Confesso que às vezes me comovem os apoiantes de Ron Paul, o candidato libertário que é contra a guerra do Iraque e a favor da extinção de quase todos os departamentos do governo federal e que de cada vez que aparece em público é como se tivesse entornado no fato o pequeno-almoço, almoço e jantar (esta é uma observação original de um jornalista inglês meu amigo, mas que eu também já constatei). Os seguidores de Ron Paul estão por todo o lado e são muito diferentes de todas as outras pessoas que se envolvem nas campanhas: há neles uma genuína inocência e liberdade, uma dedicação à causa que chega a impressionar, e que é tão extraordinária quanto a sua consciência de que o seu candidato não tem a mínima viabilidade nesta corrida eleitoral. Conheci um no Iowa que recusou um novo emprego porque o ia impedir de prosseguir na campanha. "Até era um bom emprego", disse-me, "mas tenho a certeza que não era o único no mundo". Outro, no New Hampshire, tocava guitarra numa esquina e interrompia para distribuir edições liliputianas da Constituição, que a campanha lhe tinha dado e que ele trazia às dezenas nos bolsos. Era professor de música numa escola do Indiana e nunca se queixava da neve, do vento e do frio — eu passava por ele todos os dias no regresso ao hotel e no princípio até pensei que aquele sorriso era meio atolambado (percebi depois que não, era mesmo uma simpatia). E só por isso até estava a torcer para Ron Paul ganhar os caucus republicanos deste fim-de-semana no Maine, como ainda se chegou a pensar ser possível. Mas, decididamente, este mundo já não está para revoluções. Afinal, quem ganhou foi Mitt Romney.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
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