sexta-feira, 29 de agosto de 2008

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As minhas desculpas aos leitores, mas são duas horas da manhã em Denver e a minha resistência não dá para mais. Aqui fica o texto que, dentro de minutos, estará também disponível no website do PÚBLICO, sobre a noite de Barack Obama no Invesco Field:

"América, não podemos voltar atrás"

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, um homem negro pode ser eleito Presidente, mas quando o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, ontem gritou bem alto que “a América não pode voltar para trás” não falou em raça mas sim “nas crianças que é preciso educar, os veteranos que devem ser tratados; a economia que há que concertar, as cidades que reconstruir e as quintas que salvar; as famílias que têm ser protegidas e as vidas que podem ser remendadas”.
O senador do Illinois aceitou a nomeação presidencial do seu partido no mesmo dia em que se comemorava o 45º aniversário da marcha pelos direitos cívicos sobre Washington, que Martin Luther King encabeçou e culminou num dos discursos mais célebres da história americana. Obama recuperou as palavras do reverendo, mas não para dizer que tinha um sonho. “Não podemos marchar sozinhos. E enquanto marchamos, temos de prometer que o faremos sempre em frente. Não podemos voltar para trás”, repetiu.
Essa foi a mensagem que o candidato democrata deixou à multidão que participou (em delírio) na última noite da Convenção Nacional Democrata, na cidade de Denver: nos momentos decisivos, na encruzilhada da história, só há um caminho, a mudança. E para mudar é preciso ter esperança, sonhar e acreditar. “América, este não é o tempo para fazer pequenos planos”, sublinhou.
Na noite da consagração, Barack Obama deixou para trás, completamente esquecidos, os outros dias da Convenção, gastos com notícias sobre o ressentimento dos Clinton, a desilusão dos seus apoiantes e a divisão do partido. Numa penada, reconheceu as figuras do partido que fizeram a história dos quatro dias de assembleia democrata: nomeou Bill e Hillary, e também Ted Kennedy e o candidato a vice-presidente Joe Biden. Mas podia também ter falado nos senadores John Kerry e Evan Bayh, nos governadores Brian Schweitzer e Mark Warner. Ou em Bill Richardson e Al Gore, que ontem foram agraciados com duas enormes ovações no Invesco Field.
Mas o momento pertencia-lhe em absoluto. Barack Obama dominava o Partido Democrata. “Depois desta noite, não fica a mínima dúvida a quem pertenceu esta Convenção”, comentou ao PÚBLICO Herb Hedden, um delegado do Ohio. “De certa maneira, os outros dias foram um crescendo que permitiu chegar a este auge. Tivemos uma sucessão de excelentes discursos que abordaram diferentes aspectos e que em conjunto definiram uma nova narrativa. E depois Obama veio aqui e fez o resumo perfeito”, considerou.
Não foi um discurso brilhante, como aquele com que se apresentou à América na Convenção Democrata de 2004 ou aquele outro com que definiu o curso desta campanha eleitoral, logo no princípio das primárias, no Iowa. Foi um discurso muito bom: agressivo, substantivo e concreto — até ao mínimo detalhe. “Deixem-me explicar exactamente em que a mudança consistirá se eu for eleito Presidente dos Estados Unidos”, disse.
Nos impostos, energia, educação ou saúde, indicou as suas propostas específicas, estabelecendo metas quantitativas (cortes fiscais para 95 por cento das famílias, 150 mil milhões de dólares de investimento em energias renováveis…) e anunciando como pretende pagá-las “até ao último cêntimo”.
Na segurança e política externa, explicou qual a sua linha de rumo: “Nunca hesitar em defender a nação mas só enviar as tropas para o teatro de guerra com uma missão clara e o equipamento que elas necessitam”.
“Vou acabar com a guerra do Iraque responsavelmente e acabar a luta contra a Al-Qaeda e os taliban no Afeganistão. Vou reconstruir o nosso exército para enfrentar os conflitos futuros. Mas também vou renovar a diplomacia directa e dura para evitar que o Irão obtenha armas nucleares e confinar a agressão da Rússia”, prometeu.
Exaustivamente, ofereceu razões para o falhanço do Partido Republicano e para a promessa da alternativa democrata. Mais de vinte vezes, nomeou o seu adversário John McCain — uma estratégia de ataque e também de defesa, já que aproveitou cada um dos golpes desferidos pelo rival republicano para os voltar contra ele.
Para as mais de 80 mil pessoas que encheram o estádio de futebol dos “Denver Broncos”, e os “democratas e republicanos e independentes” que assistiam pela televisão, Obama tinha uma mensagem clara e bastou uma palavra para a conter: “Chega!”. “Nós somos melhores do que estes últimos oito anos”, concluiu.
“Eu achei que o discurso foi óptimo. Achei que ele foi específico, organizado, e que esteve correcto em tudo o que disse e em todas as respostas que ofereceu para os problemas. Mas eu acho que todos os discursos dele são bons”, ressalvou Cheryl Barret, uma voluntária da campanha que alimenta a esperança de ver Obama presidente desde que o ouviu falar na Convenção de 2004. Depois do senador do Illinois se ter apresentado nas primárias, Cheryl aproveitou o facto de ser professora substituta e ter contratos temporários e intermitentes para se envolver na campanha. “Estive no Iowa, New Hampshire, no Oregon… dez dias aqui, dez dias ali”, recorda.
De muitos desses lugares vieram alguns dos oradores da noite, pessoas comuns com histórias simples que pretendiam ilustrar as consequências dos fracassos da actual Administração Bush (que foram sendo repetidos e repetidos nos quatro dias de trabalhos) nas suas vidas e as razões para o seu appoio a Barack Obama.
Do Michigan, um camionista responsável por fazer chegar os automóveis que saem da linha de produção aos concessionários e que assiste horrorizado à deslocalização de postos de trabalho e ao encerramento de unidades fabris. Do Ohio, uma mulher que recebeu um email com boatos sobre Barack Obama e decidiu investigar se eram verdade. “Estou grata a quem quer que seja que me tentou assustar, porque foi isso que me trouxe aqui”, disse.
Na plateia, Lisa Elliot sabia exactamente ao que se referia. “A minha mãe acredita em todas essas mentiras; para ela Barack Obama é um terrorista. Eu sei que ela está em casa a ver o discurso, e mal posso esperar por amanhã para saber o que ela pensa agora. Ele apelou ao melhor dos americanos e falou de tudo o que é o melhor da América. Foi inspirador”, observou.
Pelo palco passou também Jenna, uma pequena comerciante da Florida, que foi contar que já não consegue sobreviver só com o rendimento do seu salão de beleza para animais de estimação: “Tive de arranjar um segundo emprego”. Pam, uma enfermeira republicana da Carolina do Norte, que votou “por Nixon, Reagan, Bush e Bush” explicou que escolheu Obama porque depois de gastar todas as suas poupanças para pagar facturas médicas, não tem dinheiro “para mais quatro anos de políticas erradas”.
E do Indiana apareceu um pitoresco Barney Smith, que também confessou ter mudado a sua afiliação partidária dos republicanos para os democratas. “Precisamos de um Presidente que ponha o Barney Smith antes do Smith Barney”, bradou, num trocadilho com o nome do banco de investimento.

1 comentário:

Kokas disse...

Bom trabalho rita! Mas acho que faltam aí umas passagens importantes do discurso. Nomeadamente no que diz respeito à política externa e à expressão que ele utilizou e que faz toda a diferença face ao discurso republicano :"PARCERIAS"!

Bom trabalho!