quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Acabou

"Acabou". Na área reservada aos jornalistas do Grant Park de Chicago — o nosso "curralzito", como nos habituamos a chamar a estes lugares durante a campanha — a emoção que dominou com o anúncio da vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008 foi o alívio. Acabaram os nervos dos check-ins à pressa nos aeroportos, a irritação dos voos cancelados, a sonolência das horas de espera, os incómodos da bagagem perdida. Acabaram as visitas aos strip-malls mais próximos de um qualquer hotel desconhecido para comprar mais um carregador de telemóvel, outra bateria. Acabaram as refeições de room-service, as sanduiches comidas à pressa, as barritas de cereais, os pacotes de batatas-fritas.

Acabaram as histórias meias-escritas, "para o caso de ser preciso", as análises com mais perguntas do que respostas, a colecção obsessiva de cartões de visita de pessoas a que se pode recorrer quando o deadline aperta; acabaram as dúvidas sobre se já escrevemos isto desta maneira, se já usamos este arranque, se fomos suficientemente claros, ou então demasiadamente vagos; acabaram as madrugadas passadas em frente ao computador a retocar mais um artigo, a televisão permanentemente ligada.
Acabaram as trocas de notas, e a comparação de notícias; as reportagens partilhadas, os olás nos filing centers, as conferências de imprensa e as outras conferências, nos think-tanks e nas universidades e nas bibliotecas e livrarias onde todos os dias se fala sobre a campanha.
Acabaram as sucessivas recusas dos jantares dos amigos, os postais de parabéns que não se mandaram, os livros que se acumularam para ler; acabou o completo desconhecimento dos filmes que estrearam no cinema.
Acabou. Amanhã acordamos e voltamos a escrever furiosamente tudo o que apontamos nos nossos blocos de espiral.  E a seguir regressamos todos à nossa vida "normal", um lugar onde não há campanha eleitoral e que não frequentamos há tanto tempo.
Milhares de pessoas do outro lado da barreira, à nossa frente, contorcem-se de felicidade, abraçam-se, saltam, gritam, choram. Nós olhamos para eles, e depois para nós próprios, e como eles sorrimos, cumprimentamo-nos, suspiramos. Repetimos "acabou, acabou", felizes por termos tido o privilégio de cobrir uma campanha histórica, gratos pelo nosso trabalho, satisfeitos por termos sobrevivido. E agora?

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom Trabalho :-) !

http://www.youtube.com/watch?v=kz_mwWjoGdE

Vitor Reis M disse...

agora que tudo termina venho deixar o meu testemunho de reconhecimento e gratidão pelo excepcional e modelar trabalho feito por todos vós neste espaço. Raramente vi antes um blogue com este sentido de actualidade e com esta riqueza. parabéns.

Anónimo disse...

Durante vários meses segui este blog via RSS, acho que hoje foi a 3ª ou 4ª vez que aqui vim, mas acho que li quase todos os posts.

Gostava de deixar aqui os meus Parabéns pela análise, pelos "Eavesdropping" e claro pelos links da imprensa norte-americana com artigos que jamais teria chegado a eles de outra forma.

A primeira vez que ouvi falar de Obama foi no Blog das Presidenciais de 2004, 4 anos depois é engraçado ler aqui a última nota com o seu nome.

Rita, fui um leitor assíduo, mas silencioso pelo que agora que "acabou" quero que saiba que o seu trabalho foi lido com atenção e com muito gosto.

Obrigado

Ricardo

Unknown disse...

Parabéns a toda a equipa e em particular a si, Rita! Obrigado pelo vosso esforço e pela perspectiva colorida e multifacetada que nos deram. Em várias passagens, através do vosso bloque sentimo-nos mesmo lá e descobrimos uma realidade diferente... Foi histórico, continuará a ser histórico? Pelo menos, pela onda de esperança que varreu a humanidade e passou pelo nosso globo, meridiano após meridiano, já valeu a pena!
Continuação de um bom trabalho! Obrigado!
A esperança é que nos move...