meu, um republicano heterodoxo. O alinhado Mitt Romney é, num abuso da expressão, um "born-again conservative". Mike Huckabee é um orador humorado e pitoresco mas no limite quase um fanático religioso e Ron Paul, o único outro candidato que ainda não abandonou a corrida, é na realidade um libertário.
No fim, o típico pragmatismo republicano deve ser suficiente para que o partido se junte em torno de John McCain. Mas essa será necessariamente uma unidade aparente, como fica claro nas opiniões dos pundits e outros apresentadores de talk-shows radiofónicos ou televisivos e que servem como porta-vozes do partido. Alguns, como Ann Coulter e Rush Limbaugh , estão mesmo a dizer o impensável: que será melhor que Hillary Clinton ou Barack Obama vençam as eleições, para que os republicanos tenham obrigatoriamente que produzir um candidato em que todos acreditem.

ps - e já agora, o discurso de Romney na CPAC foi visto como o prefácio da sua candidatura à presidência em 2012.

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