Antes de vir embora do Texas, passei por Crawford, uma pequena localidade que nem tem 800 habitantes mas que é internacionalmente conhecida como a morada da "Casa Branca do Oeste" por causa do rancho de George W. Bush. O dia estava bastante feio, com chuva e vento, e as ruas completamente desertas. A cidade percorre-se em dez minutos: como a maior parte das cidades americanas, é uma sucessão de quarteirões perfeitamente quadriculados -- é nos cruzamentos que se posicionam os correios, os bombeiros, as igrejas, o pavilhão gimnodesportivo, a estação de gasolina. No miolo, há moradias e mais distantes, com discretas entradas a meio da estrada, ficam os ranchos. A combinação de paisagem e povoação não é bonita nem feia; o lugar é simplesmente indistinto, incaracterístico e desinteressante.
Uma loja de "souvenirs" exibia um gigantesco letreiro na porta — "Yes, we're Open" [Sim, estamos abertos] — que parecia ter sido desenhado de propósito para desmentir uma notícia recente do The Washington Post, que falava na falência do comércio de Crawford nesta fase de ocaso da Administração Bush.
Ao meio dia, o movimento concentrava-se na "Coffee Station" da bomba de gasolina, uma espécie de armazém que está dividido em mini-mercado e restaurante e onde é possível comprovar o ditado que diz que "tudo é maior no Texas" a cada prato que sai da cozinha. Melanie, de 18 anos, pisca os olhos quando, denunciada pelo meu sotaque, explico que venho de Portugal. "Wow!", responde, impressionada -- por esta altura, já todos os comensais estavam envolvidos na conversa, falando da política e do seu político preferido, George W. Bush, claro, que aliás está representado em dois retratos de tamanho natural, recortados em papelão e disponíveis para quem quiser fazer-se fotografar ao lado do Presidente.
"Ele é o tipo mais simples e simpático do mundo. Nunca deixa de nos cumprimentar e responder às nossas perguntas", conta Donald, um agricultor de milho e aveia, que vende para destilarias. Se foi um bom Presidente? "Acredito que ele faz o melhor que pode. E se formos a ver, os Presidentes nem têm assim tanto poder, tudo o que eles querem fazer tem de passar pelo Congresso de qualquer maneira... Mas sim, se pudesse, voltaria a votar nele", informa.
Donald nunca votou por alguém que não fosse indicado pelo Partido Republicano, e "provavelmente" votará por John McCain em Novembro, sem esconder contudo que o faz contrariado. "Não posso dizer que goste dele, não gosto. Ele é um arrogante. Mas enfim, nunca votaria por um democrata", explica. "Nunca por uma mulher e menos ainda por um negro", acrescenta Darley, que trabalha para a companhia eléctrica local e que também se desfaz em elogios de Bush. "A imprensa é que gosta de o ridicularizar, estão sempre a dizer que ele é um tonto, que não sabe falar. Pois eu digo-lhe: ele fala muito bem, ele fala da maneira que é precisa para nós o compreendermos. E se a gasolina está quase a quatro dólares, não é culpa dele", observa.
Garry, um produtor de gado para rodeos, é o único que torce ligeiramente o nariz a Bush. "Ele foi muito bom depois do 11 de Setembro, e conseguiu que o nosso país nunca mais fosse atacado. Isso para mim é o mais importante. E é por isso que lhe desculpo algumas coisas, porque a verdade é que a vida piorou nos últimos anos...", admite. A segurança nacional é a única razão porque vai votar em John McCain. "Pelo menos ele está a prometer que vai continuar a lutar contra os terroristas", diz. De resto, o candidato republicano não o entusiasma. "É muito imprevisível. Ninguém no partido gosta dele. E além disso é muito velho", continua. "E a mulher dele, toda repuxada?", interrompe Garry. "Já alguma vez viu a senhora Bush?", pergunta. "Ela sim, é uma beleza".
sábado, 8 de março de 2008
McCain pouco popular na "Bushlândia"
Posted by Rita Siza at 19:14
Labels: John McCain
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